Viktor Orbán promete pressionar Parlamento húngaro para ratificar entrada da Suécia na NATO

por Graça Andrade Ramos - RTP
Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, imagem de arquivo Marton Monus - Reuters

Menos de 24 horas depois do Parlamento da Turquia ter aprovado por maioria esmagadora a adesão da Suécia à Aliança Atlântica, a pressão sobre o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, está ao rubro e todos os olhos estão agora sobre Budapeste.

Reagindo à pressão, Orbán, que tem afirmado que a Hungria é favorável à Suécia, voltou a garantir isso mesmo esta quarta-feira, ao secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. "Reafirmei que o Governo húngaro apoia a adesão da Suécia à NATO", revelou o primeiro-ministro húngaro sobre o telefonema entre ambos.

"Sublinhei também que iremos continuar a pressionar a Assembleia Nacional húngara a votar a favor da entrada da Suécia e a concluir o processo de ratificação na primeira oportunidade", acrescentou Orbán, sem contudo se comprometer com quaisquer datas.

Stoltenberg confirmou o teor do telefonema mas não é certo que a Hungria esteja finalmente disposta a mexer-se, deixando de arrastar os pés na questão. A ratificação da candidatura foi submetida ao parlamento húngaro em 2022, mas o voto final sobre a questão tem sido sistematicamente adiado e é agora o único obstáculo à adesão sueca.

Os Aliados já nem escondem a sua impaciência e o pavio é cada vez mais curto.

"Já é mais que tempo para a Hungria concluir os passos que faltam para podermos acolher os nossos amigos suecos na Aliança", defendeu na rede X o Ministério Alemão dos Negócios Estrangeiros.

Um diplomata sénior europeu comentou ao jornal britânico Guardian, sob anonimato, que a atmosfera para com a Hungria "é muito negativa". "Não há abertura para discussões extra ou negociações."

A Hungria "teve muito tempo", nos 20 meses que durou a tomada de decisão turca, para consultar a Suécia sobre o seu pedido de adesão referiram ainda outras fontes diplomáticas ao periódico londrino. "Penso que os Aliados esperavam que a Hungria cumprisse a sua promessa de que não seria a última" nação a acolher a Suécia, acrescentaram.
Sinais contraditórios
A Suécia apresentou a sua candidatura à NATO, ao lado da Finlândia, em maio de 2022, no rescaldo da invasão russa da Ucrânia que fez os dois países nórdicos reverem décadas de política neutral.

A Finlândia tornou-se o 31º membro da NATO em abril de 2023, mas a Suécia ficou para trás sobretudo devido a exigências de Ancara. Budapeste afinou pelo diapasão turco, sem nunca explicitar claramente as suas reticências, e acabou como única voz dissonante.

Responsáveis familiares com o processo no seio da NATO, têm sublinhado que, ao contrário da Turquia, a Hungria nunca fez quaisquer exigências formais quanto à entrada da Suécia.

Orbán também nunca explicitou claramente as razões para demorar a decisão, mas os seus detratores sublinham a proximidade do chefe do governo do país ao presidente russo Vladimir Putin para semear divisões e discórdia no Ocidente e uma eventual estratégia interna de pressionar Bruxelas em dossiers controversos.

O diretor político do Fidesz, o partido de Orbán, explicou esta quarta-feira que Budapeste está desagradada com as críticas de Estocolmo à democracia húngara.

"Os ataques políticos constantes à Hungria, pela elite política, da imprensa e das ONG's da Suécia, geraram preocupação no seio dos deputados húngaros", referiu Balázs Orbán, lamentando que tentativas de ultrapassar estes alegados desentendimentos sejam "repetidamente" recusadas por Estocolmo.

"Apesar de tudo continuamos abertos ao diálogo se ser membro da Aliança é realmente uma prioridade para a Suécia. A bola está do lado deles", acrescentou.
Desespero e desalento
Horas antes do voto da Turquia, Orbán endereçou mais um convite ao primeiro-ministro sueco, desta feita para "encetar negociações" sobre a NATO, o qual foi recusado pelo ministro sueco dos Negócios Estrangeiros.

A iniciativa caiu mal nos círculos NATO.

"Os Aliados estão desesperados", admitiu outro diplomata europeu sénior ao Guardian. "Que Orbán se tenha oferecido para 'negociar' quando a Hungria nunca levantou objeções formais durante o debate das adesões é ultrajante".

"As recentes iniciativas geraram ondas de choque em toda a Aliança e uma grande dose de desalento" apesar da decisão turca, que era já esperada, referiu a mesma fonte.

Ancara e Budapeste também tentaram adiar a decisão sobre a Finlândia, mas o parlamento húngaro reagiu rapidamente e ratificou o pedido finlandês em março de 2023, quando se tornou claro que o voto turco no mesmo sentido estava iminente.

Os responsáveis esperavam um cenário semelhante no caso sueco e admitem confusão com os sinais dados pelo governo de Orbán.

O principal partido da oposição húngara, o socialista MSZP, já exigiu a Orbán que se "deixe de palhaçadas", desafiando os deputados do país a avançarem sozinhos para a decisão.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, deverá por seu lado ratificar a votação dos deputados turcos ainda esta semana.
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