O antigo presidente de Timor-Leste Xanana Gusmão enalteceu hoje o papel do arcebispo sul-africano Desmond Tutu, que faleceu no domingo aos 90 anos, na libertação do povo timorense, com um apelo feito em 1999.
Numa carta dirigida à viúva de Desmond Tutu, datada de terça-feira, na qual apresenta as condolências à família do líder religioso da África do Sul, Xanana Gusmão afirma que Desmond Tutu "interessou-se, particularmente, por Timor-Leste e foi um poderoso defensor da paz e da reconciliação" no país.
"Em 1999, apelou publicamente à minha libertação do encarceramento em Jacarta [na Indonésia], e à retirada dos militares indonésios de Timor-Leste e ao fim da violência", acrescenta.
O líder timorense, que agora preside ao Conselho para a Delimitação Definitiva das Fronteiras Marítimas do seu país, destaca ainda "o importante" facto de, após o povo de Timor-Leste "ter alcançado a libertação e a autodeterminação", ter sido Desmond Tutu quem escreveu o prefácio do resumo do relatório da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação de Timor-Leste.
"O Arcebispo Tutu escreveu que era um relatório extraordinário sobre um capítulo extraordinário da história das lutas de liberdade do mundo, após 24 anos de ocupação estrangeira, o Arcebispo Tutu pregou o perdão e a reconciliação, para permitir que o nosso povo saísse do conflito com esperança no futuro", sublinha Xanana Gusmão.
Para o antigo chefe de Estado timorense, o arcebispo foi, aliás, "um campeão global da paz, reconciliação e justiça", que "lutou com grande coragem contra um regime que oprimia o seu povo, enquanto pregava por uma luta pacífica".
"Foi um gigante na luta contra o apartheid e desempenhou um papel central no seu desaparecimento", acrescentou.
Já depois de a África do Sul se tornar livre daquele regime "continuou a lutar pela dignidade do seu povo, pela reconciliação no seu país e pela igualdade e tolerância", sublinhou.
Assim, conclui Xanana Gusmão: "o Arcebispo Tutu foi muito amado e admirado. A sua morte é uma grande perda (...)".
Xanana Gusmão termina a carta dizendo que oferece as suas "orações e solidariedade ao recordar a vida do Arcebispo Tutu e a sua contribuição para a África do Sul e para a tolerância, paz e reconciliação em todo o mundo".
A Presidência sul-africana anunciou na terça-feira que as cerimónias fúnebres do arcebispo emérito Desmond Tutu, que decorrerão em 01 de janeiro, na Catedral Anglicana de São Jorge, na Cidade do Cabo, terão honras de um funeral de Estado.
Prémio Nobel da Paz em 1984 pela sua luta contra a brutal opressão do `apartheid`, Desmond Tutu é considerado uma das figuras-chave da história contemporânea da África do Sul.
A sua carreira foi marcada por uma constante defesa dos direitos humanos, algo que o levou a distanciar-se em numerosas ocasiões da hierarquia eclesiástica para defender abertamente posições como os direitos dos homossexuais ou a eutanásia.
Nos últimos anos, afastou-se da vida pública devido à sua idade avançada e aos problemas de saúde de que sofria, incluindo um cancro da próstata.
Após o fim do `apartheid` em 1994, quando a África do Sul se tornou uma democracia, Tutu presidiu à Comissão Verdade e Reconciliação, instituição que documentou as atrocidades durante o regime de segregação racial e procurou promover a reconciliação nacional.
Tutu ganhou ainda enorme visibilidade enquanto um dos líderes religiosos mais proeminentes do mundo na defesa dos direitos LGBTQ (Lésbicas, `Gays`, Bissexuais, Transsexuais e `Queer`).