- O líder do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Xanana Gusmão, disse hoje que se o partido vencer as legislativas de domingo e formar Governo vai avançar com uma auditoria aos gastos do atual executivo.
"Claro que não se pode evitar (...) uma comparação dos 10 anos do CNRT e destes últimos seis anos. O povo também compreende e sabe que em 10 anos o CNRT gastou dez mil milhões e nestes últimos seis anos já [gastaram] mais de 11 mil milhões sem haver nada", afirmou.
Xanana Gusmão chegou ao comício de Tasi Tolu acompanhado da cúpula dirigente do CNRT e ainda de Kay Olo Gusmão, o segundo filho do casamento com Kirsty Sword-Gusmão e que no passado recente tem acompanhado o pai em várias ações de campanha.
À sua espera estavam vários chefes tradicionais timorenses, que lhe deram as boas vindas a um comício onde se misturaram essas referências ao passado com cantores pop timorenses e até um grupo de alegados apoiantes da Fretilin que se apresentaram no local para `trocar` de filiação partidária.
Aspeto que, referiu, o leva a estar confiante numa vitória ampla nas eleições.
"Muito confiante. Mais confiante ainda porque elementos de outros partidos se juntam a nós, não porque lhes damos alguma coisa, mas pela consciência de que os seus partidos ou a lideranças dos seus partidos não estão a fazer nada", disse à Lusa.
"Como está a ver, estão ali em baixo: são pessoas de outros partidos vêm declarar [que] `já não confiamos no partido, porque o partido não tem programa, já não confiamos nas lideranças desses partidos porque não têm programa, não vemos nada`", afirmou.
O líder histórico timorense, que já foi Presidente e primeiro-ministro e quer assumir novamente a chefia do Governo, vincou a importância do voto, considerando que "vai provocar a necessária mudança da situação que foi piorando ao longo destes últimos anos", recuperando o que diz ser "uma situação de respeito ao Estado de Direito democrático".
Questionado sobre as prioridades, e além da auditoria, Xanana Gusmão disse que é "claríssimo como água" que vai trocar toda a equipa que atualmente lidera o setor do petróleo no país, leia-se a petrolífera Timor GAP e o regulador, a Autoridade Nacional de Petróleo e Minerais (ANPM), e mexer em várias leis entretanto aprovadas.
"Como primeira prioridade, para já, para já, porque teremos uma maioria no parlamento, corrigir todo o sistema que se montou ali e que violava o regimento e a Constituição", disse.
"Quanto ao Governo, todas as leis que minimizavam o sistema que estabelecemos a partir de 2010, até ao fim, e que foi muito apreciado por organizações internacionais e que nos serviu para ajudar países frágeis a entender o processo de construção do Estado, isso tem de haver já uma mudança", afirmou.
Aglomerações de apoiantes do CNRT viram-se, durante a manhã, em vários pontos de Díli e, ainda antes do meio-dia, já estavam centenas de pessoas, em carros, motas e camionetas, a caminho de Tasi Tolu.
Este foi, claramente, o maior de todos os comícios realizados em Tasi Tolu, com mais apoiantes no local do que o segundo de grande dimensão, o da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que decorreu na terça-feira.
Durante mais de três horas continuaram a chegar, `inundando` o recinto onde o papa João Paulo II celebrou missa, em outubro de 1989, e onde se restaurou a independência, em 20 de maio de 2002.
Um `mar` de azul, verde e branco, as três cores que dominam a bandeira do CNRT, ao lado das três lagoas que dão nome ao espaço e onde, duas horas depois de o comício começar ainda havia centenas de carros a tentar chegar.
Presentes, a dominar, muitas bandeiras do CNRT, mas também de outros partidos, como o ainda por registar Patifor, o Partido Social Democrata (PSD) e a Frente Mudança (FM) que não concorrem este ano.
Entre o público estavam até bandeiras do Centro Ação Social Democrata Timorense (CASDT), um dos 17 partidos candidatos no domingo, com o seu secretário-geral, Gally Araújo, na tribuna de honra.
Presentes também várias bandeiras do grupo de artes rituais 77, organização de qual uma grande fatia de membros integra o estreante Partido Os Verdes de Timor (PVT), mas cujos elementos apoiam outras forças, como o CNRT e a Fretilin.
A campanha termina hoje, seguindo-se dois dias de reflexão, durante os quais os eleitores aproveitam para se deslocar para os municípios onde vão votar no domingo.