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Violação em grupo de adolescente judia de 12 anos gera indignação em França

por Graça Andrade Ramos - RTP
Violação em grupo de adolescente judia de 12 anos gera indignação em França AFP

Em plena campanha para as legislativas, o ataque de cariz sexual e racista a uma adolescente francesa, de origem judia, está a incendiar o debate sobre o crescimento do antissemitismo no país, com condenação generalizada da extrema direita à extrema esquerda.

"Sórdido" e "abjeto", são algumas das reações ao caso, ocorrido sábado em Courbevoie, nos arredores de Paris. Os agressores, adolescentes como a vítima, foram identificados e já foram presentes a juiz, tendo dois ficado sob detenção.

A França acolhe a maior comunidade judia da Europa e regista um crescimento em flecha de atos antijudaicos, desde a resposta militar em força de Israel ao ataque do grupo palestiniano islamita Hamas, a 7 outubro de 2023, que provocou a atual guerra em Gaza. Só no primeiro trimestre de 2024, de acordo com estatísticas oficiais, foram recenseados "366 casos antissemitas", um aumento de 300 por cento face a período homólogo de 2023.


O ministro do Interior, Gérald Darmanin, denunciou esta quarta-feira aos microfones da BFMTV os fatos "absolutamente ignóbeis" do caso mais recente. "Seja pela violação desta jovem rapariga e ainda mais se tiver um carater antissemita, evidentemente", declarou.

O presidente francês, Emmanuel Macron, apelou em sede de Conselho de Ministros esta quarta-feira, à organização de "tempos de diálogos" nas escolas, sobre o racismo e o antissemitismo. 

O chefe de Estado teve, de acordo com o seu gabinete, "palavras solenes e graves sobre o flagelo do antissemitismo" no sentido de fazer com que os "discursos de ódio que trazem consquências pesadas", "não se infiltre" nos estabelecimentos escolares.

Uma proposta que causou reações mornas entre os sindicatos afetos à àrea educativa. O apelo foi considerado "um golpe de comunicação" e "instrumentalização de um drama em contexto de crise política e democrática".

Tal instrumentalização foi generalizada.
LFI sob fogo

O líder d'A França Insubmissa [La France Insoumise ou LFI], Jean-Luc Mélenchon, de extrema-esquerda, mostrou-se na rede X "horrorizado com esta violação" e com "tudo o que evidencia quanto ao condicionamento de comportamentos masculinos criminosos desde uma idade precoce, e ao racismo antissemita".

O seu partido tem sido contudo um apoiante ativo das manifestações palestinianas anti-israelitas em França e Mélenchon causou uma onda de indignação quando escreveu num blog, há cerca de três semanas, que, "contrariamente ao que diz a propaganda oficial, o antissemistismo continua residual em França".

Também à esquerda, o primeiro secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, considerou um "flagelo" o "ódio antissemita", numa publicação na rede X. "A luta contra o antissemitismo deve realizar-se sem fraquejar e sem descanso", escreveu.

Para mais de 90 por cento dos judeus franceses, a LFI tem contribuído para o antissemitismo no país. Representantes das comunidades judaicas em França denunciaram por isso na semana passada a aliança dos partidos de esquerda francesa, a nova Frente Nacional, que inclui a LFI, referindo que "o antissemitismo não é uma promessa de campanha".
Pretexto de campanha
Na outra ponta do espetro político face ao LFI, Marine Le Pen, líder parlamentar do União Nacional [Rassemblement National ou RN], apontou baterias diretamente à "extrema esquerda", acusando-a de "estigmatização dos judeus desde há meses, através da instrumentalização do conflito israelo-palestiniano".

"A agressão antissemita e a violação de uma criança de 12 anos nos Hauts-de-Seine repulsam-nos", declarou Le Pen. "Cada um deverá ter plena consciência disso a 30 de junho e 7 de julho", acrescentou, referindo-se às datas das eleições legislativas antecipadas no país, convocadas dia 9 de junho.

O presidente do RN, de extrema-direita, apelou ao "combate a este antissemistismo que se abate sobre a França desde 7 de outubro". Jordan Bardella prometeu, caso seja eleito dentro de três semanas, fazer "do restabelecimento da autoridade e da ordem em cada metro quadrado do território a prioridade de ação".

Éric Ciotti, presidente contestado da direita A República [La Republique ou LR], denunciou por seu lado "o aumento do antissemistismo no nosso país alimentado pela aliança da extrema-esquerda".
"Atiçar o ódio"
O coletivo Nós Viveremos, formado no rescaldo do ataque do Hamas, apelou a manifestações em Paris, contra o ataque sofrido pela jovem. 

"Esta violação antissemita inscreve-se no prolongamento de um clima hostil aos judeus, nomeadamente alimentado por declarações políticas irresponsáveis, com vista a avivar as brasas e a atiçar o ódio aos judeus desde há vários meses", acusou.

O presidente do Consistório central, Elie Korchia, denunciou por seu lado "um crime sexual sórdido e ignóbil". O grande rabi de França, Haïm Korsia, afirmou que "ninguém pode ser exonerado face a esta onda antissemita sem precedentes". 

O Conselho representativo das instituições judaicas em França, Crif, exprimiu a sua "imensa emoção" para com um "caso extremamente inquietante".

Muitos judeus em França temem que o apoio da esquerda mais extremista à causa palestiniana e contra Israel, que respalda muitos dos recentes ataques, assim como as promessas de uma resposta musculada a tais casos, leve a comunidade a votar na extrema-direita.
O caso
O responsável municipal de Courbevoie, Jacques Kossowski, assumiu-se "surpreendido" com o facto do sucedido ter tido lugar na sua comunidade. "Quanto ao antissemitismo, lamento muito dizê-lo, mas quando vemos a campanha das [eleições] europeias, isso não ajuda em nada", declarou o edil, denunciando nomeadamente o LFI e o seu recente ativismo pro-palestinano.

A jovem vítima afirmou ter sido abordada por outros três adolescentes, sábado passado, quando estava num parque perto de casa, com um amigo.

De acordo com fontes policiais, citadas pela Agência France Press, AFP, um dos três questionou a vítima, "sobre a sua religião judaica" e sobre Israel, perguntando-lhe porque não respondia. Também lhe chamou "porca judia".

A adolescente terá sido levada à força para um local deserto perto do bairro de La Défense, onde foi espancada e penetrada, vaginal e analmente, e forçada a felações, referiu a polícia, acrescentando que um dos agressores filmou a cena e que outro ameaçou de morte a jovem, se ela denunciasse o sucedido às autoridades.

A vítima fez queixa e identificou os agressores. Terça-feira à noite, dois, de 13 anos, foram acusados e detidos por violação em grupo e insultos e ameaças antissemitas. O terceiro, de 12 anos, está considerado testemunha colaborante em caso de violação.

"No seu interrogatório de comparência inicial, os três menores fizeram breves declarações espontâneas, expressando simpatia para com a vítima sem abordar o seu envolvimento nos fatos", referiu o ministério público, em comunicado.
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