“Vamos reconstruir Notre-Dame”. Paris e o mundo em choque após incêndio devastador
Um grande incêndio consumiu parte significativa do icónico monumento da capital francesa, uma catedral com mais de 800 anos de história. Ao final da noite, as autoridades confirmaram que a estrutura ficou a salvo de uma destruição absoluta e o Presidente francês confirmou que a edificação principal foi “salva e preservada”. Emmanuel Macron admitiu, no entanto, que este incêndio foi “uma tragédia terrível” para todos os franceses. "L'ensemble du feu est éteint", annonce le porte-parole des pompiers de Paris. Os bombeiros deram como extinto o incêndio apenas esta manhã de terça-feira.
As chamas começaram a consumir Notre-Dame cerca das 18h50 locais (17h50 em Lisboa), tendo atingido grande parte do edifício. Uma hora depois do início do incêndio, o pináculo desabava, mais precisamente às 19h53 de Paris.
Ao final da noite de segunda-feira, os bombeiros continuavam no local a tentar salvar as estruturas interiores de um possível colapso.
Minutos depois, pouco depois das 20h07, começou a desabar a estrutura superior, tendo ficado apenas um terço do telhado.
Apesar dos estragos para já incalculáveis neste património quase milenar, a estrutura da catedral ficou preservada na sua totalidade, segundo confirmaram as autoridades parisienses ao final da noite.
“Notre-Dame faz parte da nossa história, da nossa literatura, da nossa psique, foi local de grandes eventos, de epidemias, das nossas guerras, das nossas libertações, o epicentro das nossas vidas”, acrescentou ainda o chefe de Estado. Antes, Macron admitia no Twitter: “Esta noite estamos a ver a arder uma parte de nós”.
Sofreu alterações e modificações profundas nos momentos mais marcantes da história de França. Durante a Revolução Francesa, a catedral foi visada por várias pilhagens e destruição. Em 1804, foi aqui que Napoleão Bonaparte foi sagrado imperador. No século XIX, num período de grande turbulência social, foi novamente alvo de roubos e até de um incêndio.
O edifício é primordial no romance “Notre-Dame de Paris”, de Victor Hugo. Nele surgem as personagens de Quasímodo, ou o corcunda de Notre Dame, e Esmeralda, que viriam a protagonizar várias fitas ao longo das décadas seguintes, incluindo o aclamado filme de animação dos estúdios da Disney.
O livro de Victor Hugo deu alento àquela construção, que começou então a receber cada vez mais atenção de estudiosos e curiosos. Em pleno século XX, durante a II Guerra Mundial, já na fase final da ocupação alemã, Adolf Hitler mandou destruir todos os grandes monumentos da capital francesa, mas Notre Dame escapou. Seriam os sinos da catedral a anunciarem a libertação de França, a 25 de agosto desse ano.
Património Mundial da UNESCO, a catedral recebe cerca de 13 milhões de visitantes todos os anos. É conhecida dos turistas e transeuntes sobretudo pelas suas estátuas e obras milenares, pelos enormes vitrais e pelas gárgulas localizadas no topo da estrutura, parte da paisagem e do imaginário de uma Paris vista a partir da cobertura que hoje foi devorada pelas chamas.
Em plena semana santa, celebrada pelos cristãos de todo o mundo, alguns dos objetos mais valiosos que geralmente eram guardados no interior da catedral tinham sido retirados recentemente, uma vez que o edifício estava em fase de reabilitação. Sabe-se que algumas das principais relíquias religiosas da catedral, incluindo a coroa de espinhos de Cristo, ficaram a salvo, segundo confirmou Patrick Chauvet, um clérigo ligado a Notre Dame.