Vídeo desmente Israel. Jornalista palestiniana não foi morta devido a situação de tiroteio

por RTP
Um mural de Shireen Abu Akleh pintado na cidade de Nazaré Reuters

Um vídeo verificado pela Al Jazeera mostra que a zona de Jenin onde foi assassinada Shireen Abu Akleh não estava a ser local de combates nos momentos antes de a jornalista ter sido atingida com uma bala na cabeça. Os israelitas acusaram os palestinianos de serem os autores dos disparos, alegando haver intensos combates na área.

Nas imagens agora publicadas pode ver-se várias pessoas em conversa, de forma calma, outras com coletes azuis com a palavra “PRESS” (jornalista). Shireen Abu Akleh e os colegas dirigiam-se para uma área de Jenin (Cisjordânia) onde havia forças israelitas quando, de um momento para o outro, se ouviram uma série de disparos, um deles acabando por atingir mortalmente Shireen na cabeça, imediatamente abaixo da orelha, onde a jornalista não estava protegida nem pelo capacete nem pelo colete à prova de balas.

Um outro jornalista foi atingido nas costas, mas sobreviveu ao disparo.

Assim que os primeiros tiros foram disparados, as pessoas que se encontram mais atrás fugiram na direção oposta de onde se encontravam as forças israelitas. A imagens mostram Shireen Abu Akleh já no chão, depois de ter sido atingida.


A morte da jornalista, que também tem nacionalidade norte-americana, está a ser vista como uma execução do exército israelita, levando a uma onda internacional de repúdio, com as Nações Unidas a pedirem uma investigação transparente e independente.

Inicialmente, ambos os países se manifestaram dispostos a levar a cabo a sua própria investigação sobre os acontecimentos de 11 de maio nos territórios ocupados da Palestina, mas Israel recuou nessa intenção. Entretanto, esta quinta-feira um oficial do exército israelita disse que foi identificada a alegada arma usada para atirar sobre a jornalista, acrescentando que não podem ser adiantadas mais conclusões por as autoridades palestinianas se terem recusado a entregar a bala.

Os palestinianos já fizeram saber que não vão entregar essa bala.

Nos dias posteriores ao assassinato, Israel responsabilizou os palestinianos pela morte de Shireen Abu Akleh, divulgando imagens de um resistente palestiniano a disparar a partir de um beco.

No entanto, investigadores do grupo israelita de direitos humanos B’Tselem verificaram as imagens e perceberam que as mesmas foram gravadas a 300 metros do local onde foi morta Shireen, sem qualquer sítio onde se possa ver o local onde a jornalista foi atingida.

A mesma conclusão foi alcançada pela Al Jazeera, que avançou que esse palestiniano armado tinha dezenas de edifícios entre ele e a jornalista enquanto que, por outro lado, havia um grupo de atiradores do exército israelita com linha direta de tiro para a jornalista. Nesta imagem retirada da emissão da Al Jazeera pode perceber-se a disposição dos potenciais atiradores - o comando israelita (ISRAELI FORCES) e o militante palestiniano (PALESTINIAN FIGHTER) - e de Shireen.

A parte palestiniana acusa o Tsahal de ter usado um sniper que teria uma única missão: eliminar Shireen, a jornalista mais ativa no tratamento da questão Palestiniana e da ocupação israelita, uma voz que há duas décadas era incómoda para Israel.



Ontem, os media israelitas confirmaram que as autoridades de Israel já não tinham qualquer plano para investigar a morte da jornalista. O Haaretz noticiou que a polícia israelita de investigação criminal acredita que investigar a morte de Shireen Abu Akleh pode fazer erguer movimentos oposicionistas dentro da sociedade israelita.

Vários legisladores norte-americanos pediram uma investigação ao FBI. A família da jornalista também quer respostas e já pediu ajuda ao governo dos Estados Unidos e à comunidade internacional para que seja levada a cabo uma investigação independente.
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