Um ano após a morte de Mahsa Amini. Forças de segurança iranianas advertem pai para não assinalar data
O pai de Mahsa Amini foi libertado pelas forças de segurança iranianas, este sábado, depois de o terem detido por um curto período de tempo e de o terem avisado para não assinalar o aniversário da morte da jovem.
A morte de Mahsa Amini sob custódia policial, há um ano, desencadeou meses de protestos antigovernamentais que se transformaram na maior manifestação de oposição às autoridades dos últimos anos.
Fortes medidas de segurança e tensão O Irão está a viver o primeiro aniversário da morte de Mahsa Amini num clima tenso e de inquietação, com uma forte presença policial nas ruas, rigorosas advertências governamentais e poucos apelos à contestação, relataram hoje as agências internacionais.
A morte da jovem curda iraniana de 22 anos, a 16 de setembro de 2022, depois de ter sido detida três dias antes pela polícia dos costumes por alegadamente não usar corretamente o véu islâmico, desencadeou fortes protestos em todo o país, com palavras de ordem a apelar à liberdade e à defesa dos direitos das mulheres iranianas.
Luta das mulheres por liberdade continua
Um ano após a morte da jovem curda Mahsa Amini, às mãos da polícia da moralidade do Irão, as manifestações contra a repressão do regime iraniano aos direitos das mulheres vão continuar, pois há vozes que Teerão não conseguiu silenciar.
A previsão é de várias personalidades iranianas e norte-americanas, transmitida durante a semana num debate sobre "A Morte de Mahsa Amini: Um ano de Protestos e Reflexões sobre o Futuro", organizado conjuntamente pelo Instituto para as Mulheres, Paz e Segurança da Universidade de Georgetown, pela organização Freedom House e pela Sociedade Cultural Iraniana.
A morte de Amini deu início a um conjunto inédito de contestação ao regime teocrático iraniano, que reprimiu violentamente as manifestações e protestos que ainda se mantêm.
“A luta pela emancipação da mulher no Irão não vai parar. Ninguém vai continuar a tirar-nos a dignidade, integridade e identidade, pelo que vamos continuar a combater pelos direitos das mulheres”, garantiu Azar Nafisi, escritora irano-norte-americana e professora universitária nos Estados Unidos, onde vive desde 1997.
Para Nafisi, autora do livro “Lendo Lolita em Teerão”, escrito em 2003 e proibido pelo regime, a repressão e a violência das autoridades de Teerão “não advém da força mas sim do medo”, pois as regras impostas pela República Islâmica estão a ser combatidas, luta que só terminará quando os direitos das mulheres forem uma realidade.
A contestação que se seguiu à morte de Amini, lembrou, por sua vez, Victoria Taylor, subsecretária de Estado Adjunta para o Iraque e Irão do Gabinete para as Questões do Médio Oriente da administração de Joe Biden, levou para as ruas de todo o país ativistas dos direitos humanos e das mulheres, académicos, estudantes, advogados e até líderes religiosos.
No entanto, acrescentou, “a repressão e os abusos cometidos pelo regime totalitário iraniano”, foram “brutais e desproporcionados”, levando à morte de centenas de pessoas, à detenção de milhares de outras, ao julgamento sumário de centenas de manifestantes e à aplicação da pena de morte a cerca de duas dezenas de outros.
“O Irão continua a violar todos os tratados internacionais associados aos direitos humanos, que assinou, razão pela qual os Estados Unidos têm continuado a impor sanções económicas a personalidades e entidades iranianas que continuam a transgredir estes preceitos. Já aplicámos 70 ordens de sanções, até ao ministro do Interior [iraniano, Abdolreza Rahmani Fazli]”, sublinhou Taylor.
No debate, Jane Harman, presidente do Conselho de Administração da Freedom House, questionou a autoridade e a moralidade da polícia dos costumes do Irão, denunciando a brutalidade utilizada contra manifestantes que lutam pela liberdade e pela democracia.
A líder do think-tank relembrou as palavras proferidas por Hillary Clinton, na altura em que era “primeira-dama” dos Estados Unidos (1993/2001), que afirmou n uma conferência internacional que “os direitos das mulheres são direitos humanos e os direitos humanos são direitos das mulheres”.
Nesse sentido, garantiu que a Freedom House continuará a apoiar a luta pela emancipação da mulher e pela democracia no Irão.
No mesmo sentido, Melanne Verveer, diretora executiva do Instituto para as Mulheres, Paz e Segurança da Universidade de Georgetown, insistiu na ideia de que as mulheres iranianas “apesar da “repressão brutal, nunca serão silenciadas” e que a luta “contra os alicerces do regime vai continuar”.
“A trajetória dos protestos em curso no Irão vai continuar a ser seguida, o papel das mulheres e da diáspora vai singrar e o panorama atual da aplicação de sanções e dos mecanismos multilaterais também”, concluiu.
Apesar da maior visibilidade e atenção política dos protestos globais, o movimento ainda não conseguiu ameaçar os alicerces do regime teocrático liderado pelo ayatollah Ali Khamenei.
A repressão brutal contra os dissidentes torna-se cada vez mais terrível e o Irão continua a cultivar redes complexas de evasão às sanções financeiras e comerciais que minam os esforços para responsabilizar o regime, defende o Instituto da Universidade de Georgetown.
c/Agências