União Europeia admite dar apoio financeiro ao Ruanda

por Lusa

O responsável da missão da União Europeia em Moçambique, destinada a treinar tropas contra a insurgência armada em Cabo Delgado, admitiu hoje apoio financeiro europeu ao Ruanda, que tem tropas destacadas na região norte do país lusófono.

Durante uma audição na subcomissão de Segurança e Defesa do Parlamento Europeu nesta quarta-feira, o vice-almirante Hervé Bléjean, diretor da Capacidade Militar de Planeamento e Condução da missão militar da UE (EUTM) em Moçambique, referiu que o Ruanda solicitou "um maior apoio financeiro" à União Europeia e que o chefe da diplomacia europeia "está bastante determinado a responder favoravelmente".

"Recentemente, a 9 de janeiro de 2022, teve lugar uma reunião de defesa e segurança entre Moçambique e o Ruanda, na qual o Ruanda recebeu um pedido dos moçambicanos para continuar o seu apoio contra o terrorismo. Parte da negociação foi uma oferta de formação em exercício a ser fornecida às tropas destacadas na província de Cabo Delgado", relatou Bléjean.

"Nesta fase não se conhecem pormenores precisos, mas isto pode ser positivo e complementar aos esforços de formação de EUTM e confirma a necessidade de coordenação entre Moçambique e as forças ruandesas, que também se aproximaram da UE para um maior apoio financeiro através do Mecanismo de Apoio à Paz Europeu", prosseguiu.

O vice-almirante acrescentou que o alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, "está bastante determinado a responder favoravelmente" ao pedido do Ruanda, que tem cerca de mil homens no terreno, e que liderou, em conjunto com militares moçambicanos, a reconquista de praças-fortes dos rebeldes islâmicos, começando por Palma.

O regime ruandês é frequentemente acusado de perseguir os seus dissidentes, inclusivamente no exterior. Em Moçambique, por exemplo, os frequentes assassinatos de ruandeses críticos a Kigali são atribuídos ao Presidente Paul Kagamé.

A restrição de liberdades no Ruanda é alvo de críticas de organizações não-governamentais de defesa dos direitos humanos, mas também da União Europeia.

Por outro lado, o responsável da missão europeia advertiu para o crescente interesse da Rússia na região, exemplificando com uma "propaganda sobre a presença do grupo Wagner no Cabo Delgado", mas, revelou, "até ao momento não há mercenários do Wagner em Moçambique", e mencionou também a cooperação no setor da Defesa entre Moscovo e Maputo.

"Portanto, temos de ter cuidado", disse.

Aquela que é a primeira missão militar da UE em Moçambique, dedicada a treinar tropas para enfrentar a insurgência armada em Cabo Delgado, arrancou no início de novembro passado e é comandada por Hervé Bléjean e, no terreno, a direção operacional cabe ao brigadeiro-general português Nuno Lemos Pires.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade do Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar várias zonas ocupadas, mas continua a haver confrontos pontuais que em dezembro alastraram para a província do Niassa.

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