Venezuela. Espanha trabalha para "manter margem de mediação" até ao final do ano

por Lusa

Espanha continua a trabalhar no seio da União Europeia para manter "uma margem de mediação" na Venezuela, com o objetivo de encontrar uma saída que respeite "a vontade democrática" manifestada nas eleições de julho, disse hoje o primeiro-ministro espanhol.

O líder do Governo espanhol explicou que o objetivo é manter essa "margem de mediação" até ao final do ano e referiu que, neste momento, Espanha não reconhecerá Edmundo González Urrutia, o candidato da oposição ao regime de Nicolás Maduro, como vencedor das eleições presidenciais da Venezuela.

"O Governo de Espanha pediu a publicação das atas das eleições na Venezuela. Não reconhecemos a vitória de Maduro e trabalhamos pela unidade dentro da União Europeia que permita uma margem de mediação até ao final do ano, para podermos encontrar uma saída que transmita a vontade democrática expressa nas urnas pelo povo venezuelano", afirmou Sánchez, numa conferência de imprensa na China, país que visitou nos últimos dias.

Edmundo González Urrutia, que reivindica vitória nas eleições venezuelanas de julho, chegou no domingo a Madrid e pediu asilo político a Espanha.

Sánchez disse hoje que a concessão de asilo político a González Urrutia foi um "gesto de humanidade, de compromisso humanitário da sociedade espanhola e do Governo com uma pessoa que, infelizmente, é alvo de perseguição e repressão".

O primeiro-ministro espanhol lamentou as críticas da direita e extrema-direita espanholas (Partido Popular e Vox) - que acusou de incongruência e de usarem politicamente a situação na Venezuela - e questionou qual teria sido a reação dos partidos e da sociedade espanhola se o Governo tivesse recusado o pedido de asilo de González Urrutia.

O parlamento espanhol vota hoje uma iniciativa do Partido Popular (PP) que recomenda ao Governo o reconhecimento de Edmundo González Urrutia como presidente eleito da Venezuela, como já fizeram outros países.

O PP invocou, no debate da proposta, na terça-feira, que há "razões éticas evidentes" para reconhecer González Urrutia vencedor das eleições, por estar em causa a defesa da "democracia e da liberdade" na Venezuela, como Espanha faz em relação ao resto do mundo, dando como exemplo a Ucrânia.

A deputada do PP Cayetana Álvarez de Toledo reiterou também a acusação aos socialistas espanhóis de estarem alinhados com o regime de Maduro e de Espanha ter retirado González Urrutia de Caracas e acordado dar-lhe asilo numa "operação desenhada pela ditadura [o regime venezuelano]" que obrigou o dirigente da oposição "a sair do seu país entre chantagens e coações".

Depois desta "operação", reconhecer Edmundo González Urrutia como presidente eleito da Venezuela é também "um imperativo", considerou o PP.

Também o líder do Vox (extrema-direita), Santiago Abascal, considerou, em declarações aos jornalistas, que González Urrutia está num "exílio forçado" desde domingo que é vantajoso para o regime de Maduro, e responsabilizou os socialistas espanhóis.

O Partido Socialista (PSOE), através da deputada Cristina Narbona, reiterou o que tem dito nos últimos dias: Espanha tem a mesma posição de toda a União Europeia, que está a agir como um bloco; foi o Governo de Madrid que levou a questão a Bruxelas e o Governo respondeu a um pedido de "asilo político" do próprio González Urrutia.

Cristina Narbona considerou que reconhecer González Urrutia presidente eleito seria dar "expectativas falsas" aos venezuelanos, fazendo-os acreditar numa "varinha mágica que faria desaparecer o regime de Maduro", e lembrou o precedente de Juan Guaidó, cujo reconhecimento pela comunidade internacional não teve qualquer efeito.

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