Venezuela. O socialismo de Maduro e a repressão contra os socialistas desiludidos
Este verão, um conhecido dirigente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, o partido do Governo) foi sequestrado e assassinado depois de ter denunciado a corrupção na distribuição local de combustível e o tráfico ilícito de substâncias estupefacientes e psicotrópicas no Estado onde vivia. Com o objetivo de consolidar o poder, o presidente venezuelano tenta reprimir os ativistas de esquerda que sempre o apoiaram e que, agora, se afastam dos seus ideais e denunciam a corrupção e o favoritismo existentes no Governo.
Horas depois Bislick, de 51 anos, foi encontrado sem vida, com vários ferimentos provocados por balas e, segundo relata o New York Times, tendo vestida a camisola com a imagem do Che Guevara que sempre costumava usar.
"Na quarta-feira 18 de agosto, a vítima foi levada da sua casa, no seu carro, por quatro homens que entraram pelas traseiras da residência, situada no setor Guayacán do município Valdez (Estado de Sucre)", noticiou a imprensa local na altura.
O certo é que as eleições, boicotadas pela oposição e denunciadas por grupos de defesa dos direitos humanos, podem levar ao que costumava ser uma das democracias mais consolidadas da América Latina à beira de um Estado de partido único.
A crise política, económica e social na Venezuela agravou-se desde janeiro de 2019, quando Juan Guaidó jurou assumir as funções de Presidente interino do país até afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um Governo de transição e eleições livres e democráticas. A oposição venezuelana não reconhece Nicolás Maduro como presidente da Venezuela e insiste em denunciar alegadas irregularidades nas eleições presidenciais antecipadas de 2018, acusando o chefe de Estado de estar a "usurpar" o poder.
Mas desde junho, o Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela suspendeu a direção dos quatro maiores partidos opositores Vontade Popular, Primeiro Justiça, Ação Democrática, Um Novo Tempo, bem como de vários partidos afetos ao regime, entre eles o Pátria para Todos, e ordenou que fossem reestruturados, nomeando direções provisórias para estes partidos.
Esta decisão foi classificada pela oposição como uma manobra de preparação "para uma nova farsa eleitoral", em que o regime decidirá quem preside aos partidos nas próximas eleições.
"Quem faz qualquer crítica é considerado como oposição, como a direita, é chamado de traidor", disse ao jornal norte-americano Ares Di Fazio, ex-guerrilheiro urbano e líder do Partido Tupamaros, de extrema esquerda, que foi desmantelado pelo governo em agosto após ter manifestado descontentamento.
Mesmo os membros da aliança eleitoral governamental que decidiram concorrer, agora, como independentes são desqualificados. Aqueles que de alguma forma perseveraram são perseguidos pela polícia ou acusados de crimes que não cometeram.
Em parte, a repressão interna é a prova de que Maduro quer acabar com as políticas de redistribuição de riqueza do seu falecido antecessor Hugo Chávez, em prol de um capitalismo de camaradas para sobreviver ao agravamento das sanções norte-americanas.
Segundo o NYT, esta reviravolta política conseguiu legalizar a economia de mercado negro da Venezuela, desvalorizando a corrupção generalizada e permitindo a Maduro manter a lealdade das elites militares e empresariais que se aproveitam da nova ordem económica.
Estes movimentos políticos, alguns dos quais datam das revoluções da Guerra Fria, fizeram campanha pelos candidatos de Maduro, mobilizaram simpatizantes para manifestações do governo e às vezes perseguiram manifestantes da oposição. Mas estes aliados de longa data começaram a ficar cada vez mais dececionados com o autoritarismo e a corrupção de Maduro e começaram a afastar-se. Este ano, pela primeira vez, alguns decidiram apresentar os seus próprios candidatos à assembleia e não apoiar Nicolás Maduro, que desde então aumentou a repressão a todos os que considera traidores e opositores.