UNICEF. Quase sete milhões de crianças da Ucrânia em risco durante o inverno
O Fundo das Nações Unidas para as Crianças (UNICEF) alertou esta quarta-feira para a situação de "risco acrescido" de quase sete milhões de crianças devido aos ataques contra infraestruturas energéticas na Ucrânia nas últimas semanas. Para além do “frio gélido” e dos problemas no acesso a serviços críticos, estas crianças ficam também impedidas de aceder ao ensino online, sublinha a agência da ONU.
Nas últimas semanas, os ataques contra infraestruturas energéticas da Ucrânia têm representado uma dificuldade acrescida para a população, quando passam praticamente dez meses desde o início do conflito.
"As regras da guerra são claras: as crianças e as infraestruturas civis essenciais de que elas dependem para sobreviver devem ser protegidas. É também essencial que a UNICEF e os seus parceiros humanitários tenham acesso rápido e sem entraves às crianças e famílias que necessitam de assistência humanitária, independentemente do local onde se encontrem", defende Catherine Russell, diretora executiva da UNICEF.
A responsável lembra o “frio extremo” que se sente, mas também as instituições de saúde, que podem deixar de estar aptas a fornecer “serviços críticos”. Por outro lado, o mau funcionamento dos sistemas de abastecimento de água “aumenta os riscos já extremamente elevados de pneumonia, gripe sazona, doenças transmitidas pela água e Covid-19”, lê-se no comunicado da UNICEF.
De acordo com a agência da ONU, os ataques desencadeados em outubro “destruíram 40 por cento da capacidade de produção de energia da Ucrânia, expondo ainda mais as famílias às duras condições atmosféricas, afectando os meios de subsistência, e aumentando a probabilidade de grandes movimentos populacionais adicionais”.
Não obstante os esforços de reparações, até final de novembro o sistema energético ucraniano tinha conseguido responder a apenas 70 por cento das necessidades energéticas, salienta a UNICEF, com base nos dados da OCHA - Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
“O Inverno rigoroso, juntamente com a perda de rendimentos e a crise energética e socioeconómica desencadeada pela guerra, são devastadores para o bem-estar das crianças e das famílias”, sendo que a situação é especialmente grave para os 6,5 milhões de pessoas, incluindo 1,2 milhões de crianças, de deslocados internos.
A UNICEF indica que tem chegado a áreas anteriormente afetadas por combates violentos, nomeadamente em zonas alcançáveis de Kharkiv, Kherson e Donetsk, tendo distribuído nestes locais “kits de vestuário de inverno, aquecedores de água e geradores”.
Impacto na saúde mental
No entanto, a agência da ONU alerta que as consequências são ainda mais abrangentes: “Para além das ameaças imediatas que o frio gélido traz, as crianças são também privadas de aprender ou de permanecer em contacto com amigos e familiares, pondo tanto a sua saúde física como a sua saúde mental em risco", destaca Catherine Russell.
Isto porque o ensino online é, neste momento, o único acesso de muitas crianças à educação, uma vez que muitas escolas estão danificadas ou destruídas.
Por tudo isto, os próximos meses de inverno poderão piorar consideravelmente a situação psicossocial das crianças, bem como do resto da população: “Estima-se que 1,5 milhões de pessoas estejam em risco de depressão, ansiedade, distúrbios de stress pós-traumático e outras patologias mentais”, realça a agência da ONU.
“O impacto no acesso das crianças à educação é apenas a mais recente disrupção, após o fim precoce do ano escolar anterior e perturbações relacionadas com a pandemia de Covid-19”, salienta ainda, em relação à situação particular das crianças.
“Até à data, a UNICEF tem tido capacidade de prestar acesso a cuidados de saúde primários em instalações apoiadas pela organização e através de equipas móveis a quase 4,9 milhões de crianças e mulheres na Ucrânia”, destaca o comunicado.
Em particular, as intervenções de apoio à saúde mental apoiadas pela UNICEF beneficiaram mais de 2,5 milhões de crianças, cerca de 900 mil crianças receberam educação formal ou não formal, e cerca de 500 mil crianças beneficiaram de intervenções de aprendizagem. Cerca de 200 mil famílias receberam transferências monetárias humanitárias financiadas pela UNICEF.
A organização tem também dezenas espaços dedicados às crianças e jovens,
os chamados “SPILNO Child Spots”, espaços dedicados à aprendizagem e
convívio para os mais novos.