Os 193 membros da UNESCO votam esta semana a reintegração dos Estados Unidos, que abandonaram a organização em 2017, num regresso saudado pela secretária-geral Audrey Azoulay, mas sujeito aos ciclos políticos em Washington e uma "relação difícil" com a ONU.
"Ninguém sabe o futuro da política interna dos Estados Unidos, claro, até porque as saídas já aconteceram no passado", disse hoje em Paris a secretária-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Audrey Azoulay, num encontro com jornalistas em que a Lusa participou, em antecipação à votação, na quinta e sexta-feira, do regresso dos EUA.
"O que temos de ter em atenção é que para haver esta reintegração teve de haver um apoio bipartidário, ou seja, dos dois lados do Congresso. A UNESCO está hoje numa situação muito diferente do que estava antes", frisou Azoulay.
Os Estados Unidos pediram, numa carta enviada no dia 08 de junho de 2023, o seu regresso ao seio da UNESCO, após se terem retirado oficialmente desta instituição em 2017, durante a presidência de Donald Trump.
Desde 2011 que o país tinha deixado de financiar a UNESCO por a organização ter aberto a porta à integração da Palestina. Também Israel deixou de contribuir, abandonando em seguida a organização.
O regresso dá-se agora com a administração Biden, sem que nada impeça que o próximo ou a próxima Presidente voltem a retirar o país desta instituição.
Na sessão extraordinária da Conferência Geral que se realiza quinta e sexta-feira, os norte-americanos vão precisar de dois terços dos votos para assegurar o seu lugar nesta organização, havendo alguns receios de que países como a Rússia tentem bloquear esta reintegração.
Também a China pode apresentar reservas, já que na carta enviada à UNESCO os Estados Unidos deixam claro que um dos objetivo é contrabalançar o peso crescente de Pequim na comunidade internacional.
Para efetivar este regresso, os Estados Unidos prometem pagar seis anos de dívidas de contribuição obrigatória, cerca de 619 milhões de dólares, parcelados nos próximos anos, e assegurar a sua contribuição anual, entre 70 a 80 milhões de dólares. Um aumento importante no orçamento da instituição, mas também de relevância política.
"É muito importante este regresso, porque faz parte do nosso orçamento obrigatório, do qual os Estados Unidos têm uma fatia de 22%, e com o qual podemos contar a partir de agora, mas o que é muito importante também é o regresso político dos Estados Unidos, um Estado fundador, que contou muito na nossa história, e passaremos a ser 194 Estados-membros", declarou Audrey Azoulay.
Sem qualquer restrição em termos dos diferentes programas levados a cabo na UNESCO e querendo apostar em temas como educação em África ou proteção dos jornalistas, os Estados Unidos vêm "reforçar" a ação desta organização, que está atualmente a tentar regular a inteligência artificial no Mundo.
"Penso que a UNESCO é bastante sólida neste momento na sua estratégia, nos seus objetivos e num roteiro muito concreto. Acho que é porque este roteiro interessa aos Estados Unidos que eles querem voltar", indicou Audrey Azoulay.
"Mais do que para transformar os nossos objetivos, eles querem fazer parte desta agenda que estabelecemos. Há todo um trabalho de orientação estratégica que interessa os Estados Unidos e isto vem reforçar o que já fazemos neste momento. Claro que o futuro o dirá, mas eles voltam sem nenhuma restrição e parecem querer voltar a entrar neste comboio que continua a avançar", adiantou.
A diretora-geral não quis dramatizar a relação dos Estados Unidos com a UNESCO, lembrando que se trata de um país que tem "uma relação difícil" com o quadro da Nações Unidas, do qual a própria UNESCO faz parte.
"Sabemos bem que a relação entre os Estados Unidos e as Nações Unidas é difícil e depende sempre do futuro político do país", concluiu.
A resposta dos 193 Estados-membros deve ser conhecida no fim da tarde de sexta-feira.