A União Europeia está a analisar um novo pedido de apoio às Forças Armadas Ruandeses que combatem o terrorismo em Cabo Delgado, norte de Moçambique, disse hoje, em Maputo, a comissária europeia para as Relações Internacionais, Jutta Urpilainen.
"De facto, temos vindo a apoiar financeiramente as forças do Ruanda e recebemos o pedido. Neste momento, está a ser analisado", disse Jutta Urpilainen, questionada pela Lusa ao concluir a visita de 24 horas que realizou a Maputo.
Ao abrigo do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, a União Europeia já tinha aprovado em 2023 um apoio de 20 milhões de euros às forças ruandesas em Cabo Delgado, no combate aos grupos terroristas que operam na região.
Para ser aprovado o novo apoio, é necessária a aprovação por parte de todos os Estados-membros.
"O meu caro colega, o alto representante, vice-presidente Burrell, o mais provável é que tome a sua decisão num futuro próximo. Mas neste momento está a ser considerado", acrescentou Jutta Urpilainen.
De acordo com a União Europeia, este mecanismo assegura uma avaliação adequada dos riscos e medidas de atenuação, em conformidade com o direito internacional dos direitos humanos, o direito internacional humanitário e a legislação comunitária em matéria de exportação de armas.
O Ruanda está a reforçar o atual contingente de mais de 2.500 militares que combate os grupos insurgentes em Cabo Delgado, anunciou em 18 de maio o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, horas depois de se reunir, em Kigali, com o homólogo ruandês.
"Esta semana está a desembarcar mais contingente, não para trocar [revezar os militares], mas para acrescentar fluxo. E isso sobretudo por causa da saída da SAMIM [missão militar dos países da África austral], e quando sair definitivamente da zona de Macomia vamos ocupar", avançou Filipe Nyusi.
"Não porque Moçambique não pode [assegurar a defesa], mas não se combate terrorismo só. Mas a responsabilidade maior é dos moçambicanos", enfatizou Nyusi, que também se reuniu em Kigali, nesta visita, com o presidente da TotalEnergies, Patrick Pouyanné.
A petrolífera francesa suspendeu em 2021, devido aos ataques de grupos insurgentes, o megaprojeto de gás natural em Palma, Cabo Delgado, de 20 mil milhões de dólares (cerca de 18,6 mil milhões de euros), e, para Filipe Nyusi, que transmitiu ao líder da TotalEnergies a decisão de reforço do contingente do Ruanda, que garante a segurança naquela aérea, a dúvida não é "se vai retomar [o projeto], mas quando".
"Ficou completamente seguro que o Ruanda coopera com o país, não coopera com pessoas. E o maior orgulho que nós teríamos era deixar as coisas bem feitas para ter a sua continuidade", disse ainda Filipe Nyusi, aludindo ao ciclo eleitoral de Moçambique, que realiza em 09 de outubro eleições gerais, incluindo presidenciais, às quais o atual chefe de Estado já não pode concorrer por ter atingido o limite de dois mandatos.
Cabo Delgado enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico, combatida desde 2021 com o apoio dos militares do Ruanda e dos países da África austral, esta última em processo de retirada do terreno desde abril, a concluir até julho próximo.
O Ministério da Defesa Nacional confirmou em 10 de maio um "ataque terrorista", durante a madrugada, à vila de Macomia, garantindo que um dos líderes do grupo foi ferido pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e outro morto.
"O ataque durou cerca de 45 minutos e os terroristas foram prontamente repelidos pela ação coordenada das nossas forças, que obrigaram o inimigo a recuar, em direção ao interior do posto administrativo de Mucojo", afirmou em comunicado.
O Presidente de Moçambique tinha confirmado, ao final da manhã de 10 de maio, este ataque à sede distrital de Macomia, explicando que aconteceu numa zona antes controlada pelos militares da missão SAMIM.