Um morto e 40 feridos no golpe militar do Mali

por Graça Andrade Ramos, RTP
Grupos de militares amotinados reuniam-se esta manhã em debate junto à televisão maliana, Bamanko, após anunciarem o derrube do Presidente Touré Malin Palm, EPA

Os militares que tomaram o poder no Mali encerraram nas últimas horas todas as fronteiras do país "até nova ordem" afirmou um deles, identificado como sargento Salif Koné. Os confrontos provocaram um morto e cerca de 40 feridos, na maioria por balas. Desconhece-se o paradeiro do Presidente, Amadou Toudami Touré, havendo rumores de que estará refugiado numa base militar na capital, Bamako. O aeroporto também está encerrado e um avião da TAP foi forçado a regressar a Lisboa.

No palácio presidencial continuam a soar tiros, entre relatos de pilhagens por parte dos soldados. As ruas de Bamako estão desertas e as lojas fechadas, enquanto os militares armados se deslocam de moto.

Várias pessoas terão sido detidas mas o Presidente Touré conseguiu fugir.

A Cruz Vermelha maliana fala de 40 feridos, a maioria atingidos por balas. Uma fonte militar diz que o motim provocou um morto e um ferido nos combates entre os amotinados e a guarda presidencial.

O motim surge um mês antes do final do mandato do Presidente Touré. Através da televisão os amotinados informaram o país que assumiram o poder e apelaram à calma.

Cerca de 20 militares apresentaram-se perante as câmaras como fazendo parte do Comité Nacional para a reconstituição da democracia e restauração do Estado, ou CNRDRE. Anunciaram o recolher obrigatório, a dissolução de todas as instituições e a suspensão da Constituição.

Os militares justificam o motim com o facto de o governo não lhes fornecer meios suficientes para dominar uma rebelião tuareg, no norte do país, desde meados de janeiro.
Nómadas ameaçam
Ao início da tarde os rebeldes nómadas Tuareg reagiram ao golpe militar, afirmando que estão a preparar uma ofensiva que lhes permitirá aproveitar o caos criado em Bamako.

"Não creio que vá demorar, estamos a preparar" o avanço, afirmou um porta-voz dos rebeldes nómadas, em Paris. As cidades de Kidal, Imbuktu e Gao deverão ser os primeiros alvos.
Onde está Touré?
Desconhece-se o paradeiro do Presidente Touré. Os revoltosos encontraram o palácio vazio e algumas fontes afirmaram que o Presidente foi levado pera lugar seguro pela guarda presidencial, os Boinas vermelhas.

Uma fonte militar, leal a Touré, sob anonimato, disse que o Presidente permanece na capital, Bamako, a comandar um campo militar, uma informação confirmada por outra fonte próxima do Presidente e do ministro do Interior, mas desmentida por outra fonte não identificada. Voo da TAP regressa
Os combates entre os revoltosos e a guarda presidencial maliana iniciaram-se ao fim da tarde de quarta-feira e duraram várias horas. O aeroporto foi encerrado, tendo sido cancelados todos os vôos.

Um avião da TAP, com 67 passageiros e destinado a Bamako foi obrigado a regressar a Lisboa, deixando em terra outros 100 passageiros, retidos na capital maliana.

Fonte da TAP afirmou à LUSA que "os passageiros foram protegidos localmente e os que regressaram também foram protegidos". "É uma situação completamente externa à companhia", sublinhou a porta-voz, que não soube precisar as nacionalidades dos passageiros.

A TAP realiza três voos semanais para o Mali, estando o próximo previsto para segunda-feira.
Condenação internacional
A União Africana já condenou "firmemente este ato de rebelião que atenta de forma grave contra a legalidade constitucional, sendo um recuo sério para o Mali e para os processos democráticos em curso no continente" africano.

A Casa Branca condenou igualmente "com firmeza" o golpe militar e exigiu o "regresso imediato à ordem constitucional" no país, sublinhando a solidariedade de Washington com o Presidente deposto, afirmou o porta-voz, Jay Carney.
França suspende cooperação militar
A França, antiga potência colonial do Mali, deseja o regresso à normalidade "o mais depressa" possível e suspendeu toda a cooperação militar com o país, enquanto apela à libertação de todos os detidos.

O ministro francês dos Negócios Estrangeiros afirmou em comunicado que a França "condena nos termos mais firmes o derrube da ordem constitucional no Mali."

A França "apela ao restabelecimento da Constituição e suas instituições, com respeito pela liberdade e direitos fundamentais, particularmente os do Presidente Amadou Toumani Touré," cuja integridade física deverá ser respeitada, assim como todas as pessoas detidas, as quais deverão ser libertadas afirma o texto.

O comunicado da diplomacia francesa acrescenta que "a França suspende toda a cooperação com o Mali na área de segurança. Iremos manter o auxílio à população, particularmente a ajuda alimentar e continuaremos os nossos esforços para lutar contra o terrorismo."
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