WikiLeaks. Testemunha-chave contra Assange admite que mentiu e inventou acusações
Sigurdur Ingi Thordarson, uma testemunha-chave no processo do Departamento de Justiça dos Estados Unidos contra o jornalista Julian Assange, confessou numa entrevista ao jornal islandês Stundin que as suas declarações usadas para construir o caso contra o fundador do WikiLeaks eram mentira. As falsas alegações, inventadas por uma das principais testemunhas do processo em troca de imunidade judicial, podem ter impacto na pena de Assange.
Sigurdur Ingi Thordarson terá sido recrutado "pelas autoridades dos EUA para construir um caso contra Assange depois de as ter induzido a acreditar que ele era um funcionario próximo dele".
"Na verdade, [Thordarson] ofereceu-se de para angariar dinheiro para o Wikileaks em 2010, mas descobriu-se que usou essa oportunidade para desviar mais de 50.000 dólares da organização", continua a publicação islandesa.
"O objetivo deste acrescento à acusação era aparentemente escorar e apoiar a acusação de conspiração contra Assange em relação às suas interações com Chelsea Manning", continua o artigo. "Estas situações aconteceram na altura em que ele residia na Islândia e os autores da acusação acharam que poderiam fortalecer o caso alegando que ele também estava envolvido em atividades ilegais lá".
A confissão da testemunha-chave foi considerada pelo analista norte-americano Edward Snowden como o "fim do processo contra Julian Assange".
This is the end of the case against Julian Assange. https://t.co/bhFCfVBuq0
— Edward Snowden (@Snowden) June 26, 2021
Na semana passada, por altura da notícia da morte de John McAfee, Snowden afirmou que Assange podia "ser o próximo".
"A Europa não deve extraditar [para os EUA] os acusados de crimes não violentos para um sistema judicial tão injusto e um sistema prisional tão brutal que os réus nativos preferem morrer do que se submeter a ele. Julian Assange pode ser o próximo. Até que o sistema seja reformado, a moratória deve permanecer".
O testemunho de Thordarson terá sido necessário para apoiar a acusação de conspiração contra Assange em relação aos contactos que mantinha com Chelsea Manning.
O fundador do WikiLeaks, que se tornou um símbolo da liberdade de imprensa em todo o mundo, já passou mais de dois anos na prisão de Belmarsh no Reino Unido. Em janeiro passado, a Justiça britânica decidiu não extraditar Assange para os EUA, citando razões de saúde e risco de suicídio no sistema prisional norte-americano.
Assange foi acusado de espionagem e de fraude informática após o WikiLeaks ter publicado milhares de arquivos secretos e informações classificadas que revelavam crimes de guerra cometidos pelas tropas dos EUA no Iraque e Afeganistão. O fundador do WikiLeaks pode apanhar até 175 anos em prisão de alta segurança caso seja condenado nos Estados Unidos.