UE saúda queda do regime de al-Assad e disponibiliza-se para reorganização de uma nova Síria

por RTP
Anadolu via Reuters Connect

O presidente Bashar al-Assad foi derrubado após 24 anos no poder, após a morte do seu pai, e terá já deixado a Síria face ao sucesso da ofensiva rebelde, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. Rússia, China e Irão manifestaram preocupação pelo fim do regime, mas a maioria dos países ocidentais saudou o golpe e colocou os seus esforços à disposição para a construção de uma nova Síria.

No culminar de 12 dias de uma ofensiva que foi tomando cidades no caminho para Damasco, os rebeldes declararam a capital livre de Bashar al-Assad. A coligaçãode forças foi liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe), juntamente com fações apoiadas pela Turquia. No poder há mais de 50 anos, o partido Baath era para muitos sírios um símbolo de repressão, iniciada pelo pai de al-Assad, Hafez al-Assad, que se manteve no poder até à sua morte em 2000.

Presidente do Parlamento Europeu apela ao diálogo para enfrentar momento crítico

A presidente do Parlamento Europeu afirmou hoje que a queda do Governo de Bashar al-Assad na Síria é um momento "crítico" para a região e destacou que o diálogo e o respeito pelo direito internacional devem prevalecer.

Roberta Metsola deixa um alerta para o tempo imediato que se segue e que vê como decisivo: "É o diálogo, a unidade, o respeito pelos direitos fundamentais e pelo direito internacional que devem caracterizar os próximos passos".
A presidente do Parlamento Europeu considera ser este "um momento crítico para a região e para os milhões de sírios que desejam um futuro livre, estável e seguro".

"O ditador caiu. É claro que o governo brutal de 24 anos de Bashar al-Assad na Síria terminou e o seu regime está desfeito", referiu, nas redes sociais.

Também a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, se referiu ao assunto, para dizer que a prioridade da União Europeia "é agora garantir a segurança na região", comprometendo-se a trabalhar nesse sentido "com todos os parceiros construtivos, na Síria e na região" no que - avisa - poderá vir a ser um processo de reconstrução longo e difícil.

"Estou em contacto estreito com os ministros da região. O processo de reconstrução na Síria será longo e complicado e todas as partes devem estar dispostas a colaborar de forma construtiva", declarou Kaja Kallas, que deixou uma provocação à Rússia e Irão na rede social X.



"O fim da ditadura de Assad é um desenvolvimento positivo e há muito esperado. Também mostra a fraqueza dos apoiantes de Assad, a Rússia e o Irão", diz Kallas.

António Costa fala de "nova oportunidade de liberdade"

António Costa, agora nas novas funções de presidente do Conselho Europeu, referiu-se ao fim do que considera a "ditadura de Assad" como uma "nova oportunidade de liberdade e de paz para o povo sírio".

"A ditadura de Assad causou imenso sofrimento. Com o seu fim, surge uma nova oportunidade de liberdade e paz para todo o povo sírio", escreveu António Costa na rede social X.



O novo presidente do Conselho Europeu junta-se aqui a Kallas para dar garantias de uma União Europeia "preparada para trabalhar com o povo sírio por um futuro melhor".

ONU vê oportunidade para abri caminho aos Direitos Humanos

Os peritos das Nações Unidas encarregados de investigar violações dos Direitos Humanos na Síria desde 2011 vêem a queda do regime de Bashar al-Assad como "uma oportunidade para inaugurar uma era mais respeitadora dos Direitos Humanos no país".

"Chegou o momento de conduzir o país a um futuro estável, próspero e justo, que garanta os direitos humanos e a dignidade há muito negados ao seu povo", declara a comissão presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro em comunicado.

Paulo Sérgio Pinheiro espera que a tomada de Damasco possa marcar "o fim de décadas de repressão estatal".

A nota oficial congratula-se em particular com a libertação de prisioneiros que teve lugar na prisão de Sednaya, arredores de Damasco: "É um quadro que milhões de sírios não podiam imaginar há apenas alguns dias e é importante que as autoridades atuais garantam que as atrocidades ali cometidas não se repitam".

Foi igualmente saudada a libertação de milhares de prisioneiros em zonas recentemente tomadas pela Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS, em árabe, uma antiga filial síria da al-Qaeda).

"Esperamos que as autoridades garantam que todas as pessoas libertadas de detenções arbitrárias e ilegais recebam assistência para facilitar o reagrupamento familiar e que tenham apoio psicológico e médico adequado", afirmaram.

Busca por milhares de desaparecidos em centros de detenção

Os investigadores manifestaram também a esperança de que seja conhecido o paradeiro de dezenas de milhares de pessoas desaparecidas, muitas das quais podem ter estado presas nos centros de detenção do regime deposto sem que as suas famílias tenham qualquer informação sobre o seu paradeiro.

Os peritos pediram que as partes em conflito facilitassem uma entrada sem entraves da missão da ONU na Síria para investigar esse centros de detenção.

Por último, apelaram às novas autoridades sírias para que protejam as casas e os bens das centenas de milhares de pessoas deslocadas na última ofensiva das forças da oposição, que começou há pouco mais de uma semana e terminou com a tomada de Damasco: "Há uma oportunidade para quebrar o círculo vicioso destrutivo de pilhagem que a missão documentou em anteriores mudanças de poder territorial".

c/ Lusa
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