Vitória eleitoral da extrema-direita na Alemanha de Leste ameaçaria democracia regional, dizem analistas
Uma vitória do partido Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita) nas eleições regionais da Turíngia e Saxónia, leste da Alemanha, colocaria em risco as instituições democráticas e obrigaria a complexos acordos de governo, segundo analistas ouvidos pela Lusa.
De acordo com as últimas sondagens para as eleições de domingo, a AfD deverá vencer no estado federado da Turíngia, com 30%, a uma distância grande do segundo lugar, a União Democrata-cristã (CDU) com 24%. Na Saxónia, os resultados não parecem claros com diferentes institutos a darem vitória à AfD ou à CDU.
"Se a AfD vencer as eleições nos dois estados federados, haverá um enorme problema para o futuro da democracia na Alemanha de Leste. Não acredito que a democracia na Alemanha em geral esteja ameaçada, mas no Leste haverá enormes consequências. Algumas empresas poderão abandonar a região, haverá migração, tensões entre o leste e o ocidente", aponta o editor-chefe de política do jornal Rheinische Post (RP), Martin Kessler, em declarações à Lusa.
"O mais importante de analisar é se uma força antidemocrática pode vencer estas eleições. Com força antidemocrática refiro-me à AfD e ao recente partido BSW (Bündnis Sahra Wagenknecht). Essa hipótese representa uma forte ameaça à democracia na Alemanha de Leste porque Sahra Wagenknecht tem posições pró-Putin, entre outras", acrescenta.
Na Turíngia, o partido de Sahra Wagenknecht obtém entre 17% a 21%, segundo as sondagens. Na Saxónia, os valores do BSW não deverão ultrapassar os 15%.
As eleições nos estados federados da Turíngia e da Saxónia, na Alemanha de Leste, decorrem a 01 de setembro. No dia 22 é a vez da região de Brandeburgo ir a votos para escolher o seu parlamento.
"Se a AfD se tornar a força política mais forte na Turíngia, a formação de um governo será extremamente difícil. De facto, é preciso esperar para ver os resultados das eleições, porque as previsões são extremamente complicadas. Nenhum partido quer coligar-se com a AfD, mas sem uma aliança seria difícil imaginar outro governo maioritário, exceto com o BSW", revela o politólogo Ulrich von Alemann.
Para o professor emérito da Universidade Heinrich-Heine (HHU) de Dusseldorf, a situação na Saxónia é ainda mais complicada.
"Teria de haver um governo de todos os partidos contra a AfD, o que seria outro grande problema. É óbvio que está em aberto a questão de saber se a CDU fará uma aliança com o BSW, embora isso não faça sentido, uma vez que o BSW é mais extremista do que o Partido da Esquerda no Leste", avisa.
Para o politólogo alemão, o ataque em Solingen levado a cabo por um cidadão sírio que pertencia ao Estado Islâmico, e que matou três pessoas e deixou oito feridos, terá inegavelmente um peso nos resultados de 01 de setembro.
"A AfD será provavelmente a primeira a beneficiar com este facto, porque sempre argumentou polemicamente contra a migração. Mas, apesar de todos os êxitos da AfD, se conseguir cativar 30% dos eleitores, significa que 70% dos restantes são contra. No entanto, se o BSW chegar aos 20% e os dois partidos extremistas conseguirem reunir cerca de 50% dos votos, então será extremamente difícil", esclarece Ulrich von Alemann.
Martin Kessler acredita que se os extremos vencerem, toda a Alemanha deverá tirar conclusões.
"Se este cenário se verificar, deverá funcionar como chamada de atenção para o resto da Alemanha para que a democracia seja protegida, com manifestações, exigências aos partidos ditos tradicionais para que façam algo. Acredito que a nossa democracia seja forte o suficiente para fazer frente a esta ameaça, mas temos de lutar por ela", conclui.