União Europeia. Emissão de dióxido de carbono em 2023 é das mais baixas dos últimos 60 anos

por Inês Geraldo - RTP
A produção de energia solar foi uma das causas para a redução de emissões de CO2 na União Europeia Pedro Nunes - Reuters

Um relatório realizado pelo Centro de Investigação em Energia e Ar Limpo apontou uma redução de oito por cento nas emissões de dióxido de carbono na União Europeia, o melhor resultado na luta contra as alterações climáticas nos últimos 60 anos. Melhor só o ano de 2020 em que houve uma redução altamente influenciada pela pandemia de covid-19.

Redução na utilização de combustíveis fósseis e um aumento do uso de energias renováveis levaram a um bom resultado da União Europeia em reduzir emissões de dióxido de carbono a partir de matérias-primas como carvão e petróleo.

A CREA (Center for Research on Energy and Clean Air) divulgou um relatório que mostra dados que confirmam 2023 como o melhor ano no tocante a redução de emissões, exceção feita ao ano de 2020, quando a pandemia obrigou a vários confinamentos. “Este é o segundo maior declínio de emissões desde 2020, que foi muito influenciado pela pandemia de covid-19”, pode ler-se no relatório.


“Mais de metade desta redução pode ser atribuída a produção de energias limpas, com o crescimento estável da energia solar e eólica como um regresso da disponibilidade da hidroenergia e do nuclear. A menor procura por eletricidade contribuiu em oito por cento, enquanto reduções noutros setores, como indústria e transportes contribuíram em 36 por cento”.

O relatório da CREA explicou ainda que as condições meteorológicas em 2023 também foram favoráveis para o declínio das emissões e para uma menor procura na eletricidade. Outras conclusões mostram que na União Europeia houve uma redução do consumo de carvão em mais de metade desde o ano de 2015. Em relação ao petróleo, a redução foi de apenas dois por cento.

“As emissões de CO2 na União Europeia caíram finalmente para níveis aparentes na geração dos meus pais nos anos 60”, comentou Isaac Levi, um analista da CREA, em declarações ao Guardian. “No entanto, neste período a economia triplicou, mostrando que a mudança climática pode ser combatida sem esquecer o crescimento económico”.

O ano de 2023 fica marcado pelo uso recorde de painéis solares e turbinas de vento. No entanto, estes números da CREA não incluem dados da agricultura, processos químicos ou emissões de outros gases de estufa como o metano. Ainda assim, os analistas dizem que as emissões continuam a cair a um ritmo lento.

“A redução de oito por cento nas emissões pode ser celebrado mas mais tem de ser feito para afastar a União Europeia dos combustíveis fósseis, reduzir a dependência de petroestados como a Rússia, enquanto deixamos um mundo melhor para a próxima geração”, continuou Levi.

Na semana passada, um dos conselheiros climáticos da União Europeia afirmou que “a velocidade de redução necessita de aumentar consideravelmente” para o que o bloco de 27 estados consiga atingir o objetivo de cortar emissões até 2030.

O grupo criado no seio da União Europeia criou uma lista de 13 recomendações que inclui uma redução progressiva na utilização de combustíveis fósseis e o corte nos subsídios para a utilização dos mesmos e expandir um novo plano “verde” na Europa que possa incluir também os números da agricultura.

“A União Europeia fez bons progressos em anos recentes para reforçar as suas medidas climáticas”
, explicou o Professor Ottmar Edenhofer, que faz parte do grupo de luta climática da União Europeia. “Alcançar a neutralidade climática em 2050 é uma luta contra o tempo e não podemos recuar nos esforços que estamos a fazer agora”.

A CREA termina o relatório ressalvando o facto de 2023 ter sido um bom ano na redução de emissões de gases de estufa e recomenda que o futuro seja das infraestruturas das energias renováveis o que vai levar à diminuição do uso de combustíveis fósseis.

“Mais investimentos em infraestruturas de energias renováveis, que incluem energia eólica, solar e hidráulica, e outras fontes de energias limpas, vai ajudar a atingir a uma redução contínua das emissões de C02. Redução dos combustíveis fósseis só é possível com investimento em energias renováveis o que vai reduzir a dependência de petroestados como a Rússia que está a ter ganhos financeiros com a exportação de petróleo e alimenta a guerra na Ucrânia”, conclui o relatório.
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