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"Ultrajante, uma vergonha". Washington contra mandado de detenção para Benjamin Netanyahu

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
"Deixe-me ser claro. Seja o que for que este procurador possa sugerir, não há equivalência nenhuma entre Israel e o Hamas", afirmou Biden na reação à decisão do TPI. Foto: Michael Reynolds - EPA

A Administração Biden caminha numa ténue linha vermelha nos assuntos que rodeiam a ofensiva de Telavive contra a Faixa de Gaza e os mais de 35 mil mortos palestinianos vitimados pelos bombardeamentos do exército israelita não ajudam a temperar os humores da comunidade internacional. Esta segunda-feira foram pedidos no Tribunal Penal Internacional mandados de captura para o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e para o ministro da Defesa, Yoav Gallant. Washington, que procura dissuadir o gabinete de Netanyahu de avançar para uma invasão terrestre de Rafah, considera, por outro lado, que a decisão saída da Haia é "ultrajante" e "uma vergonha".

O presidente Joe Biden enfrenta há várias semanas manifestações pró-Palestina e acampamentos nas principais universidades do país de apoio ao povo palestiniano e de denúncia do “genocídio” levado a cabo por Israel na Faixa de Gaza desde o ataque do Hamas de 7 de outubro.

Biden não pode dar-se ao luxo de afastar esta franja do eleitorado, mas também não quer hostilizar a comunidade judaica. É uma linha muito frágil aquela em que o democrata caminha e um passo em falso pode custar a reeleição nas Presidenciais de final deste ano.

A reação desta segunda-feira da Administração é apenas mais um sinal de que aformações contraditórias podem sair da mesma boca. Por um lado, as ameaças a Telavive se o IDF (Forças de Defesa de Israel numa tradução livre) levar por diante a operação terreste em Rafah. Por outro, a indignação pela decisão que pende no TPI de emitir mandados de captura para o primeiro-ministro e ministro da Defesa devido a operações do IDF semelhantes à ofensiva desenhada para Rafah e que já custaram a vida a mais de 34 mil palestinianos, sendo metade destes mortos crianças.

Esta manhã, o procurador do TPI, Karim Khan, pediu a emissão desses mandados de detenção para Netanyahu e Gallant por crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Gaza. No que pode ser visto como uma ironia, foram também pedidos mandado de detenção para três líderes do Hamas por crimes cometidos desde 7 de outubro.

“Com base nas provas recolhidas e examinadas pelo meu Gabinete, tenho motivos razoáveis para acreditar que Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, e Yoav Gallant, o ministro da Defesa de Israel, têm responsabilidade criminal por crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos no território do Estado da Palestina [na Faixa de Gaza] a partir de, pelo menos, 8 de outubro de 2023”, fez saber em comunicado o procurador do Tribunal da Haia.

Karim Khan enumerou os crimes de Netanyahu como passando por fazer civis passarem fome como método de guerra, causar intencionalmente grande sofrimento ou ferimentos graves no corpo ou na saúde, homicídio voluntário, dirigir intencionalmente ataques contra população civil; extermínio e/ou assassínio, perseguição e outros atos desumanos.

Os Estados Unidos, que não subscrevem nem reconhecem a jurisdição do TPI, reagiram esta tarde à decisão do tribunal, falando em “ultraje” e reiterando que “se opõem firmemente” à investigação dos acontecimentos dos últimos meses na Faixa de Gaza.

“Deixe-me ser claro. Seja o que for que este procurador possa sugerir, não há equivalência nenhuma entre Israel e o Hamas”
, escreveu o presidente Biden, para acrescentar que os Estados Unidos “estarão sempre ao lado de Israel contra ameaças à sua segurança”. Uma posição que vem sendo ancorada nas últimas semanas pela sua equipa na Casa Branca.

“Fomos muito claros sobre a investigação do TPI. Nós não a apoiamos. Não acreditamos que eles tenham jurisdição”, declarava já em abril a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

Também em Portugal, o embaixador de Israel em Lisboa foi pronto a reagir à decisão do TPI, considerando-a “absolutamente escandalosa”, desde logo quando coloca lado a lado Netanyahu e Gallant com os responsáveis do Hamas.

A mesma tese foi defendida pelo chefe da diplomacia americana. Antony Blinken descreveu o anúncio do procurador do TPI como “vergonhoso”.

Dizendo que estas movimentações na Haia “poderão comprometer” as conversações de cessar-fogo em Gaza, Blinken sublinhou a rejeição da “equivalência estabelecida pelo procurador entre Israel e o Hamas (…) é uma vergonha”.

“O Hamas é uma organização terrorista violenta que perpetrou o pior massacre de judeus desde o Holocausto e continua a manter dezenas de pessoas inocentes como reféns, incluindo norte-americanos”, defendeu o secretário de Estado.
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