Um dia após a investida diplomática de Kiev, China volta a estender a mão à Rússia

por Carlos Santos Neves, Cristina Sambado - RTP
Xie Huanchi - Xinhua via EPA

Coube esta quinta-feira ao vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, reiterar que o colosso asiático tenciona cimentar em "grande escala" a política de cooperação energética com a Rússia, sem despender uma fração de tempo a olhar às ameaças de sanções internacionais ou às críticas por parte da NATO. Isto depois de o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, ter procurado gizar, na véspera, um "terreno comum" em conversações com o homólogo da China, Wang Yi.

Foi no decurso do Sexto Fórum Empresarial de Energia China - Rússia, acolhido em Moscovo, que Xuexiang declarou a intenção de  "avançar solidamente com a cooperação no comércio e investimento no setor da energia".A Rússia de Vladimir Putin é o maior fornecedor de petróleo bruto para a China de Xi Jinping.

Sobre a mesa destes parceiros estratégicos estão, segundo o vice-primeiro-ministro chinês, planos em "grande escala" no domínio da energia, incluindo o hidrogénio, além de um reforço da "cooperação integrada" na "cadeia de abastecimento".

O próprio presidente chinês, Xi Jinping, não deixou de exprimir, em carta citada pela agência estatal Xinhua, a vontade de alargar a cooperação energética sino-russa: "No novo ponto de partida histórico, a China está pronta a trabalhar com a Rússia para impulsionar continuamente a cooperação mutuamente benéfica no setor da energia, salvaguardar a estabilidade e a resiliência da cadeia industrial e da cadeia de abastecimento de energia, de modo a contribuir para um desenvolvimento mais robusto, verde e saudável da indústria energética global".

Recorde-se que, na semana passada, altos responsáveis da Administração Biden advertiram Pequim contra a "direção errada" da cooperação com o Kremlin, martelando, uma vez mais, a tecla de novo pacote de sanções a breve trecho.As trocas comerciais entre China e Rússia estabeleceram valores históricos no ano passado, patenteando uma expansão homóloga de 26,3 por cento, para os 240,1 mil milhões de dólares.


Já esta semana, o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, ao avistar-se, em solo chinês, com o homólogo da China, recorreu à retórica diplomática para deixar a mensagem de que Kiev estaria preparada para conversações com a Rússia, mas apenas se o Governo de Vladimir Putin se mostrasse disposto a negociar de boa-fé.

Dmytro Kuleba assumiu estar em busca de um "terreno comum" nas conversações com Wang Yi. E num vídeo divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, surgiu à chegada ao local da reunião, em Cantão, no sul da China, e a trocar impressões com o ministro Wang Yi.


"A Ucrânia deseja seguir o caminho da paz, da recuperação e do desenvolvimento. Estou convencido de que estas são prioridades estratégicas que partilhamos", enfatizou Kuleba.

“Estou convencido de que estas são as prioridades estratégicas que partilhamos. A agressão russa destruiu a paz e atrasou o desenvolvimento”, acrescentou.Kuleba exortaria mesmo o interlocutor a ver as relações com Kiev à luz do processo de adesão da Ucrânia à União Europeia.


Os temas abordados no encontro de quarta-feira foram, ainda segundo Dmytro Kuleba, "as relações bilaterais, a agenda internacional e, acima de tudo, o caminho para a paz". Em declarações citadas pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros manifestou a expectativa de que a “República Popular da China desempenhe um papel construtivo na superação dos desafios à segurança regional e global”.

Kuleba manter-se-á na China até sexta-feira, naquela que é a primeira visita de um responsável ucraniano ao país desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.
"Trocaram pontos de vista"

Menos expansiva, na tradição da diplomacia chinesa, quando questionada sobre o encontro entre Wang Yi e Dmytro Kuleba a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, sintetizou que ambos “trocaram pontos de vista” sobre a guerra.

"A China considera que a resolução de todos os diferendos deve ser levada à mesa das negociações, mais cedo ou mais tarde. A resolução de qualquer litígio deve ser sempre alcançada através de meios políticos", repetiu.

“Wang Yi sublinhou que a crise na Ucrânia entrou no seu terceiro ano, que o conflito continua e que existe o risco de escalada e de alastramento”, prosseguiu Mao Ning em conferência de imprensa.

“A Rússia e a Ucrânia mostraram recentemente, em diferentes graus, que estão dispostas a negociar. Mesmo que as condições ainda não tenham sido cumpridas, apoiamos todos os esforços conducentes à paz e estamos dispostos a continuar a desempenhar um papel construtivo na obtenção de um cessar-fogo e no reinício das conversações de paz”. Mas sem condenar o avanço das tropas russas sobre território ucraniano.

c/ agências
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