Um grande incêndio consumiu parte significativa do icónico monumento da capital francesa, uma catedral com mais de 800 anos de história. Ao final da noite, as autoridades confirmaram que a estrutura ficou a salvo de uma destruição absoluta e o Presidente francês confirmou que a edificação principal foi “salva e preservada”. Emmanuel Macron admitiu, no entanto, que este incêndio foi “uma tragédia terrível” para todos os franceses. "L'ensemble du feu est éteint", annonce le porte-parole des pompiers de Paris. Os bombeiros deram como extinto o incêndio apenas esta manhã de terça-feira.
As chamas começaram a consumir Notre-Dame cerca das 18h50 locais (17h50 em Lisboa), tendo atingido grande parte do edifício. Uma hora depois do início do incêndio, o pináculo desabava, mais precisamente às 19h53 de Paris.
Ao final da noite de segunda-feira, os bombeiros continuavam no local a tentar salvar as estruturas interiores de um possível colapso.
Minutos depois, pouco depois das 20h07, começou a desabar a estrutura superior, tendo ficado apenas um terço do telhado.
Apesar dos estragos para já incalculáveis neste património quase milenar, a estrutura da catedral ficou preservada na sua totalidade, segundo confirmaram as autoridades parisienses ao final da noite.
Imagens do interior da catedral que surgiram já perto da meia-noite mostravam que a nave colapsou, mas que os estragos no interior não terão assumido proporções tão terríveis como era inicialmente esperado.
Horas antes, temia-se o pior em toda a estrutura, com a aproximação do fogo a uma das torres que compõem a fachada do edifício. O Governo francês chegou mesmo a admitir que poderia não ser possível salvar a catedral.
O trabalho de centenas de bombeiros permitiu evitar que as chamas consumissem e levassem ao colapso das duas torres sineiras principais. Um dos bombeiros ficou gravemente ferido. Não houve registo de mais feridos ou vítimas deste fogo.
Numa declaração aos jornalistas ao final da noite, o Presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu que tudo irá ser feito para reconstruir o monumento.
“Notre-Dame faz parte da nossa história, da nossa literatura, da nossa psique, foi local de grandes eventos, de epidemias, das nossas guerras, das nossas libertações, o epicentro das nossas vidas”, acrescentou ainda o chefe de Estado. Antes, Macron admitia no Twitter: “Esta noite estamos a ver a arder uma parte de nós”.
Ainda não se sabe o que provocou o incêndio desta segunda-feira, mas os bombeiros suspeitam que o fogo terá começado no sótão da catedral, local onde decorriam trabalhos de reabilitação do edifício há mais de um ano. Uma investigação para apurar as causas do incêndio foi entretanto anunciado pelas autoridades parisienses.
Imagens da catedral de Notre Dame antes do incêndio desta segunda-feira
Mais de 800 anos de um "vulnerável monumento"
Sofreu alterações e modificações profundas nos momentos mais marcantes da história de França. Durante a Revolução Francesa, a catedral foi visada por várias pilhagens e destruição. Em 1804, foi aqui que Napoleão Bonaparte foi sagrado imperador. No século XIX, num período de grande turbulência social, foi novamente alvo de roubos e até de um incêndio.
O edifício é primordial no romance “Notre-Dame de Paris”, de Victor Hugo. Nele surgem as personagens de Quasímodo, ou o corcunda de Notre Dame, e Esmeralda, que viriam a protagonizar várias fitas ao longo das décadas seguintes, incluindo o aclamado filme de animação dos estúdios da Disney.
No final do século XIX, o edifício já estava em degradação avançada. “A igreja de Notre-Dame de Paris é ainda hoje um majestoso e sublime edifício. Mas por mais bela que seja conservada enquanto envelhece, é difícil não suspirar, e não nos indignarmos perante as degradações, as mutilações sem nome que em simultâneo o tempo e os homens provocaram no venerável monumento, sem respeito por Carlos Magno que colocou a primeira pedra, por Filipe-Augusto que colocou a última", apontava o escritor numa das páginas do romance.
O livro de Victor Hugo deu alento àquela construção, que começou então a receber cada vez mais atenção de estudiosos e curiosos. Em pleno século XX, durante a II Guerra Mundial, já na fase final da ocupação alemã, Adolf Hitler mandou destruir todos os grandes monumentos da capital francesa, mas Notre Dame escapou. Seriam os sinos da catedral a anunciarem a libertação de França, a 25 de agosto desse ano.
Património Mundial da UNESCO, a catedral recebe cerca de 13 milhões de visitantes todos os anos. É conhecida dos turistas e transeuntes sobretudo pelas suas estátuas e obras milenares, pelos enormes vitrais e pelas gárgulas localizadas no topo da estrutura, parte da paisagem e do imaginário de uma Paris vista a partir da cobertura que hoje foi devorada pelas chamas.
Em plena semana santa, celebrada pelos cristãos de todo o mundo, alguns dos objetos mais valiosos que geralmente eram guardados no interior da catedral tinham sido retirados recentemente, uma vez que o edifício estava em fase de reabilitação. Sabe-se que algumas das principais relíquias religiosas da catedral, incluindo a coroa de espinhos de Cristo, ficaram a salvo, segundo confirmou Patrick Chauvet, um clérigo ligado a Notre Dame.