Centenas de pessoas, incluindo o atual e quatro antigos presidentes dos Estados Unidos, encheram esta quinta-feira a Catedral Nacional de Washington para uma última despedida a Jimmy Carter. No elogio fúnebre, Joe Biden relembrou a "força de carácter" de um homem com visão e aproveitou para lançar um aviso sobre os "abusos de poder", numa cerimónia onde também esteve o presidente eleito Donald Trump.
No seu discurso, Joe Biden destacou a "força de carácter" como o principal atributo de Carter e contou que o antigo presidente lhe ensinou o imperativo de que "toda a gente deve ser tratada com dignidade e respeito".
"Temos a obrigação de não dar ao ódio um porto seguro", declarou o atual líder, referindo ainda a importância de enfrentar os "abusos de poder", considerando-os “o maior dos pecados”.
O presidente recordou “uma forte amizade iniciada em 1974”. “Eu era um senador de 31 anos e fui o primeiro senador fora da Geórgia, e talvez o primeiro senador a apoiar a sua candidatura à Presidência. Foi um apoio com base no que penso ser o atributo duradouro de Jimmy Carter: o carácter”, afirmou.
Para Biden, a vida de Carter foi "a história de um homem que nunca deixou que as marés da política o desviassem da sua missão de servir e moldar o mundo".
Realçando a importância da fé de Carter em Deus e a sua fé duradoura na América, Biden frisou que "a própria jornada da nação é uma caminhada de pura fé, para fazer o trabalho, para ser o país que dizemos que somos, para ser o país que dizemos querer ser".
"Hoje, muitos pensam que ele era de uma época passada, mas na realidade ele via bem o futuro".
Joe Biden também recordou Carter como um "batista do Sul que liderou os direitos civis", "mediou a paz" e, juntamente com o antigo vice-presidente Walter Mondale, formou uma "parceria modelo" na Casa Branca.
"Tenho saudades dele, mas consola-me saber que ele e a sua amada Rosalynn estão novamente reunidos", acrescentou. "Deus te abençoe, Jimmy Carter", terminou o presidente, passando a mão ao longo do caixão coberto pela bandeira enquanto regressava ao seu lugar.
O presidente eleito Donald Trump também esteve entre as personalidades presentes no funeral, após o qual o corpo de Carter foi transportado até ao Estado da Geórgia, onde o antigo presidente foi criado num meio rural.
O atual presidente, Joe Biden, assistiu à cerimónia fúnebre junto aos antigos presidentes Donald Trump, Barack Obama, Bill Clinton e George W. Bush. Foto: Brendan McDermid – Reuters
Trump, que regressará à Presidência dos Estados Unidos a 20 de janeiro, sentou-se ao lado do antigo presidente Barack Obama, com quem conversou no início da cerimónia. À direita de Obama estiveram Laura e George W. Bush, assim como Hillary e Bill Clinton.O primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau, o vice-presidente eleito JD Vance e o filho de Joe Biden, Hunter, também marcaram presença, tal como os antigos vice-presidentes Al Gore e Mike Pence.
Dezenas de milhares prestaram homenagem
Jason Carter, um dos netos do antigo presidente, também discursou na cerimónia. "Nunca notei diferenças entre a sua faceta pública e a sua faceta privada. Ele era a mesma pessoa, independentemente de com quem estivesse ou onde estivesse, e para mim essa é a definição de integridade. Essa honestidade era acompanhada pelo amor. Era acompanhada pela fé", declarou.
Outro neto, Joshua, lembrou que o avô "passou todo o seu tempo a ajudar os necessitados", construindo casas para pessoas que precisavam delas. "Eliminou doenças em locais esquecidos, promoveu a paz em qualquer parte do mundo, onde quer que tivesse oportunidade. Ele amava as pessoas", declarou.
Outro neto, Joshua, lembrou que o avô "passou todo o seu tempo a ajudar os necessitados", construindo casas para pessoas que precisavam delas. "Eliminou doenças em locais esquecidos, promoveu a paz em qualquer parte do mundo, onde quer que tivesse oportunidade. Ele amava as pessoas", declarou.
O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o secretário-geral
das Nações Unidas, António Guterres, também marcaram presença na
cerimónia.
Marcelo Rebelo de Sousa ficou sentado junto ao primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Foto: Elizabeth Frantz - Reuters
Nos últimos dois dias, dezenas de milhares de americanos atravessaram a Rotunda do Capitólio dos EUA para prestar homenagem a Jimmy Carter, que serviu entre 1977 e 1981 e foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 2002 pelo seu trabalho humanitário.
A Catedral Nacional de Washington foi palco dos funerais de Estado do antecessor imediato de Jimmy Carter, Gerald Ford, e do seu sucessor, Ronald Reagan.
Carter assistiu aos funerais de ambos e fez o elogio fúnebre de Ford, brincando com o facto de partilharem o amor por um desenho animado da revista New Yorker que mostrava um rapaz a olhar para o pai e a dizer: "Papá, quando for grande quero ser um antigo presidente".
Era o mais velho presidente dos EUA ainda vivo
Jimmy Carter, antigo presidente dos Estados Unidos e vencedor do prémio Nobel da Paz, morreu no dia 29 de dezembro, aos 100 anos. Retirado de toda a vida pública, recebia cuidados paliativos na sua casa em Plains, estado da Geórgia, desde fevereiro de 2023.
Eleito para a Casa Branca em 1976, vencendo o então presidente Gerald Ford por uma margem de votos tangencial e numa América ainda marcada pelo escândalo "Watergate" que forçou o Presidente Richard Nixon a demitir-se, Carter assumiu o cargo de 39.º presidente dos Estados Unidos durante quatro anos.
Carter, um homem que falava frequentemente da sua fé cristã, era o mais velho presidente norte-americano ainda vivo.
O seu único mandato foi marcado por importantes acontecimentos no plano internacional. Em 1977, Carter assinou o tratado que assegurou aos Estados Unidos o controlo do Canal do Panamá até 1999.
É considerado o artífice dos Acordos de Camp David que em março de 1979 conduziram à assinatura do tratado de paz israelo-palestiniano e foi durante a sua liderança que ocorreu a crise da tomada de reféns norte-americanos no Irão em 1979-1980, situação que lhe valeu fortes críticas internas.
Carter acabaria por perder a disputa com Ronald Reagan, um antigo ator de Hollywood e senador republicano, quando se candidatou à reeleição.
Após abandonar a Casa Branca, Jimmy Carter fundou o Carter Center em 1982, para promover o desenvolvimento, a saúde e a resolução de conflitos no mundo.
Natural da Geórgia, Estado que o viu tornar-se governador, Jimmy Carter era caracterizado como um "viajante incansável" que podia ser encontrado em todo o lado: do México ao Peru, passando pela Nicarágua e até Timor-Leste.
Em 2002 recebeu o Prémio Nobel da Paz, designadamente "pelas décadas de esforços infatigáveis com o objetivo de encontrar soluções pacíficas aos conflitos internacionais".
c/ agências