Voz oprimida do povo iraniano. Rapper Toomaj Salehi condenado à morte

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
O rapper iraniano, Toomaj Salehi, foi preso por denunciar a opressão no Irão. Babak Bordbar via AFP

O jovem iraniano de 33 anos, detido em outubro de 2022 por ter manifestado apoio ao movimento de libertação das mulheres iranianas "Mulher, Vida, Liberdade", foi condenado à morte pelo Tribunal Revolucionário de Isfahan a 24 de abril, acusado de "espalhar corrupção na Terra". A sentença surge num momento em que aumentam as condenações à pena de morte na República Islâmica, que só no ano passado matou 853 pessoas, de acordo com o último relatório da Amnistia Internacional, publicado no mês passado.

Toomaj Salehi, uma das figuras da resistência iraniana, foi inicialmente detido em outubro de 2022 pelas autoridades iranianas pelo seu envolvimento nos protestos contra o regime iraniano e contra o Governo que varreram o Irão, na sequência da controversa morte de Mahsa Amini, de 22 anos, às mãos da Polícia da Moralidade iraniana, enquanto estava sob custódia, alegadamente por não ter respeitado o rigoroso código de vestuário imposto às mulheres no Irão.

Apesar de ter sido libertado sob caução no ano passado, após um ano e 21 dias na prisão, o jovem iraniano foi novamente detido depois de ter aparecido num vídeo, divulgado nas redes sociais, que revelava ter sido "severamente torturado", com "ossos partidos, lesões oculares e perda de dentes", colocado em isolamento durante 252 dias e privado de cuidados médicos vitais durante toda a sua detenção.

Salehi voltou a ser novamente detido duas semanas após a sua libertação, em dezembro de 2023, acusado de “corrupção na Terra” - que abrange uma série de crimes contra a segurança pública e a moralidade islâmica - e acabou mesmo por ser condenado à morte, no passado dia 24 de abril.

“O Tribunal Revolucionário de Isfahan condenou Toomaj Salehi à pena de morte por corrupção na Terra”, disse o advogado do rapper, Amir Raisian, citado pelo jornal reformista Shargh, acrescentando que iria recorrer da decisão que considerou "sem precedentes". Uma vez que este "que não aplicou a decisão do Supremo Tribunal", que enquanto autoridade de recurso, tinha analisado o caso e emitido uma decisão para o tribunal de primeira instância "eliminar as falhas na sentença", esclareceu.

O advogado explicou que o Tribunal decidiu proferir a sentença de morte contra o rapper por considerar as acusações de sedição, conluio e propaganda contra o sistema e incitamento a motins, de que é acusado, exemplos do crime de "corrupção na terra".
A corajosa voz dos oprimidos

Através da sua música, Toomaj Salehi dá voz ao povo oprimido pela República Islâmica do Irão, denunciando as injustiças e a violação dos Direitos Humanos fundamentais no país. Na canção “Shoorakh Moosh” (Buraco do Rato, tradução livre em português), por exemplo, o rapper critica o silêncio perante a opressão.

"Se viste a crueldade praticada contra os oprimidos e seguiste o teu caminho [...] és culpado", denuncia Toomaj Salehi, exortando os iranianos a agirem contra o regime opressivo: "Se te metes na tua vida enquanto tiram a vida aos jovens (…) és um traidor. Fica a saber que não existe voto em branco. Não há neutralidade nesta luta”.



Na canção “Normal”, o rapper político iraniano, ironiza que a vida no Irão é “normal” e que “não nos atrevemos a dizer o contrário, para não nos metermos em sarilhos”, denunciando na letra várias violações dos direitos humanos, nomeadamente a falta de liberdade de expressão no país.

“Sim! Sim, senhor! A vida é normal. O salário anual de um trabalhador vale um jantar no estrangeiro. Sim! Claro, Senhor! A vida é normal. Não nos atrevemos a dizer o contrário, para não nos metermos em sarilhos”, denunciam os seus versos iniciais.

Mas, precisamente por atrever-se a dizer o contrário, Toomaj Salehi meteu-se em sarilhos por ter manifestado o seu apoio ao movimento de libertação das mulheres iranianas - "Mulheres, Vida, Liberdade" - e por utilizar a música para criticar o regime, denunciar a corrupção e apoiar os direitos das mulheres e dos trabalhadores.

“Na era da ciência, as mulheres são espancadas pela sua beleza, Atiradas para a traseira de uma carrinha da polícia, levadas para prisões sem nome", denuncia na mesma canção, referindo-se à morte da jovem estudante Mahsa Amini, espancada até à morte pela Polícia da Moralidade iraniana, por não usar corretamente o véu islâmico, e todas as que seguiram durante os protestos.

A morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, a 16 de setembro de 2022, gerou protestos sem precedentes no Irão, que se espalharam um pouco por todo o mundo. Durante meses milhares de iranianos, especialmente mulheres e jovens como o jovem artista Toomaj Salehi, saíram às ruas para demonstrar o seu descontentamento com o regime teocrático do Irão. 

Mais de 500 pessoas foram mortas e cerca de 22 mil foram detidas, a maior parte mulheres, de acordo com a Amnistia Internacional, que denuncia também que muitas outras foram sujeitas a tortura, desaparecimento forçado e julgamentos injustos. Além das várias pessoas que foram executadas, com o objetivo de intimidar todos os participantes da revolta popular iraniana.

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