Viticultores franceses bloqueiam vinho espanhol na fronteira

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Produtores de vinho franceses protestam contra a introdução de vinhos espanhóis em França junto à portagem de Le Boulou, perto da fronteira espanhola, no sul de França, a 19 de outubro Guillaume Horcajuelo - EPA

Centenas de viticultores franceses bloquearam esta quinta-feira durante três horas a autoestrada A9, na fronteira franco-espanhola. Junto à portagem de Le Boulou, nos Pirenéus-Orientais, no sudoeste de França, destruíram a mercadoria de vários camiões oriundos de Espanha. O alvo era o vinho.

Manifestantes de vários departamentos desta região, incluindo Aude, Hérault e Pirenéus-Orientais, juntaram-se na fronteira com Espanha para protestar contra a importação de vinho espanhol. Segundo observou a agência France Presse, queimaram pneus na estrada, “controlaram” os camiões que chegavam do país vizinho e destruíram a mercadoria transportada, nomeadamente vinho e tomates. 
A estação de rádio pública France Bleu Roussillon cobriu a manifestação e publicou nas suas redes sociais
"Cocktail explosivo"

Entre 350, segundo dados da polícia, e 400 manifestantes, segundo os viticultores, chegaram à fronteira franco-espanhola em 200 veículos, após uma reunião na cidade de Narbonne, em Aude, e uma deslocação à cidade de Perpignan, nos Pirenéus-Orientais, para se juntarem ao protesto."Não temos dinheiro, não temos visibilidade (...) Não aguentamos mais. Estamos à espera de apoio, de ajudas como as que foram concedidas aos agricultores", afirmou David Drilles, presidente do sindicato dos viticultores da região.

David Drilles recordou que o setor está a" a sair de quatro anos de riscos climáticos” e que esta é “uma revolta na bacia regional que afeta toda a região [administrativa dos Pirenéus-Orientais] e mesmo a PACA", a região vizinha da Provence-Alpes-Côte-d'Azur, no sudeste do país.

Segundo a AFP, Frédéric Rouanet, presidente do sindicato dos viticultores de Aude, tinha denunciado há semanas “um cocktail explosivo” de fatores desfavoráveis. Entre esses fatores destacava uma colheita fraca devido às más condições climatéricas, os custos de produção que acompanham a inflação e o preço dos vinhos que não acompanham o ritmo, sobretudo devido às importações que os fazem baixar. "Não aprovo este tipo de ação, mas é provável que se torne uma ocorrência diária, dada a situação atual", declarou Frédéric Rouanet à AFP.

Nas últimas semanas, os viticultores franceses protagonizaram outros episódios de cólera, como o incêndio das instalações de uma empresa de engarrafamento e comercialização de vinho da região, em Aude, advertindo com um cartaz contra a importação de vinho estrangeiro.

De acordo com dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV),  França importou no ano passado mais de seis milhões de hectolitros de vinho, nomeadamente os tintos e os rosés, que estão a sofrer uma queda nas vendas nacionais.

c/agências
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