
O vídeo gravado pela AENA (o equivalente à ANA em Portugal) da descolagem do voo JK5022 da Spanair revela que o aparelho explodiu depois de embater no chão. A informação é hoje avançada pelo “El Pais”.
Estas revelações contradizem as afirmações, de algumas testemunhas, de que se tinha incendiado um motor antes da queda do avião.
Destroços e caixas negras em análise
“Houve mais do que uma falha. Uma falha de um motor não é causa para um acidente. Isso está contemplado em todas as regras, junto com outras que podem causar a queda de um avião. Tem que se determinar o conjunto de causas que provocaram o acidente”, afirmou Manuel Bautista, director-geral da Aviação Civil, do Ministério do Fomento espanhol, ao “El Pais”.
“Não estou tão seguro que tenha sido a falha de um motor”, rematou.
Os peritos começaram, ontem, a analisar os destroços do avião e as duas caixas negras. No entanto, a caixa negra que regista o funcionamento do avião está danificada. As altas temperaturas podem danificar estas caixas, o que dificulta e atrasa, mas não impede a recuperação de dados.
Esta caixa deve indicar o que falhou em concreto e que dispositivo se acendeu na cabine que levou o piloto a abortar a primeira descolagem.
A outra caixa é a que regista os diálogos dos pilotos, na cabine, e com a torre de controlo. O Comandante António Garcia Luna não voltou a contactar com a torre depois de ter recebido via verde para descolar. Mas na caixa negra deverão estar as conversas gravadas entre o Comandante e o co-piloto.
A investigação centra-se agora em averiguar por que motivo o piloto abortou a primeira descolagem, prevista para as 13h20 e pediu uma reparação.
O avião esteve 40 minutos a ser supervisionado por um mecânico e o Comandante assinou que estava de acordo com a revisão.
Às 14h23 voltou a acelerar pela pista L-36 do aeroporto de Barajas.
Pilotos tinham alertado para o “caos operativo que estava a pôr em risco os passageiros
O Sindicato Espanhol dos Pilotos de Linhas Aéreas (SEPLA) já tinha alertado, durante mais de um ano, a presidência da companhia aérea Spanair que “o caos e a má gestão podiam influenciar as operações da companhia”, revela hoje a edição on-line do jornal “El Mundo”.
No primeiro e-mail, enviado a 7 de Abril de 2007, o sindicato afirmava “a preocupação dos pilotos por um caos operativo que estava a pôr em risco os passageiros, a razão da Spanair”.
Uma outra carta enviada pelo SEPLA à administração da Spanair, a que o “El Mundo” teve acesso, mostrava a preocupação dos pilotos pela situação da empresa. “Nos dias 19 e 20 de Abril de 2007, tivemos assembleias com os sócios e é nossa obrigação informar da elevada inquietação que reina entre eles pelo modo como se realiza a operação diária desde há um mês”.
“O elevado número de voos atrasados, as escalas programadas em tempo que não são realistas, a falta de recursos, a qualidade dos meios em terra, a escassez das tripulações e o movimento dos tripulantes para conseguir uma tripulação completa, fazem que o sentimento geral seja de caos operativo que pode pôr em risco os passageiros”, reafirma a missiva.
Esta carta chegou à direcção da Spanair antes da Semana Santa, uma altura que os espanhóis utilizam para viajar.