O jurista moçambicano Borges Nhamirre defendeu hoje que a vitória da Frelimo e do seu candidato presidencial, Daniel Chapo, nas eleições gerais de 09 de outubro foi "claramente fabricada" e que os observadores têm provas dessa manipulação.
"É muito difícil de avaliar a vitória do candidato da Frelimo porque é uma vitória claramente fabricada. Eu não estou a dizer que as pessoas não votam na Frelimo. Votam, mas não votam nos níveis apresentados. Portanto, os 70% obtidos por Daniel Chapo e os 76% obtidos pelo partido Frelimo são claramente fabricados", afirmou o jurista, em declarações à agência Lusa, por telefone.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) moçambicana anunciou na quinta-feira a vitória de Daniel Chapo (Frelimo) na eleição a Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos, resultados que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), ficou em segundo lugar, com 20,32%, totalizando 1.412.517 votos.
Na terceira posição da eleição presidencial ficou Ossufo Momade, presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), até agora maior partido da oposição, com 403.591 votos (5,81%), seguido de Lutero Simango, presidente do Movimento Democrático do Moçambique (MDM), com 223.066 votos (3,21%).
Segundo os resultados do apuramento geral das eleições de 09 de outubro, anunciados pelo presidente da CNE, Carlos Matsinhe, em Maputo, Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), venceu com mais de 50% dos votos em todos os círculos eleitorais do país, somando no total 4.912.762 votos.
Borges Nhamirre considerou que os valores avançados pela CNE não refletem o que se passou na campanha eleitoral.
"Não é isso que se viu durante os processos de votação. Não é isso que se viu durante as campanhas eleitorais, portanto, são resultados fabricados para justificar que a Frelimo tem uma maioria qualificada", defendeu.
O jurista moçambicano destacou ainda a postura que a missão de observação eleitoral da União Europeia assumiu nas eleições de 09 de outubro comparativamente a anteriores votações que acompanhou em Moçambique.
"As evidências dessa manipulação de resultados estão lá, apresentadas pelos observadores locais e internacionais, incluindo a missão de observação da União Europeia, que desta vez, numa abordagem muito diferente do passado, a chefe da missão, Laura Ballarín, referiu claramente que houve enchimento de urnas em número x de províncias", sublinhou.
O anúncio dos resultados feito na quinta-feira pela CNE aconteceu no primeiro de dois dias de greve geral e manifestações em todo o país convocadas por Mondlane contra o processo eleitoral deste ano, que está a ser marcado por confrontos entre manifestantes e a polícia nas principais avenidas da capital moçambicana.
O processo eleitoral de 2024 tem sido criticado por observadores internacionais, que apontam várias irregularidades, e marcado pela violência, com protestos na rua que levaram à intervenção da polícia com lançamento de gás lacrimogéneo e tiros para o ar, e pelo duplo homicídio de dois apoiantes de Mondlane, o advogado Elvino Dias e o docente Paulo Guambe, mortos a tiro numa emboscada em Maputo na noite de 18 de outubro.