Valência: a primeira comunidade a travar o desconfinamento

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Espanhóis protestam contra o prolongamento do confinamento em Espanha Sergio Perez - Reuters

Ao contrário de Itália e de grande parte dos países europeus, Espanha continua num rígido confinamento e o presidente Pedro Sánchez já anunciou um novo prolongamento do estado de emergência até 7 de junho. O executivo espanhol não quer seguir o exemplo de Itália, considerando que estão "a arriscar muito". Madrid voltou a solicitar, pela terceira vez, a passagem para a fase 1 de desconfimanento e a população está em protesto, enquanto Valência colocou um travão ao processo de levantamento das restrições.

Espanha e Itália seguiam lado a lado na luta contra a pandemia enquanto os dois países mais afetados pela pandemia na Europa. Madrid seguia os passos de Roma com apenas uma semana de intervalo, desde o fecho das escolas, à declaração do estado de emergência e à paralisação da economia. No entanto, os dois países seguem agora dois caminhos diferentes.

Enquanto em Itália, assim como na restante Europa, já se tenta regressar à normalidade com a retoma de quase todas as atividades económicas e a previsão de abertura das fronteiras a 3 de junho, Espanha não quer correr riscos e segue o plano de confinamento mais exigente de toda a União Europa.

Na quarta-feira, a vizinha Espanha prolongou o estado de emergência pela quinta vez até 7 de junho. A abertura das fronteiras não está prevista até, pelo menos, finais de junho e os espanhóis não deverão ter autorização para se deslocarem entre províncias antes de julho.

O executivo espanhol decidiu, por isso, separar-se do italiano por considerar que se está a precipitar. “Itália está a ir demasiado rápido no desconfinamento. Espero que corra tudo bem, mas estão a arriscar muito”, disse o presidente espanhol Pedro Sánchez. O cenário espanhol é, atualmente, ligeiramente melhor do que o italiano. Na quarta-feira, Espanha registou mais 95 mortes devido à Covid-19, ficando abaixo dos 100 pelo quarto dia consecutivo. No total, o país conta com mais de 27 mil óbitos. Em Itália, foi registado um aumento do número de mortes em 161, totalizando mais de 32 mil vítimas mortais.

O Governo espanhol defende que é melhor continuar em confinamento, mesmo que tal decisão prejudique a economia, do que arriscar ao ponto de ter de voltar arás e destruir a economia por completo.

“Itália sente muita pressão do setor turístico. Nós também, mas estamos a optar pela prudência. Eles estão a assumir um risco muito grande. No turismo apostas a tua reputação. Queremos voltar a ser um destino seguro e para isso não há nada melhor do que evitar uma volta atrás que destruiria a nossa imagem”, disse um membro do executivo espanhol a El País.

“Não faz sentido arriscar por mais umas semanas. Nós tomos o nosso plano de desconfinamento e vamos mantê-lo, temos que o proteger. Junho é a chave, não haverá movimento entre as províncias até que todas passem por todas as fases”, acrescentou. “Estamos a ir bem, não vamos estragar tudo agora”, sublinhou.

Giuseppe Conte, o primeiro-ministro italiano, priorizou a recuperação económica, contrariando a opinião de alguns epidemiologistas, e deixou as regiões decidirem os moldes do desconfinamento. O mesmo não acontece em Espanha, precisamente porque Sánchez quer garantir que prevaleça o critério científico e não o económico. Esta decisão levou a uma guerra entre Madrid e o executivo.
Valência: a primeira comunidade a travar o desconfinamento
No dia 11 de maio, 70 por cento do território espanhol entrou na fase 1 de desconfinamento, com o alívio de algumas medidas de restrição. A passagem para a fase seguinte é possível após duas semanas e no passado sábado, Valência tinha anunciado que iria solicitar esse avanço para a fase 2. No entanto, a comunidade decidiu colocar um travão e esperar mais uma semana depois de ter registado um ligeiro aumento do número de casos de infeção por Covid-19. Valência aumentou a taxa de reprodução de casos de 0,66 para 0,85, o que fez com que se tornasse a primeira comunidade a decidir desacelerar os seus planos nesta corrida para avançar de fase.

A ministra da Saúde, Ana Barceló, apelou à prudência: “Não temos um surto, mas queremos esperar mais uma semana. Permaneceremos na fase 1 por mais sete dias”.

Madrid e Barcelona – as cidades espanholas mais atingidas pela pandemia – ficaram de fora deste relaxamento de medidas e permaneceram em isolamento. As duas cidades permanecem ainda na fase 0 e os habitantes continuaram sob o dever de permanecer em casa e sair apenas às horas definidas por lei.

Descontente com esta decisão, Madrid voltou na quarta-feira a pedir o avanço para a fase 1 de relaxamento de medidas, depois de já ter visto o pedido negado por duas vezes por parte do Ministério da Saúde. Já Catalunha é a primeira vez que faz este pedido para a área metropolitana de Barcelona.

Na capital espanhola, a população contestou a decisão do Governo com protestos nas ruas no fim-de-semana passado, gritando por “liberdade”. Os habitantes partilham a opinião da presidente da comunidade de Madrid e membro do Partido Popular Conservador (PP), Isabel Díaz Ayuso, que criticou a decisão do Ministério da Saúde e acusou o Governo de estar a “aproveitar a maior crise da história recente da Espanha para impor uma única autoridade ditatorial”.

Em causa neste conflito estão os requisitos que o Governo espanhol estabeleceu para que uma comunidade possa avançar de fase. No caso de Madrid, o pedido tem sido recusado uma vez que o Ministério da Saúde considera que não cumprem um dos requisitos: o desenvolvimento do plano para detetar e acompanhar possíveis casos de infeção por Covid-19 e seus respetivos contactos.

Apesar de o executivo de Ayuso garantir que este plano está em funcionamento e Madrid tem capacidade para realizar 15 mil testes por dia, dezenas de profissionais de saúde, sindicatos e organizações médicas contradizem essas declarações.

O Ministério da Saúde de Espanha pediu a cada uma das comunidades que entreguem os pedidos de avanço de fase até à próxima segunda-feira para que possam discutir os detalhes. A decisão final será anunciada na sexta-feira.
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