Toomaj Salehi, uma das figuras da resistência iraniana, foi inicialmente detido em outubro de 2022 pelas autoridades iranianas pelo seu envolvimento nos protestos contra o regime iraniano e contra o Governo que varreram o Irão, na sequência da controversa morte de Mahsa Amini, de 22 anos, às mãos da Polícia da Moralidade iraniana, enquanto estava sob custódia, alegadamente por não ter respeitado o rigoroso código de vestuário imposto às mulheres no Irão.
Apesar de ter sido libertado sob caução no ano passado, após um ano e 21 dias na prisão, o
jovem iraniano foi novamente detido depois de ter aparecido num vídeo,
divulgado nas redes sociais,
que revelava ter sido "severamente torturado", com "ossos partidos, lesões oculares e perda de dentes", colocado em isolamento durante 252 dias e privado de cuidados médicos vitais durante toda a sua detenção.
Salehi voltou a ser novamente detido duas semanas após a sua libertação, em dezembro de 2023, acusado de “corrupção na Terra” - que abrange uma série de crimes contra a segurança pública e a moralidade islâmica - e acabou mesmo por ser condenado à morte, no passado dia 24 de abril.
“O Tribunal Revolucionário de Isfahan condenou Toomaj Salehi à pena de morte por corrupção na Terra”, disse o advogado do rapper, Amir Raisian, citado pelo jornal reformista Shargh, acrescentando que iria recorrer da decisão que considerou "sem precedentes". Uma vez que este "que não aplicou a decisão do Supremo Tribunal", que enquanto autoridade de recurso, tinha analisado o caso e emitido uma decisão para o tribunal de primeira instância "eliminar as falhas na sentença", esclareceu.
O advogado explicou que o Tribunal decidiu proferir a sentença de morte contra o rapper por considerar as acusações de sedição, conluio e propaganda contra o sistema e incitamento a motins, de que é acusado, exemplos do crime de "corrupção na terra".
A corajosa voz dos oprimidos
Através da sua música, Toomaj Salehi dá voz ao povo oprimido pela República Islâmica do Irão, denunciando as injustiças e a violação dos Direitos Humanos fundamentais no país. Na canção “Shoorakh Moosh” (Buraco do Rato, tradução livre em português), por exemplo, o rapper critica o silêncio perante a opressão.
"Se viste a crueldade praticada contra os oprimidos e seguiste o teu caminho [...] és culpado", denuncia Toomaj Salehi, exortando os iranianos a agirem contra o regime opressivo: "Se te metes na tua vida enquanto tiram a vida aos jovens (…) és um traidor. Fica a saber que não existe voto em branco. Não há neutralidade nesta luta”.
Na canção “Normal”, o rapper político iraniano, ironiza que a vida no Irão é “normal” e que “não nos atrevemos a dizer o contrário, para não nos metermos em sarilhos”, denunciando na letra várias violações dos direitos humanos, nomeadamente a falta de liberdade de expressão no país.
“Sim! Sim, senhor! A vida é normal. O salário anual de um trabalhador vale um jantar no estrangeiro. Sim! Claro, Senhor! A vida é normal. Não nos atrevemos a dizer o contrário, para não nos metermos em sarilhos”, denunciam os seus versos iniciais.
Mas, precisamente por atrever-se a dizer o contrário, Toomaj Salehi meteu-se em sarilhos por ter manifestado o seu apoio ao movimento de libertação das mulheres iranianas - "Mulheres, Vida, Liberdade" - e por utilizar a música para criticar o regime, denunciar a corrupção e apoiar os direitos das mulheres e dos trabalhadores.
“Na era da ciência, as mulheres são espancadas pela sua beleza, Atiradas para a traseira de uma carrinha da polícia, levadas para prisões sem nome", denuncia na mesma canção, referindo-se à morte da jovem estudante Mahsa Amini, espancada até à morte pela Polícia da Moralidade iraniana, por não usar corretamente o véu islâmico, e todas as que seguiram durante os protestos.
A morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, a 16 de setembro de 2022, gerou protestos sem precedentes no Irão, que se espalharam um pouco por todo o mundo. Durante meses milhares de iranianos, especialmente mulheres e jovens como o jovem artista Toomaj Salehi, saíram às ruas para demonstrar o seu descontentamento com o regime teocrático do Irão.
Mais de 500 pessoas foram mortas e cerca de 22 mil foram detidas, a maior parte mulheres, de acordo com a Amnistia Internacional, que denuncia também que muitas outras foram sujeitas a tortura, desaparecimento forçado e julgamentos injustos. Além das várias pessoas que foram executadas, com o objetivo de intimidar todos os participantes da revolta popular iraniana.