Xi Jinping posiciona-se para longa marcha de poder na China

por Carlos Santos Neves - RTP
A cúpula do regime chinês quebrou uma tradição, ao não indicar qualquer nome par a sucessão do Presidente Xi Jinping Jason Lee - Reuters

Xi Jinping recebeu nas últimas horas o carimbo do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) para mais um mandato de cinco anos ao leme do colosso asiático. Com uma quebra de tradição que abre a perspetiva de uma Presidência sem sombras ou fim à vista: entre os nomes do Comité Permanente do Politburo, dos quais cinco são novos, não há um sucessor claro.

Cumpriu-se a tradição do cerimonial. Quebrou-se a tradicional indicação de um delfim. De gravata vermelha, Xi Jinping surgiu esta quarta-feira diante da imprensa, rodeado dos demais seis membros do Comité Permanente do Politburo, para assumir novo mandato de cinco anos na Presidência. Também para colocar uma pedra sobre os trabalhos do congresso quinquenal do PCC, que terminaram na véspera.

Numa intervenção transmitida em direto pelas televisões, Xi assumiu a reeleição “não apenas como uma aprovação do trabalho, mas também como um encorajamento” para “seguir em frente”. E seguir em frente, para o reeleito secretário-geral do Partido Comunista da China, hoje com 64 anos, pode ser sinónimo de poder vitalício.
Xi Jinping ascendeu à Presidência no final de 2012. Desde então chamou a si o domínio sobre o partido, as colossais estruturas do Estado e as Forças Armadas.

Outro sinal desta vontade: Xi Jinping tornou-se, neste XIX Congresso, o segundo líder - depois do tutelar Mao Tsé-tung - a ver o nome e o “pensamento” inscritos nos estatutos do Partido Comunista da China.

Desta feita, o novo Comité Permanente é composto em exclusivo por sexagenários, além do Presidente: Li Keqiang, de 62 anos, primeiro-ministro desde 2013, Li Zhanshu, de 67 anos, número um do Parlamento chinês, Wan Yang, de 62, vice-primeiro-ministro, Wang Huning, de 62, diretor do gabinete de pesquisa política, Zhao Leji, de 60, chefe da agência contra a corrupção, e Han Zheng, de 63 anos, chefe do PCC em Xangai.

O alcance da ambição do Presidente ficara já desenhado, de resto, na abertura da reunião magna, quando Xi Jinping inaugurou os trabalhos com a promessa de “uma nova era do socialismo à chinesa”, sem abdicar de “defender a autoridade do partido e do sistema socialista”. O horizonte oficial, esse, estende-se até 2050.
“Estrada sem fim”

Nos últimos cinco anos, Xi Jinping quis proclamar como prioridade das prioridades o combate à corrupção no país. Ao todo terão sido penalizadas, de alguma forma, 1,5 milhões de pessoas. Os detratores do Presidente veem nesta “guerra” uma purga dissimulada que terá permitido afastar potenciais rivais.

João Botas, Cristina Gomes - RTP (24 de outubro de 2017)

Jinping tratou de reiterar, esta quarta-feira, que esta é uma política equivalente a “uma estrada sem fim”, instando mesmo os quadros do PCC “a desembaraçarem-se deste vírus que destrói o tecido do partido”.

Xi Jinping deverá ser formalmente eleito para a Presidência, na sequência da reeleição para a liderança do PCC, em março, na sessão anual do Parlamento. É previsível que o seu braço-direito Li Keqiang permaneça no cargo de primeiro-ministro.
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