Em 1989, a World Wide Web deu o impulso necessário para a Internet, tal como hoje a conhecemos. Agora, é o próprio fundador da web, Tim Berners-Lee, a denunciar que existe o risco da Internet perder um dos grandes pilares: ser uma web aberta, acessível a todos e livre.
Recentemente, este físico britânico veio mesmo a público mostrar a sua preocupação com os caminhos inseguros a que a Web está sujeita. As novas aplicações geram novos desafios para que se navegue sem problemas e sem surpresas para os utilizadores de internet.
Em 1980 terá surgido o “início de tudo” no que respeita ao projeto WWW (World Wide Web), quando Tim Berners-Lee concebeu o ENQUIRE no CERN - Organização Europeia para a Investigação Nuclear - na Suiça.
A ideia parecia simples: fazer a troca de informação entre colegas no próprio CERN de forma a proporcionar a partilha de documentos e de pesquisas. Na verdade, esse projeto deu os seus passos e, mais tarde, em 1989, veio a ser projetado e divulgado por Tim Berners para o mundo através da WWW.
Naquela que é a mais pura definição, a WWW consiste num sistema de documentos em hipermédia que estão interligados e executados na Internet. O sistema permite, assim, a partilha de documentos entre computadores ligados entre si, seja na forma de vídeos, sons, hipertextos e figuras.
Na verdade, muitos confundem a ideia de Web com a de Internet. No entanto, a Internet decorre de uma iniciativa, em meados do século XX, de militares norte-americanos que procuravam uma forma de ligar os computadores uns aos outros.
Depois de muitos estudos neste campo, surgiu em 1969 a Arpanet, o momento em que, de facto, se considera o início da Internet. A Web é posterior e veio preencher a necessidade de partilha de ficheiros através do computador, nomeadamente através do conceito de hipertexto.
A ideia que veio revolucionar a comunicação em rede e a vida de milhares de pessoas em todo o mundo, a World Wide Web, foi, na verdade, a solução encontrada pelo cientista Tim Berners-Lee para criar acesso a um arquivo comum através de computadores.
A ideia não foi inicialmente bem sucedida e só quando o cientista criou uma lista telefónica dos trabalhadores do laboratório CERN, acessível a todos através de um índice online, é que o projeto foi melhor aceite.
Pouco tempo depois, a World Wide Web estava a ser utilizada pelos estudantes universitários com partilha de pesquisas e trabalhos académicos. E só no ano de 1993, é que a web foi disponibilizada para uso geral.
Considera-se, por isso, que World Wide Web surgiu em 1989, sendo um integrador de informações baseado no hipertexto, que permite a interligação entre diferentes documentos, localizados em diferentes servidores, em diversas partes do mundo.
Nesta altura, surgiram novos termos na linguagem informática, como por exemplo, nessa troca de informação surge outro “nome de guerra” mais conhecido na Internet e que passa pelo conceito de codificação do hipertexto com a linguagem HTML, sendo essa codificação baseada no protocolo http.
Depois da partilha de informação e dos códigos utilizados, falta ainda falar do papel que coube aos programas informáticos, neste caso, mais conhecidos como navegadores: a informação existente passou a ser partilhada nos “sítios” e estar visível para quem utiliza a Internet, através de hiperligações, o que permite uma interação de receção e envio de documentos apelidada mundialmente por "navegar" ou "surfar" na web. Dessa forma, assim começou a divulgação deste sistema de documentos que estão interligados e executados na Internet.
Os caminhos da web
Na última década do útimo século, navegar na internet significava ainda entrar num mundo totalmente diferente, mas rapidamente se passou a uma sociedade XXI hiper-dependente desta tecnologia. Afinal, é uma realidade a que crianças e jovens dos nossos dias, e também os adultos, “não desligam” e não concebem viver sem ela. isso mesmo se aplica às empresas e economias mundiais atuais.
Para se ter uma ideia, em pouco mais de duas décadas muito se alterou. Apenas em 1990 é que o primeiro servidor web e website da rede passaram a estar online, no próprio computador NeXT de Tim Berners-Lee. Só no ano seguinte, é que o sistema WWW chegou ao público, muito por culpa do Nexus, através da divulgação de grupos de notícias da Internet. Ainda em 1991, Linus Torvalds cria o Linux, que, eventualmente, se tornaria o sistema operacional padrão da maioria dos servidores web em todo o mundo.
A partir desse momento, foi dar azo à imaginação e usar a tecnologia web da melhor forma. Sugiram outros navegadores como o Mosaic para Windows e Macintosh. Com o desenvolvimento dos sistemas operacionais populares, o Mosaic levou o acesso da web para aqueles que viviam fora da área de ciência da computação. Com o empenho de Marc Andreessen, o Mosaic deu origem a outro navegador, o Mosaic Netscape, mais tarde conhecido como Netscape Navigator, tendo este último sido o navegador principal de mais de 90% dos utilizadores da época.
Em 1994, a web ganha novo impulso com a adesão em massa de pessoas, governos e empresas. A Beverly Hills Internet (BHI) iniciou o Geocities, o que permitiu que os utilizadores executassem os seus próprios sites. Por sua vez, a Casa Branca lançou o “www.whitehouse.gov”. No entanto, inesperadamente, ocorreu um episódio muito falado na época, pois muitos digitavam o endereço com a terminação “.com” e davam de caras com um site pornográfico.
Por essa altura, também a China adere à Internet mas filtrando a informação disponível online. Assiste-se ainda à chegada da livraria web, a Amazon, e ainda ao “Yahoo!”. WebCrawler foi o nome dado ao primeiro motor de busca da web, embora ainda limitado.
Em 1995, a Microsoft lança o Internet Explorer. Estávamos perante a “guerra de navegadores” e assistia-se a um xeque–mate ao Netscape e à ascensão do sistema operacional da empresa, o Windows. Passados três anos, a Netscape contra-atacou com o navegador Mozilla, mais tarde o Mozilla Firefox. Larry Page e Sergey Brin fundam a Google. Em 1999, foi lançado o Blogger, a aposta virada para os blogs e nasceu igualmente o serviço de transações online PayPal. Com o século XXI, o PayPal vingou nos leilões do eBay atingindo uma percentagem de sucesso em cerca de 70% de todos os leilões do site.
De assinalar o nascimento da Wikipedia em 2001, tida como a maior enciclopédia online, a chegada do Friendster em 2002, uma das primeiras redes sociais. Em 2003, a Apple lança a loja de música iTunes, Matt Mullenweg e Mike Little lançaram o WordPress, e surgiram os tão mundialmente falados Second Life e o Skype. Entre os anos de 2004 e 2006, período que muitos dizem ser o de uma nova web, pudemos utilizar o Flickr, o início de uma etapa apelidada de web 2.0. Altura ainda para um sucesso de anos, uma vez que surge o "TheFacebook.com", a rede social para estudantes de Harvard, atualmente conhecida pelo mundo como Facebook.
Nessa onda de mudanças, e na referida guerra dos navegadores, o Firefox 1.0 apodera-se do espaço conquistado pelo Internet Explorer. Em 2005, o termo “web 2.0″ começa a ser usado para descrever a mudança na direção do conteúdo da web. Antes, o sentido sempre partia dos sites para os utilizadores e agora é gerado pelos utilizadores para os sites. É assim que surge e vinga o site de partilha de vídeos, o YouTube.
A Internet ganha novo impulso e abrange bilhões de clentes. É neste mesmo ano de 2006 que surge o Twitter, dando outra dimensão à web móvel, com a Apple, e o seu iPhone, a apostar neste segmento de mercado. Pouco tempo depois, o Facebook torna-se moda pois permite que qualquer pessoa use um endereço de e-mail válido e possa criar uma conta e entrar na rede.
A partir de 2007 assiste-se definitivamente à era da Internet móvel
O lançamento do iPhone veio redimensionar e aproximar ainda mais a Internet das pessoas, pois surgem milhões de smartphones e tablets com o iOS e o Android (Google) a merecerem as preferências dos consumidores. Um ano depois, em 2008 temos a chegada do HTML5 e a moeda virtual dá os primeiros passos com o Bitcoin da autoria do apelidado “Satoshi Nakamoto”.
A Apple lança a loja App Store e inicia o sucesso dos apps mobile, enquanto a Google inova com um trilhão de URLs únicas, ao mesmo tempo que lança o navegador Google Chrome. Recentemente, em 2012, a rede social Facebook, já com um bilhão de clientes, compra o Instagram. Literalmente, pelo espaço, a Nasa regista no aplicativo Foursquare a localização do robô Curiosity no planeta Marte.
Por esta altura surge o debate lançado com o "Stop Online Piracy Act" (Lei de Combate à Pirataria Online), vulgarmenteb conhecido como SOPA, um projeto de lei da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos de autoria do representante Lamar Smith e que visava ampliar os meios legais para que detentores de direitos de autor pudessem combater o tráfego online de propriedade protegida e de artigos falsificados.
Segundo os autores da iniciativa a Lei SOPA protege o mercado de propriedade intelectual e gera receitas e empregos. Por outro lado, os opositores contestam com alegadas violações à Primeira Emenda, consideram-na uma forma de censura que prejudica a liberdade de expressão.
Já em 2013 cai a Silk Road, também conhecido como o "ebay de drogas". A maioria dos produtos vendidos no Silk Road são qualificados como contrabando na maioria das jurisdições e com muitos negócios sediados no Reino Unido e nos Estados Unidos oferecendo produtos como a heroína, LSD, maconha e outras drogas. Os programas de vigilância da Agência de Segurança norte-americana (NSA) são fundamentais para acabar com a "Rota da Seda" e prender as pessoas envolvidas.
Também neste ano de 2013 rebenta o escãndalo com as divulgações feitas por Edward Snowden sobre programas de vigilância em massa da NSA. Edward Snowden, o ex-funcionário da CIA, tornou públicas várias informações confidenciais a dar conta de que a NSA - Agência Nacional de Segurança - estava a gravar telefonemas de milhões de americanos.
As preocupações de Tim Berners-Lee
Passado mais de um quarto de século em que Tim Berners-Lee revolucionou a comunicação em rede e a vida de milhões de pessoas, estima-se que – dados de 2013 - 40% da população mundial tenha acesso à Internet.
Subsistem, no entanto, dúvidas sobre o que o futuro nos reserva. O próprio fundador da web denuncia que existe o risco da Internet perder um dos grandes pilares que tem sido uma mais-valia. Berners-Lee vê riscos de se perder uma web aberta, acessível a todos e livre.
Berners-Lee propõe que haja limites para empresas e governos na gestão da grande rede e deixa mesmo algumas questões para reflexão: “Como tornar a Internet mais segura para proteger as nossas informações? Como ela pode melhorar a educação, o comércio e o entretenimento? Como criar uma web que seja acessível para todos?
Sabe-se que a web veio realmente impulsionar a Internet, mas agora o criador da World Wide Web está mesmo preocupado com liberdade disponível no mundo das novas tecnologias. O cientista britânico chama a atenção para o facto de a liberdade na Internet estar sob ameaça por governos e empresas interessadas em controlar a web.
Com mais de 25 anos de web, o debate está focado na polémica sobre a quebra de privacidade na rede mundial de computadores. Tim Berners-Lee pede agora uma declaração de direitos que garanta a independência da Internet e a privacidade dos utilizadores. E não se fica por aqui, comparando e exigindo que se reconheça a Internet como um direito humano básico.
Sinal dos tempos é também o facto de a World Wide Web ter como língua dominante o chinês e só depois a língua inglesa. Em Portugal, apenas na última década se registou o salto na utilização da Internet com cerca de 1/4 de utilizadores em toda a população, números ainda inferiores ao da média europeia.
"A Internet das coisas"
O jornalista António Granado e professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas fala sobre o futuro que engloba a internet das coisas onde os aparelhos domésticos podem ter um endereço de internet.
Soube-se em março de 2015 que o acesso à internet fixa cresceu 10,4% em 2014, segundo dados da ANACOM, Autoridade Nacional de Comunicações. Na prática, os números representam o maior aumento desde 2005 e atingiram os 2,83 milhões de acessos.
Em entrevista ao The Guardian em 2014, Berners-Lee sugeriu mesmo a criação de uma Magna Carta para a Internet. Ou seja, um documento para limitar os poderes das companhias a fim de evitar um "poder absoluto" e dar mais direitos aos clientes.
"A não ser que tenhamos uma Internet aberta que possamos confiar sem nos preocuparmos com o que está a acontecer atrás das cortinas, não poderemos ter governos abertos, boa democracia, comunidades conetadas e diversidade de cultura, sublinha o físico. Não é inocência pensar que podemos ter isso, mas é pensar que podemos somente esperar acontecer", referiu na ocasião Tim Berners-Lee.
Precisamente por não acreditar que as mudanças ocorrem de uma hora para a outra é que Berners-Lee criou o projeto "The web we want" (webwewant.org). Ou seja, "A Internet que queremos" convida pessoas a tomarem partido nesta luta. Na ocasião dos 25 anos da web, foi criado ainda o site "Web at 25″ (webat25.org) que serve como um marco nessa luta.
O cientista publicou ainda uma mensagem vídeo nesse site, onde conta um pouco da sua trajetória e questiona alguns pontos importantes do futuro da grande rede. Efetuando críticas à espionagem e grande crítico dos problemas de invasão de privacidade e espionagem, especialmente com Estados Unidos e Inglaterra como principais "vilões", Berners-Lee acredita que estes casos tiveram um lado bom. Segundo ele, foi o rastilho para muita gente começar a pensar nos seus direitos na rede.
Edição de video de Pedro A. Pina e Nuno Patrício com grafismo de Sara Piteira