Variante Delta. Estudo equipara cargas virais de vacinados e não inoculados

por Cristina Sambado - RTP
Jorge Silva - Reuters

Adultos totalmente vacinados contra a Covid-19 podem ter uma carga viral tão elevada como os não inoculados se infetados com a variante Delta, segundo um estudo realizado no Reino Unido e que vem reforçar a ideia de que a imunidade de grupo é improvável.

Há evidência de que as vacinas contra a Covid-19 administradas no Reino Unido continuam a oferecer uma significativa proteção contra hospitalizações e mortes. Mas este novo estudo revela que, embora estar totalmente vacinado signifique que o risco de ser infetado com o SARS-CoV-2 seja mais reduzido, se estiver em causa a variante Delta, uma pessoa pode carregar níveis de vírus semelhantes aos de pessoas não inoculadas.

As implicações dessa situação na transmissão da variante Delta permanecem confusas, advertem os autores do estudo, que foi conduzido por especialistas da Universidade de Oxford em parceria com o Instituto Nacional de Estatística, o Departamento de Saúde e Assistência Social.

“Ainda não sabemos quanta transmissão pode acontecer às pessoas que ficam infetadas após a vacina – por exemplo, elas podem ter uma alta carga viral por períodos mais curtos de tempo”,
afirmou Sarah Walker, professora de estatística médica e epidemiologia da Universidade de Oxford, ao jornal The Guardian.

“Mas o facto de as pessoas vacinadas poderem ter elevados níveis de vírus sugere que quem não foi inoculado pode não estar tão protegido contra a variante Delta como esperávamos”, acrescentou. O estudo comparou resultados de 2,6 milhões de zaragatoas ao nariz e garganta retirados de mais de 384.500 adultos entre dezembro de 2020 e maio de 2021, e mais 811.600 resultados de testes de 358.983 adultos entre meados de maio e 1 de agosto de 2021 (período em que a variante Delta se tornou dominante).

No Reino Unido, os novos casos de infeção, hospitalizações e óbitos têm vindo a aumentar lentamente nos últimos tempos. Na semana até 18 de agosto, 211.238 pessoas tiveram teste positivo, um aumento de 7,6 por cento em comparação com os sete dias anteriores. No mesmo período, foram reportados 655 óbitos em 28 dias após teste positivo, um aumento de 7,9 por cento em relação aos sete dias anteriores. Os internamentos também tiveram um ligeiro aumento, com 5.623 hospitalizações entre 8 e 14 de agosto, um aumento de 4,3 por cento em comparação com os sete dias anteriores.

O estudo, que ainda não foi revisto por pares, descobriu que a eficácia da vacina diminui contra a variante Delta em comparação com a variante Alpha anteriormente dominante.

A análise não investigou diretamente se o nível mais baixo de proteção da vacina contra a variante Delta afetou a capacidade de prevenir a doença grave. No entanto, Penny Ward, professora de medicina farmacêutica no King´s College de Londres afirmou: “A baixa tendência de hospitalização observada até ao momento sugere que, a esse respeito, pelo menos as vacinas estão a proteger a população do desenvolvimento da Covid grave”.

As descobertas do Reino Unido sobre os níveis máximos de carga viral após infeção com a variante Delta em pessoas vacinadas reproduziram dados de um estudo citado pelo Centro de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos realizado no passado mês. Essas investigações sustentaram a decisão de recomendar o uso de máscara em ambientes fechados, independentemente do estado de vacinação, especialmente em áreas onde a possibilidade de transmissão do vírus seja elevada.

Para Koen Pouwels, do departamento de Saúde populacional de Nuffield da Universidade de Oxford, “estes dados destacam potencial das pessoas vacinadas de transmitirem o SARS-CoV-2 aos outros e a importância de testes e autoisolamento para reduzir o risco de transmissão”.

Este potencial de transmissão torna o alcance da imunidade de grupo ainda mais desafiante”, frisou.

O conceito de imunidade de grupo depende de uma grande maioria da população estar imunizada – seja por vacinação ou por infeção – que, por sua vez, fornece proteção indireta de uma doença infeciosa para os não vacinados e para os que não foram infetados anteriormente.

A esperança era que pudéssemos vacinar pessoas suficientes para proteger os não vacinados”, frisou Sarah Walker.

A professora de estatística médica e epidemiologia da Universidade de Oxford suspeita que “em parte, os níveis mais elevados de vírus que estamos a observar nas infeções com a variante Delta em pessoas vacinadas são consistentes com o facto de que as não inoculadas estarem em maior risco”.

O estudo revela ainda que, duas doses da Pfizer/BioNTech têm eficácia inicial em cerca de 15 por cento contra novas infeções, mas a proteção diminui mais rapidamente em comparação com duas doses de Oxford/AstraZeneca.

No entanto, cerca de quatro a cinco meses após ter sido totalmente inoculado por qualquer uma das vacinas, a proteção é relativamente a mesma.

“Mesmo com esse leves declínios na proteção contra todas as infeções e infeções com alta carga viral, é importante observar que a eficácia geral ainda é muito alta porque estávamos a começar com um nível de proteção muito alto”, acrescentou Pouwels.
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