No hemisfério sul, onde é agora inverno, as temperaturas registadas na Antártida oriental chegaram, em alguns dias de julho, a quatro graus negativos. Ou seja, cerca de 28 graus Celsius acima do que seria normal. Em média, o mercúrio dos termómetros subiu dez graus no mês passado devido a uma vaga de calor.
Esta é a segunda grande vaga de calor a atingir a região nos últimos dois anos. As temperaturas acima da média devem persistir pelo menos por mais dez dias.
Este evento quente (ou menos frio) chegou durante o inverno antártico, provocando uma subida de 20 a 30 graus Celsius acima do espectável em zonas da Antártida oriental onde as temperaturas estão a rondar 20 graus negativos. Neste local, o normal dos termómetros seria rondar os -50 graus C, nesta época. Houve ainda registos de temperaturas de -4, em alguns dias do mês de julho.
A anomalia destas temperaturas na Antártida é a maior do globo, de acordo com modelos climáticos, dizem os investigadores.
“Esta onda de calor é um evento de valores históricos do clima que está a ter grande impacto para a região da Antártida”, afirma Edward Blanchard, cientista atmosférico da Universidade de Washington, citado no jornal norte-americano The Washington Post.
“A grande marca da onda de calor é impressionante, pois cobre uma área significativa da Antártida Oriental, que compõe a maior parte do continente", observa Blanchard.
Transformação do planeta em cursoNum mundo em aquecimento, este é um "exemplo ameaçador perante os grandes picos de temperatura que esse clima polar pode experimentar com mais frequência", reitera o cientista.
Nos últimos 12 meses, o planeta registou valores de calor sem precedentes, com temperaturas excedendo consecutivamente o aumento de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Patamar que tem sido apontado como o limite para evitar o pior do colapso climático.
Os modelos dos cientistas do clima há muito que preveem que os efeitos mais significativos das mudanças climáticas produzidas pelo ser humano ocorrerão nas regiões polares. “E este é um ótimo exemplo”, sublinha Michael Dukes, diretor de previsão do MetDesk, citado no britânico The Guardian.Dukes explica que, embora as altas temperaturas diárias individuais tenham sido surpreendentes, muito mais significativo foi o aumento médio ao longo do mês”.
“Normalmente, não se pode olhar apenas para um mês para analisar uma tendência climática, mas estes valores estão bem alinhados com o que os modelos preveem”, argumentou. E alerta: “Na Antártida, geralmente, esse tipo de aquecimento no inverno e mantendo-se nos meses de verão pode levar ao colapso das camadas de gelo”.
Zeke Hausfather, investigador da Berkeley Earth, afirma que a onda de calor da Antártida "foi definitivamente um dos maiores impulsionadores do aumento das temperaturas globais nas últimas semanas".
Ao fazer uma leitura em perspetiva temporal, Hausfather argumenta que “a Antártida, como um todo, aqueceu juntamente com o mundo nos últimos 50 anos, ou mesmo provavelmente desde há 150 anos. Por isso, qualquer onda de calor já parte dessa linha base em crescimento”, acentua. Porém, “é seguro dizer que a maioria dos valores mais altos no último mês foi impulsionada pela onda de calor”.
É um “sinal de que as mudanças climáticas estão realmente a começar a transformar o planeta”, acrescenta Jonathan Overpeck, cientista da Universidade de Michigan.
A temperatura mais fria registada na Antártida foi de -89,6°C na estação Vostok, em 1983. O valor médio de inverno no Pólo Sul é de cerca de -49°C. A temperatura do congelador de um frigorifico doméstico ronda, em regra, os -15°C.
A marca mais quente já registada na Antártida foi de 15°C, a 5 de junho de 1974, na estação Vanda, de acordo com o NIMAWeather, da Nova Zelândia.
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