Cidade do Vaticano, 22 abr (Lusa) -- O Vaticano refutou hoje acusações de que o papa João Paulo II soube e ignorou alegações sobre abusos sexuais cometidos pelo padre mexicano Marcial Maciel, que fundou um poderoso movimento católico.
"O estudo dos documentos pessoais do papa" durante o processo para a canonização demonstram que "não há qualquer implicação pessoal do Santo Padre neste caso", disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, numa conferência de imprensa sobre a cerimónia de canonização dos papas João Paulo II e João XXIII, prevista para domingo.
O escândalo sobre Marcial Maciel, que fundou a Legião de Cristo e era um predador em série, foi um de milhares de casos de abusos sexuais realizados por religiosos que começaram a surgir durante o papado de João Paulo II.
As alegações sobre Maciel começaram a aparecer na década de 1980, mas foram consistentemente ignoradas pela hierarquia da Igreja católica, que em vez disso aprovou estatutos para o grupo que de facto baniam as críticas a Maciel e permitiram o crescimento de um culto de personalidade em seu redor.
Acabou por se descobrir que Maciel molestara muitos seminaristas e abusara dos filhos que teve de várias mulheres, apesar dos seus votos de castidade.
A história da Legião, cujos membros são referidos como legionários, foi vista como um dos principais obstáculos à canonização do papa polaco.
Os opositores da canonização acusam João Paulo II de pôr os interesses da Igreja católica acima de tudo e de fazer vista grossa às acusações de pedofilia.
Em concreto, apontam o seu longo apoio a Maciel, recebido em audiência em 2004, quando o papa estava já doente, e numa altura em que o padre mexicano era já acusado de corrupção e de abusos sexuais.
Aquele movimento da Igreja, obediente à autoridade papal e capaz de encher os seus seminários, impressionara positivamente João Paulo II, que, marcado pelas campanhas caluniosas dos serviços secretos comunistas contra a igreja polaca, recusava acreditar nas vozes acusadoras.
O papa condenou os abusos sexuais cometidos por membros da Igreja durante uma visita aos EUA em 2002, mas o seu sucessor, Bento XVI, foi mais longe e pediu desculpas publicamente, excomungando padres e apelando a uma política de tolerância zero.