Retrato de menino palestiniano mutilado em Gaza vence prémio da World Press Photo
O retrato de um menino palestiniano de nove anos que perdeu ambos os braços num ataque israelita na Faixa de Gaza venceu o prémio de Fotografia do Ano do concurso World Press Photo. A fotografia vencedora foi captada pela fotógrafa palestiniana Samar Abu Elouf, para o jornal norte-americano The New York Times.
Mahmoud Ajjour perdeu ambos os braços quando a sua família fugia de um ataque israelita, em março de 2024. "Mahmoud voltou-se para trás para incitar os outros a avançar. Uma explosão cortou-lhe um dos braços e mutilou o outro”, explica a organização do prémio.
Na cerimónia da entrega de prémios, que decorreu esta quinta-feira em Amesterdão, Samar Abu Elouf disse que “trabalhar neste projeto foi uma experiência única, mas dolorosa"."As crianças palestinianas pagaram um preço elevado pelos horrores que viveram. Mahmoud é uma dessas crianças", acrescentou o fotojornalista.
“Uma das coisas mais difíceis que a mãe de Mahmoud me explicou foi que, quando Mahmoud percebeu que os seus braços estavam amputados, a primeira frase que ele lhe disse foi: ‘Como é que te vou abraçar?”, disse Abu Elouf.
Ajjour e a sua família foram deslocados para o Catar onde, após tratamento médico, “Mahmoud está a aprender a usar os pés para jogar jogos no telemóvel, escrever e abrir portas", indica ainda a organização na página online.
Abu Elouf é também palestiniana e está atualmente a viver no mesmo complexo de apartamentos de Doha, no Catar, onde se encontra Ajjour em tratamento. Natural da Cidade de Gaza, a Sra. Abu Elouf é a primeira fotógrafa palestiniana a vencer o World Press Photo.
A fotógrafa estabeleceu laços com as famílias locais e documentou alguns dos poucos feridos graves que conseguiram sair do território para receber tratamento, relata a organização do prémio.
“Foto silenciosa que fala alto”
"Esta é uma foto silenciosa que fala alto. Conta a história de um menino, mas também de uma guerra mais ampla que impactará gerações", disse Joumana El Zein Khoury, diretora executiva da World Press Photo.
O júri elogiou a “forte composição e atenção à luz” da foto e o seu tema instigador, especialmente as questões levantadas sobre o futuro de Mahmoud”.
O júri elogiou também a forma como a foto retrata "a desumanização de uma região e os ataques implacáveis a jornalistas em Gaza, juntamente com a contínua negação de acesso a repórteres internacionais que procuram expor as realidades desta guerra".
Foram também selecionadas duas fotos para o prémio de segundo lugar. A primeira, "Secas na Amazónia", fotografada por Musuk Nolte para a Panos Pictures e a Fundação Bertha, mostra um homem no leito seco de um rio na Amazónia a transportar mantimentos para uma aldeia anteriormente acessível de barco.
A segunda, "Night Crossing", de John Moore para a Getty Images, mostra migrantes chineses agrupados junto a uma fogueira durante uma chuva torrencial depois de atravessarem a fronteira entre os EUA e o México.
O júri analisou 59.320 fotografias tiradas por 3.778 fotojornalistas para selecionar as 42 fotos premiadas.
A fotógrafa portuguesa Maria Abranches estava entre os 42 vencedores regionais do World Press Photo, o que a situava como finalista para o prémio "fotografia do ano" da organização sediada nos Países Baixos, criado em 1955 pela fundação homónima e sem fins lucrativos.
c/agências