Apesar de Riade não ter relações diplomáticas com Jerusalém, um avião da El-Al, a companhia aérea comercial israelita, foi autorizado, segunda-feira e terça-feira, a usar o espaço aéreo da Arábia Saudita, para ir até à capital dos Emirados Árabes Unidos e regressar no dia seguinte pelo mesmo caminho.
A decisão vai "permitir a passagem do espaço aéreo do reino, de voos com destino e provenientes dos Emirados e para todos os países", sublinhou a Autoridade Geral da Avião Civil, citada pela agência oficial saudita, SPA.O anúncio surge depois de um pedido formal por parte dos EAU, assim como por via dos esforços diplomáticos do genro do Presidente Donald Trump, Jared Kushner, que se reuniu terça-feira com o princípe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman.
Apesar de não ser mencionado de forma específica, Israel é o verdadeiro beneficiado com esta norma, uma vez que, até agora, os seus aviões eram forçados a contornar as fronteiras aéreas sauditas e a fazer um enorme desvio na península arábica.
"Os aviões israelitas e os de todos os países poderão voar diretamente de Israel para Abu Dabi e para o Dubai e regressar", declarou o primeiro-ministro israelita.
O voo direto de segunda-feira para Abu Dabi, levando a bordo uma delegação americano-israelita para uma visita de dois dias e o voo de regresso, terça-feira, da mesma forma, marcam esta distensão. Este foi um charter especial, e, para já, não há notícia de novos voos comerciais confirmados ou previstos.
مواقف المملكة الثابتة والراسخة تجاه القضيةالفلسطينية والشعب الفلسطيني لن تتغير بالسماح بعبور أجواء المملكة للرحلات الجوية القادمة لدولة الإمارات العربية المتحدة والمغادرة منها إلى كافةالدول، كما أن المملكة تقدر جميع الجهودالرامية إلى تحقيق سلام عادل ودائم وفق مبادرةالسلام العربية
— فيصل بن فرحان (@FaisalbinFarhan) September 2, 2020
Apesar desta declaração, a verdade é que o reino tem cultivado relações clandestinas com Israel nos anos mais recentes, sob influência do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman, muito próximo do Sheik Mohammed bin Zayed, homem forte dos Emirados.
Em comum, os três países têm a inimizade com o Irão. À Arábia Saudita interessa-lhe igualmente atrair investimentos estrangeiros para conseguir diversificar a sua economia dependente do petróleo.
Um "enorme avanço"
"O anúncio de hoje assinala um 'aquecimento' das relações entre a Arábia Saudita e Israel", comentou à AFP Marc Schneier, um rabi norte-americano próximo dos países do Golfo. "Apesar deles se manterem profundamente comprometidos com o povo palestiniano, este primeiro passo é importante e deve ser celebrado".
"Quero agradecer a Jared Kushner e ao Sheik Mohammed bin Zayed pela importante contribuição de hoje. Haverá muitas mais boas notícias nos próximos dias", referiu ainda o líder israelita.
For years, I have been working to open the skies between Israel and the East. It was spectacular news two-and-a-half years ago when Air India received approval to fly directly to Israel.
— PM of Israel (@IsraeliPM) September 2, 2020
Now there is another tremendous breakthrough. pic.twitter.com/V7zbrxGTQ5
Pit stop de Kushner em Riade
No regresso de Abu Dabi, terça-feira, Jared Kushner fez escala em Riade, para se reunir expressamente com Mohammed bin Salman e debater a estabilidade regional e áreas de cooperação, para conseguir essa alteração.
Em cima da mesa, o acordo entre Israel e os EAU de normalização de relações, num "horizonte do processo de paz". A "necessidade de retomar as negociações entre os palestinianos e os israelitas para alcançar uma paz justa e duradoura", também esteve na agenda, de acordo com a SPA.
O exército israelita estava a bombardear a Faixa de Gaza todas as noites, desde 06 de agosto, em retaliação a ataques palestinianos, sobretudo através do lançamento de balões incendiários e de projeteis.
Segundo dados das autoridades israelitas, os balões incendiários do Hamas originaram mais de 400 focos de incêndios em Israel.