"Unidades voluntárias". Putin discute guerra na Ucrânia com ex-comandante de Prigozhin

por Cristina Sambado - RTP
Sputnik/Mikhail Metzel/Pool via Reuters

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, discutiu na quinta-feira a criação de "unidades voluntárias" com o ex-comandante do grupo paramilitar Wagner, Andrei Trochev, revelou o Kremlin.

A reunião sublinhou a tentativa do Kremlin de mostrar que o Estado tinha recuperado o controlo sobre o grupo mercenário, depois da revolta fracassada liderada pelo falecido Yevgeny Prigozhin. O encontro teve ainda a participação do vice-ministro russo da Defesa, Yunus-Bek Evkurov, que teve nas mãos o processo de desmantelamento da companhia de mercenários após a rebelião de junho.

Segundo o Kremlin, em cima da mesa esteve o facto de Trochev estar envolvido na formação de unidades de voluntários capazes de realizar várias missões de combate, principalmente, na área da “operação especial militar na Ucrânia”.

“Conhece as questões que têm de ser resolvidas antecipadamente para que o trabalho de combate possa ser realizado da melhor forma possível e com o maior sucesso”, afirmou Putin ao ex-comandante do grupo Wagner.

O presidente russo elogiou igualmente o facto de Trochev “manter (boas) relações com os (seus) camaradas de armas”.

Poucos dias após a revolta do grupo Wagner, Putin ofereceu aos mercenários a oportunidade de se manterem a combater, mas sugeriu que Andrei Trochev assumisse o cargo de Prigozhin, revelou o jornal russo Kommersant. O pedido de Putin, oficializado na presença do vice-ministro da Defesa, demonstra ainda mais a integração de veteranos do grupo mercenário no exército russo.

O presidente russo revelou que tinha falado com o ex-comandante do grupo Wagner sobre a foram como “unidades voluntárias poderiam realizar várias tarefas de combate, acima de tudo, na zona da operação militar especial”.

"Tu próprio tens lutado numa unidade dessas há mais de um ano", disse Putin. "Sabes o que é, como se faz”.


Putin afirmou também que queria falar sobre o apoio social para as pessoas envolvidas nos combates. A reunião teve lugar no Kremlin e foi transmitida pela televisão estatal.

Segundo a Reuters, nas imagens transmitidas pela televisão russa, “vê-se Troshev a ouvir Putin, inclinando-se para a frente e acenando com a cabeça, de lápis na mão”. Os comentários do ex-comandante do grupo Wagner não se ouvem.“Trochev está a trabalhar no Ministério da Defesa”, confirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à agência noticiosa Ria Novasti depois do encontro.

Andrei Trochev, também conhecido pelo nome de guerra “Sedoi” – “cabelo grisalho” - tem, para Vladimir Putin, a experiência necessária para levar a cabo uma missão deste tipo, três meses depois da revolta falhada do grupo na Rússia.

Trochev é um coronel reformado descrito como um dos fundadores do grupo Wagner que está sujeito, juntamente com outros oligarcas russos, a sanções da União Europeia por “envolvimento direto nas operações de militares do grupo na Síria”, segundo um documento da UE de final de 2021, antes da invasão russa à Ucrânia. Após o fracasso da revolta liderada por Yevgeny Prigozhin, deixou o grupo paramilitar.O destino do grupo Wagner, uma das forças mercenárias mais aguerridas do mundo não é claro desde a revolta falhada de 23 de junho e a morte de Yevgeny Prigozhin a 23 de agosto.

Segundo Rybar, um analista militar pró-Rússia, que escreve sobre a guerra na Ucrânia, Troshev tem estado, desde a morte de de Prigozhin, a tentar recrutar membros do Wagner atualmente na Bielorrússia, África e Médio Oriente para grupos mercenários afiliados ao Ministério russo da Defesa.

O motim abortado é amplamente considerado como tendo representado o mais sério desafio interno a Putin - e ao Estado russo - durante décadas. No entanto, Prigozhin afirmou que o objetivo do motim não era derrubar Putin, mas sim ajustar contas com o ministro da Defesa Sergei Shoigu e o Chefe do Estado-Maior General Valery Gerasimov.

Após a tentativa abortada do grupo Wagner, o Kremlin deu três opções aos combatentes do grupo paramilitar: juntarem-se às filas do exército russo; regressarem à vida civil, ou exilaram-se na Bielorrússia, aliada de Moscovo no ataque à Ucrânia. CNo entanto, a morte do seu líder, Yevgeny Prigozhin, no final de agosto, num acidente de avião entre Moscovo e São Petersburgo, juntamente com vários membros da sua guarda próxima, marcou o fim do Wagner na forma que tinha conhecido até então.

O grupo de antigos mercenários começou recentemente a regressar à frente de batalha junto à cidade ocupada ucraniana de Bakhmut, na região oriental de Donetsk. O núcleo desta unidade, estimado em cerca de 500 combatentes, irá juntar-se ao grupo mercenário Redut e ao chamado Corpo de Voluntários do Ministério russo da Defesa.

Os restantes mercenários estão a negociar, através do novo líder do grupo Wagner, uma eventual inclusão em destacamentos da Guarda Nacional Russa.

c/ agências
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