A principal unidade hoteleira da Guiné-Bissau, o Bissau Hotel, foi vendida a interesses líbios, mas a concretização do negócio anunciada hoje suscitou de imediato a polémica, com acusações de fraude entre governo e oposição.
A confirmação da venda foi feita pela secretária de Estado do Turismo, Lurdes Vaz, e pelo director-geral da Cooperação do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), Artur Silva.
Segundo aqueles responsáveis, o hotel foi adquirido pela "Laicco", agência Líbia de Promoção de Negócios em África, na sequência de um acordo de princípio assinado em 2002 pelo então presidente da República, Kumba Ialá.
Ainda de acordo com as mesmas fontes, o hotel foi vendido por dois milhões e setecentos mil dólares, mas parte desse dinheiro terá sido levantado ainda em 2002 por Kumba Ialá, meses antes de ser deposto.
O actual executivo "limitou-se a dar continuidade ao negócio feito" pelo anterior governo, explicou a secretária de Estado do Turismo.
"Por uma questão de princípio, de continuidade e de decoro do Estado, este governo viu-se confrontado com um facto consumado. Portanto, o hotel a partir de agora pertence a interesses líbios", acrescentou.
Saindo em defesa de Kumba Ialá, fundador do Partido da Renovação Social (PRS, oposição), esta força política acusou o governo de "estar a faltar à verdade" nas explicações que deu sobre a venda do hotel.
"Quem de facto vendeu o hotel foi este governo, não Kumba Ialá. O governo diz que respeita o princípio da continuidade de Estado, mas não tem a mesma atitude noutros casos, como por exemplo a gasolineira da Lenox que mandou deitar abaixo", afirmou Baptista Correia, porta-voz do PRS.
Em Janeiro, o governo de Carlos Gomes Júnior obrigou a demolir a gasolineira da empresa libanesa "Lenox", justificando que as obras foram feitas num espaço proibido pelo plano director municipal e imputando as responsabilidades ao executivo de Kumba Ialá, por permitir uma obra que infringia a lei.
"É caso para se dizer que este governo tem dois pesos e duas medidas. É tudo fraude do nosso ponto de vista", argumentou o porta-voz do PRS.
Também os trabalhadores e actual equipa gestora do hotel, o grupo gambiano ETT, reagiram ao anúncio do governo, queixando-se por não terem sido consultados e, no caso da empresa, exigindo uma indemnização pelos investimentos efectuados ao abrigo de um contrato que só terminava em 2006.
Contactado pela Lusa, fonte do ministério da Economia e Finanças precisou que os gambianos terão de devolver o hotel até Abril e que não há razão para indemnizações porque "não efectuaram qualquer investimento de vulto".
O Bissau Hotel, construído em 1988, situa-se na avenida principal da capital guineense e possui 166 quartos, embora a maioria esteja fora de uso, por terem sido danificados durante os bombardeamentos de 1998/99 e não recuperados.