Violência em Barcelona. Madrid culpa "jovens catalães coordenados"

por Carlos Santos Neves - RTP
David Borrat - EPA

Os atos de violência que pontuaram nos últimos dias, em Barcelona, as manifestações de protesto contra as condenações de políticos independentistas foram, para Madrid, desencadeados por “jovens catalães coordenados”. É nestes termos que o Governo de Pedro Sánchez reage à posição do presidente da Generalitat. Quim Torra responsabilizou “infiltrados”.

Três noites de confrontos entre manifestantes radicais e polícia, perto de uma centena de pessoas detidas e pelo menos 194 efetivos das forças de segurança feridos. São estes os números da escalada do termómetro da tensão na Catalunha compilados pelo Governo espanhol.

O presidente do Governo autonómico, Quim Torra, demarcou na quarta-feira a vaga independentista reavivada pelas condenações de políticos catalães a penas de prisão do que descreveu como grupos de “infiltrados”. Madrid pinta outro quadro: o de que os protagonistas da violência são “jovens catalães coordenados”.“Defendo que até final desta legislatura, no prazo mais breve possível, se volte a exercer o direito à autodeterminação”, defendeu esta quinta-feira o presidente da Generalitat, Quim Torra.


A fórmula foi esta quinta-feira empregue pela porta-voz do Governo do socialista Pedro Sánchez.

Em entrevista à Rádio Euskadi, Isabel Celaá sustentou que o que estes manifestantes têm feito “não se improvisa”. Disse também que “os apoios que possam ter são neste momento objeto de investigação”.

“A declaração de Torra teve muitos matizes e modulações”, afirmou Celaá. “A maior esquizofrenia provém de quem arengou e impulsionou a saída à rua e agora quer devolver o tigre à jaula. Não é tão fácil”.

Madrid quer agora investigar “quem está por trás” de tais grupos “minoritários, mas coordenados”. Os eventuais responsáveis, asseverou a porta-voz, “serão julgados e castigados de acordo com a lei”.


Quanto à possibilidade de vir a ser aplicado à Catalunha o artigo 155 da Constituição espanhola, que enquadraria o esvaziamento de poderes da Generalitat, o Executivo de Madrid reitera ter sobre a mesa “todos os mecanismos e ferramentas”. Mas estes apenas serão implementados “em caso de excecionalidade, de forma subsidiária e temporária”.

“Não se descarta nada, mas aplicaremos medidas consoante os atos que vão ocorrendo, com serenidade, firmeza democrática e sem reações exorbitadas. De momento, as Forças de Segurança do Estado e os Mossos [polícia catalã] estão a responder de forma proporcional ao embate”, frisou a porta-voz.
Torra reergue bandeira do referendo

O presidente da Generalitat esteve esta quinta-feira no Parlamento catalão, onde considerou uma “ignomínia” as sentenças aplicadas a políticos independentistas. E defendeu a realização, a breve trecho, de um novo referendo sobre o estatuto da Catalunha.

“É o maior golpe à democracia que se viu desde 1978. Se por irmos às urnas nos condenam a 100 anos de prisão, a resposta é clara: teremos de voltar a votar a autodeterminação”, propugnou Quim Torra.

“Nenhum tribunal impedirá este presidente da Catalunha de continuar a abrir estes debates”, continuou Torra, aludindo ao facto de o Tribunal Constitucional ter advertido que poderia incorrer em responsabilidade penal, caso não acatasse a suspensão de artigos aprovados no Parlamento regional sobre o direito à autodeterminação e a independência da Catalunha.

O governante catalão insistiu na ideia de que “os independentistas não se reveem na violência”: “Se há desestabilizadores, há que prendê-los e julgá-los. Há que investigar até ao fim. Vimos imagens que não agradam a ninguém”.

c/ agências
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