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"Um sinal de esperança". A reação dos líderes políticos aos resultados inéditos das eleições em França

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Yoan Valat - EPA

A vitória surpreendente da aliança de esquerda, Nova Frente Popular, afastou a extrema-direita de Marine Le Pen do poder, que ficou em terceiro lugar, e ultrapassou o bloco centrista Ensemble do presidente Macron, que ficou em segundo lugar, mas abriu caminho para um cenário de ingovernabilidade. Em Portugal, na Europa e no mundo foram surgindo reações aos resultados inéditos da segunda volta das eleições legislativas de domingo em França.

A França não terá um Governo de extrema-direita, liderado por Jordan Bardella, apesar do favoritismo na primeira volta das eleições legislativas e da vitória nas eleições europeias.

O Rassemblement National de Marine Le Pen caiu para o terceiro lugar, com apenas 143 lugares, resultado do bloqueio da esquerda e do centro que não permitiram que o RN obtivesse a maioria necessária para formar Governo.

A aliança de esquerda Nova Frente Popular - do Partido Socialista, da França Insubmissa, do Partido Comunista e dos Verdes - conseguiu um resultado surpreendente, com 182 lugares, tornando-se a maior força política no Parlamento francês mas igualmente distante da maioria absoluta necessária para governar. Seguida da aliança centrista do presidente Macron, Ensemble pour la République, que ficou em segundo lugar com 143 assentos.

Apesar do sucesso eleitoral da esquerda e do centro em travar a ascensão da extrema-direita ao poder, nenhum bloco conseguiu atingir a maioria absoluta de 289 lugares para criar um Governo e evitar a instabilidade política e até mesmo um cenário de ingovernabilidade. O Parlamento francês deverá assim dividir-se em três blocos: a esquerda, os centristas e a extrema-direita.
As reações políticas à "derrota da extrema-direita" e "vitória da esquerda"
Em Portugal,  o presidente da República disse no domingo ao início da noite, ainda sem resultados finais, que "o que o povo decide está bem decidido". Marcelo Rebelo de Sousa explicou aos jornalistas que estaria a observar "atentamente" os resultados das eleições legislativas em França apesar de ter "muita dificuldade em comentar" sem informação.

"Eu observo atentamente o que se passa e que é muito importante para a Europa. Vamos esperar os resultados finais e, depois, amanhã ou depois de amanhã, eu falarei", declarou Marcelo Rebelo de Sousa. O líder do Governo, Luís Montenegro, também ainda não tinha feito qualquer declaração até ao início da manhã desta segunda-feira.

O líder do Chega, André Ventura, afirmou que os resultados da segunda volta são "uma verdadeira derrocada para a Europa"."Desastre para a economia, tragédia na imigração e mau no combate à corrupção", escreveu Ventura na rede social X.


O secretário-Geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, felicitou "a esquerda francesa e a sua unidade por este extraordinário resultado" numa publicação na rede social X. O socialista acrescentou que "Unida, a esquerda venceu a extrema-direita nas urnas, agora terá de a vencer na governação e nas políticas públicas".

 
A líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, disse que a esquerda "derrotou a extrema-direita" e que "a esperança ganha força na Europa". A bloquista enalteceu a vitória da aliança de esquerda liderada pelo partido de esquerda radical A França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon.

"O povo francês mostrou que a escolha não é entre o centrão neoliberal e a extrema-direita. A vitória da esquerda, liderada pela França Insubmissa​, abre caminho a um projecto radicalmente social e ecologista. A esperança ganha força na Europa", escreveu a coordenadora do Bloco de Esquerda nas redes sociais.


A mesma mensagem assinalada pelo porta-voz do Livre, Rui Tavares, que observou o resultados das eleições em França como "um sinal de esperança para a Europa", depois de "anos a ver a normalização da extrema-direita em França". "É agora preciso, mais do que nunca, sinais de responsabilidade numa governação social e ecológica que defenda a democracia".

 
"Entusiamo, desapontamento, alívio"

No país vizinho, Pedro Sánchez, celebrou a escolha de "dois dos maiores países da Europa", o Reino Unido e a França, que esta semana "escolheram o mesmo caminho que a Espanha escolheu há um ano: a rejeição da extrema-direita e um compromisso firme com uma esquerda social".

"O Reino Unido e a França disseram SIM ao progresso e à promoção social e NÃO ao retrocesso em matéria de direitos e liberdades", escreveu o chefe do Governo de Espanha, na rede social X.
 

Já o líder do partido da extrema-direita espanhola, Vox, felicitou Marine Le Pen e o Rassemblement National pelo "espectacular avanço eleitoral " em França. Santiago Abascal acrescentou que o "conseguiram juntar a ultra-esquerda islamista e antissemita com o centro globalista e a direita pró-verde", deixando um recado ao Partido Popular (PP) espanhol.  "Em Espanha, o PP também terá de escolher no futuro", escreveu na rede social X.



Na Polónia, Donald Tusk, congratulou-se com o resultados das eleições legislativas em França.  "Em Paris entusiasmo, em Moscovo desapontamento, em Kiev alívio. O suficiente para se estar feliz em Varsóvia", escreveu o primeiro-ministro polaco.


Também o Governo alemão exprimiu esta segunda-feira "algum alívio" após a derrota do Rassemblement National, numa altura em que Berlim temia as consequência de uma vitória da extrema-direita em França. "Para já, penso que há um certo alívio, porque as coisas que temíamos não se concretizaram", afirmou o porta-voz do chanceler alemão Olaf Scholz, Steffen Hebestreit, numa conferência de imprensa.


Já o Kremlim disse não ter "esperanças" ou "ilusões" de que as relações entre Paris e Moscovo melhorem após as eleições legislativas em França.

"Para a Rússia, o melhor seria uma vitória das forças políticas dispostas a fazer um esforço para restaurar as nossas relações bilaterais. Mas, de momento, não vemos uma vontade política tão claramente expressa por parte de ninguém, pelo que não temos esperanças nem ilusões particulares a este respeito", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, aos jornalistas.

Do outro lado do Atlântico, o presidente do Brasil, Lula da Silva, disse estar "muito feliz com a demonstração de grandeza e maturidade das forças políticas de França que se uniram contra o extremismo nas eleições legislativas".


Ao início da tarde desta segunda-feira o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que a França rejeitou o extremismo com um aumento da esquerda nas eleições legislativas e que os americanos fariam o mesmo quando votassem nas eleições presidenciais em novembro.

"A França rejeitou o extremismo. Os democratas também o rejeitarão aqui", disse Joe Biden, numa entrevista por telefone à MSNBC.

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