Washington com segurança apertada na reta final da campanha eleitoral

por Lusa

 Era com surpresa e desilusão que turistas encontravam na quarta-feira a passagem até à Casa Branca bloqueada por um extenso gradeamento e um forte dispositivo policial, medidas preventivas já implementadas para a eleição presidencial.

"O quê? Está tudo fechado? Nem sequer vamos conseguir espreitar para a Casa Branca?", questionou, indignado, um adolescente de visita a Washington.

Num dia normal, a Praça Lafayette, em frente à Casa Branca, é ponto de passagem para milhares de pessoas que tentam um vislumbre da residência oficial e local de trabalho do Presidente dos Estados Unidos, uma atração que costuma estar visível ao olhar do público, embora protegida por altos portões.

Contudo, em preparação para as eleições da próxima terça-feira, o acesso à Praça Lafayette - e, consequentemente, qualquer acesso à Casa Branca - foi interditado.

Foram muitos os grupos de turistas apanhados desprevenidos na manhã desta quarta-feira pelas fortes medidas de segurança implementadas pela polícia de Washington DC, conforme testemunhou a Lusa.

O luso-americano Frank Ferreira, que vive no arredores de Washington, confessou à Lusa nunca ter visto a capital dos Estados Unidos com um nível de segurança tão apertado: um sinal "dos tempos que vivemos hoje".

"Penso que esta eleição é diferente de todas as que vi até hoje. Por exemplo, nós estamos aqui perto da Casa Branca e eu nunca vi tantas grades a bloquear o acesso. Dantes podíamos ir até ao portão da Casa Branca e hoje em dia temos de ficar a quase duas ruas de distância. A segurança está a ser levada muito seriamente aqui nesta cidade, porque temos visto o que tem acontecido nesta campanha", observou.

Todo o departamento de polícia de Washington estará ao serviço durante a eleição de 05 de novembro, de forma a garantir uma votação tranquila e segura, mas também a reagir a qualquer outro acontecimento que ocorra, anunciou esta semana a chefe da polícia, Pamela Smith, que aproveitou ainda para alertar que não tolerará violência ou intimidação de eleitores.

Todos os 3.300 polícias elegíveis trabalharão em turnos de 12 horas, numa ação que visa "garantir agentes suficientes na rua e em todos os cantos do Distrito", indicou Pamela Smith, embora frisando não existir qualquer ameaça no momento e rejeitando "qualquer alarme".

A atual campanha eleitoral tem-se mostrado atípica, com duas tentativas de homicídio registadas contra o atual candidato republicano e ex-presidente, Donald Trump.

Além disso, a capital norte-americana ainda tem bem presente na memória o ataque ao Capitólio de 06 de janeiro de 2021, quando apoiantes de Donald Trump tentaram travar violentamente a certificação da vitória eleitoral do atual Presidente, Joe Biden.

"Naquele dia, eu estava a ver televisão e quando vi todas aquelas pessoas a juntarem-se tão perto do Capitólio e não vi nenhuma resistência da polícia, eu fiquei muito preocupado, porque um plano de ação não foi posto em prática. A Casa Branca disse que estava à espera do Departamento da Defesa. O Departamento de Defesa disse que tinha tropas prontas (...), mas ninguém apareceu", recordou Frank Ferreira, que é conselheiro das comunidades portuguesas pelo círculo de Washington.

"Em Portugal temos o Parlamento, que é a casa da democracia. Aqui, a casa da democracia é o Capitólio, e ver hoje tantas grades à volta daquele edifício é uma coisa muito triste e dá-nos uma ideia dos tempos que vivemos", lamentou.

Pela primeira vez, o Departamento de Segurança Interna norte-americano designou a certificação dos votos do Colégio Eleitoral como um "Evento Nacional de Segurança Especial" --- um estatuto que obriga a medidas de segurança ao nível de eventos como a final do campeonato de futebol americano - o Super Bowl - ou o Estado da União.

Nesse sentido, a segurança na capital norte-americana estará reforçada até ao dia da tomada de posse do novo Presidente, em meados de janeiro.

Durante a tomada de posse, milhares de polícias de todo o país deslocar-se-ão a Washington para auxiliar os agentes locais, com as autoridades a prepararem-se para eventuais "multidões históricas".

"Os próximos meses serão muito fluidos e imprevisíveis", disse o chefe da agência de segurança interna local de Washington DC, Chris Rodriguez, numa conferência de imprensa.

Entre os fatores destabilizadores que estão a ser considerados pelas autoridades estão a propagação de desinformação e de notícias falsas sobre o processo eleitoral, que podem levar a uma maior agitação.

"Independentemente de quem ganhe na próxima semana, será uma eleição histórica", destacou Rodriguez, acrescentando que as autoridades antecipam enormes multidões, semelhantes às da primeira tomada de posse de Barack Obama, em 2009.

Mas é a eventualidade de uma repetição do cenário de 06 de janeiro de 2021 que está a preocupar os moradores, com alguns a admitir que deixarão a capital durante este período eleitoral.

"Vemos de tudo. Há pessoas que acreditam que a melhor opção será votar e viajar de seguida, para a praia ou para as montanhas. Há outros que acreditam que desta vez vai ser diferente e que não haverá violência. Outros querem ficar por cá, para defender o país caso seja necessário. E depois há outros que simplesmente aceitam o que se está a passar", refletiu à Lusa Frank Ferreira.

O conselheiro aproveitou para apelar a todos os luso-americanos que votem nestas eleições, frisando que as mesmas "não impactarão apenas a América, mas também Portugal e a restante Europa". E, num sufrágio tão renhido como este, "qualquer voto pode fazer a diferença".

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