"Vida normal num país normal". As ideias de Boris Nadezhdin, aspirante a adversário de Putin

por Carlos Santos Neves - RTP
“As pessoas estão cansadas de tudo isto”, afirma o ex-deputado oposicionista Boris Nadezhdin Evgenia Novozhenina - Reuters

Cem mil assinaturas em 40 regiões até ao final de janeiro. É esta a marca que Boris Nadezhdin terá de alcançar, pelo menos no que à letra da lei diz respeito, para oficializar a sua candidatura à eleição presidencial russa, em meados de março. Aos 60 anos, o ex-deputado oposicionista propõe-se enfrentar o poderoso aparelho da Rússia Unida, de Vladimir Putin, com um programa que passa pelo fim da guerra na Ucrânia. O Kremlin desvaloriza-o: “Não o vemos como um rival”.

Como observa a agência Reuters, que obteve declarações exclusivas de Nadezhdin, o objetivo do calar das armas na denominada “operação especial” em solo ucraniano parece estar a conferir um impulso de popularidade a este candidato a candidato.

Boris Nadezhdin tem de reunir 100 mil assinaturas para tal. Fasquia que os seus apoiantes afiançam ter sido já alcançada, graças sobretudo a bases de apoio em Moscovo e São Petersburgo. Ainda assim, será necessário alargar consideravelmente a distribuição geográfica dos subscritores da candidatura – as assinaturas têm de cobrir pelo menos 40 regiões russas.Há atualmente 11 candidatos à Presidência russa. Os detratores do Kremlin de Putin assinalam que o regime precisa de figuras como Boris Nadezhdin para criar um simulacro de democracia.

O ex-legislador diz-se confiante. E diz-se ele próprio surpreendido com as filas que se formaram para a subscrição do seu projeto de candidatura, em virtude do apelo ao fim das hostilidades com o país vizinho. O apoio a esta ideia, estima, “é enorme”.

“As pessoas estão cansadas de tudo isto. Querem viver uma vida normal num país normal, não querem o que está a acontecer”, propugna à Reuters.

“As pessoas estão a colocar a sua assinatura não porque gostem mesmo de mim, mas simplesmente porque é uma hipótese de fazer algo pela paz, para que toda esta história acabe e para que parem de morrer pessoas”, acentua.
“Quero mudar o país”
Numa Rússia-fortaleza onde a crítica pública ao belicismo do Kremlin vale penas de prisão – onde o rosto de proa da oposição a Vladimir Putin, Alexei Navalny, permanece atrás das grades sem vislumbre de liberdade futura -, Nadezhdin procura pronunciar-se com cautela.

“Não estou a tentar violar a lei ou apelar à agitação. Estou a agir de acordo com a lei. Não consigo ver como é que eles não podem registar-me”.

“Quero mudar o país. Quero que a Rússia seja um país pacífico, um país livre”, insiste.


E quanto ao financiamento? Nadezhdin garante que lhe chega das bases e que são estas a verdadeira força da sua investida.

“Viram filas à porta do quartel-general de Putin, viram multidões ao frio a dizerem que queriam dar a sua assinatura a Putin? Não aconteceu. Parece-me que, depois de pormos esta campanha a andar, o próprio Putin não terá muita certeza disso”, arrisca.
“Qualquer cidadão tem o direito de concorrer”

Confrontado com a mensagem de Nadezhdin e a aparente adesão popular ao seu discurso, o Kremlin apoia-se nos índices oficiais de aprovação do presidente russo, a rondar os 80 por cento, e acondiciona o potencial adversário na estante das demais candidaturas tidas por inócuas.As eleições para a Presidência da Federação Russa vão realizar-se de 15 a 17 de março.


A máquina de Putin, no poder desde o final de 1999, enquanto presidente ou primeiro-ministro, apoia-se também em mais de três milhões de assinaturas já averbadas nas folhas de cálculo do partido Rússia Unida.

Ao cabo de dois anos de sistemática propaganda pró-guerra, via defendida nos media estatais como uma batalha existencial pelo fim da hegemonia do Ocidente, o gabinete do presidente não esconde que não sobejam dúvidas sobre o desfecho do escrutínio: novo mandato presidencial de seis anos.

Quanto a Nadezhdin, o Kremlin não lhe reconhece potencial de ameaça. “De modo algum, não o vemos como um rival. Qualquer cidadão tem o direito de concorrer para presidente se preencher um número de condições”, resume o porta-voz Dmitry Peskov.
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