Vídeo mostra Yevgeny Prigozhin a falar às tropas Wagner na Bielorrússia

por RTP
Yevgeny Prigozhin fotografado na Ucrânia quando fazia duras críticas às lideranças militares russas Arquivo Reuters

Um vídeo publicado na rede social Telegram mostra um indivíduo que parece ser Yevgeny Prigozhin a dirigir-se a combatentes do Grupo Wagner na Bielorrússia, indicando-lhes que o seu próximo destino será a África. Um segundo homem, presumivelmente Dmitry Utkin, o número dois dos mercenários, saúda depois os mercenários: "bem-vindos ao inferno!"

A confirmar-se a veracidade do vídeo, esta será a primeira vez que Prigozhin surge em público com os seus homens desde que o grupo invadiu a Rússia de 23 para 24 do mês passado.

"Bem-vindos rapazes! Estou feliz de vos saudar a todos. Bem-vindos à terra bielorrussa! Nós lutámos com dignidade! Fizemos muito pela Rússia", afirma o homem, de acordo com a televisão norte-americana CNN e a Agência Reuters, que não publicaram o vídeo.
 
As imagens, aparentemente não editadas, foram partilhadas nos canais Telegram pró-Wagner e na conta de Prigozhin. Terão sido captadas esta madrugada ou durante o crepúsculo.

A má qualidade das imagens e a falta de luz dificultam a identificação do homem, a quem se dirige um dos combatentes, chamando-lhe pelo patronímico, "Yevgueny Viktorovich".

No seu discurso às tropas, o alegado líder critica o plano estratégico russo das operações militares na Ucrânia e a respetiva execução, sugerindo que os seus soldados não irão para já voltar a lutar em terreno ucraniano.

"O que se está a passar agora na frente é uma vergonha na qual nós não necessitamos de participar. Precisamos esperar pelo momento em que possamos provar em plenos do que somos capazes", afirma o homem identificado como Prigozhin.

"Por isso tomamos a decisão de nos acantonarmos aqui na Bielorrússia durante os próximos tempos. Tenho a certeza que neste período tornaremos o exército bielorrusso o segundo maior do mundo. E se for necessário e chegarmos aí, iremos defende-los", acrescenta.
"Bem-vindos ao Inferno"
"Quero pedir a todos que tenham realmente em atenção que os bielorrussos nos acolheram não apenas como heróis, mas também como irmãos", sublinha ainda o alegado fundador do grupo Wagner, sugerindo que a estadia na Bielorrússia poderá ser temporária e que a sede do grupo poderá voltar a ser transferida.

As principais operações dos mercenários decorrem agora somente em África, onde a sua presença tem ajudado há vários anos os Governos da República Centro Africana e do Mali a manter-se no poder, e será esse o próximo passo.

"Devemos preparar-nos, melhorarmos e iniciar uma nova viagem para África", refere o alegado Prigozhin. "Talvez regressemos [à Ucrânia] quando estivermos confiantes de que não nos irão pedir para nos envergonharmos e à nossa experiência".

O vídeo mostra depois o alegado líder a receber uma bandeira negra do grupo Wagner, decorada com o moto Sangue, Honra, Pátria, Coragem, do seu campo no sul da Rússia.

Após o discurso incial, um homem identificado como Dmitry Utkin, o número dois do grupo Wagner, dirigiu-se igualmente aos homens. "Isto não é o fim. Isto é somente o início do maior trabalho do mundo que irá ser lavado a cab em breve", afirmou, em russo.

Utkin acrescenta, em inglês, "bem-vindos ao inferno!".

O grupo Wagner foi fundado por Prigozhin e por Dmitry Utkin, um antigo oficial das forças especiais russas do GRU, o serviço secreto militar, para possibilitar à Rússia envolver-se oficiosamente em conflitos externos.

O grupo ajudou a Rússia a anexar a Crimeia em 2014 e combateu o Estado Islâmico na Síria. Integrou a Operação Especial da Ucrânia, designação russa para a invasão, tendo tomado a cidade de Bakhmut com grandes perdas para ambos os lados. Mantém ainda operações na República Centro Africana e no Mali.

Os mercenários, entretanto reforçados por prisioneiros dos centros de detenção da Rússia, mantêm uma força de 25.000 homens, de acordo com alegações de Prigozhin.
Destino incerto
O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, afirmou em junho ter estabelecido um acordo com Prigozhin e o Presidente russo Vladimir Putin para por cobro às 24 horas de motim do Grupo Wagner. O acordo incluiu a transferência das tropas Wagner da Rússia para a Bielorrússia, para auxiliar no treino das forças armadas bielorrussas. O armamento pesado dos mercenários terá ficado na Rússia.

Os combatentes do Wagner começaram a chegar ao país na terça-feira, de acordo com imagens satélite e vídeos publicados nas redes sociais. O primeiro comboio de tropas entrou numa base militar em desuso na Bielorrússia e outros dois estarão a caminho.

O que sucedeu a Prigozhin depois da rebelião de junho é causa para rumores. O líder Wagner foi filmado oficialmente pela última vez em junho na cidade russa de Rostov, tomada pelo grupo horas antes, quase sem ter sido disparado um tiro. 

Apesar de Lukachenko ter dito que o líder dos mercenários estava na Bielorrússia e de Prigozhin ter ser sido alegadamente avistado na capital, Minsk, durante semanas ninguém soube dele. Lukachenko desdisse entretanto as anteriores afirmações e referiu que Prighozin estava ainda em São Petersburgo, na sede russa do grupo Wagner, e que "poderia estar em trânsito para Moscovo ou outras partes".

O líder do Mi6, os serviços secretos britânicos, confirmou que Prigozhin estava vivo e em liberdade, referindo ainda que Vladimir Putin não teve outra solução além de chegar a acordo com o líder das Wagner "para salvar a própria pele".

Putin prometeu inicialmente esmagar a rebelião Wagner, comparando-a à turbulência que originou a revolução de 1917 e o regime soviético e considerando Prigozhin um "traidor" mas, horas depois, anunciou o acordo com Prigozhin e a transferência dos combatentes do grupo para a Bielorrússia.
PUB