A União Europeia lamentou hoje as detenções de jornalistas na Turquia e exige que o país respeite a liberdade de imprensa, num momento em que as autoridades turcas aplicam medidas contra a cobertura noticiosa dos protestos dos últimos dias.
"É crucial que os jornalistas possam realizar o seu trabalho sem ameaça de violência, assédio ou intimidação para garantir o acesso dos cidadãos a toda a informação", declarou um porta-voz da Comissão Europeia, citado pela agência France-Presse (AFP), a propósito de centenas de detenções no âmbito dos protestos, incluindo uma dezena de jornalistas.
As manifestações diárias nas principais cidades turcas foram suscitadas pela prisão, na semana passada, do presidente da autarquia de Istambul, Ekrem Imamoglu, por alegada corrupção e ligações terroristas, e que é um dos principais opositores do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
A BBC informou hoje que um repórter da estação pública britânica foi expulso da Turquia pelas autoridades que o acusam de representar "uma ameaça à ordem pública" no país.
"As autoridades turcas expulsaram o correspondente da BBC News Mark Lowen de Istambul depois de o terem levado para o seu hotel no dia anterior e de o terem detido durante 17 horas", noticiou o canal.
Vários jornalistas foram detidos nos últimos dias na Turquia, enquanto cobriam protestos que foram proibidos pelas autoridades em várias grandes cidades, incluindo Yasin Akgül, fotógrafo da AFP, na sua residência em Istambul.
O órgão francês noticiou hoje que o jornalista turco de 35 anos já saiu da prisão, onde se encontrava desde terça-feira, juntamente com outro oito profissionais de comunicação social, mas, segundo o seu advogado, as acusações não foram levantadas.
O Reino Unido disse hoje esperar que a Turquia respeite o Estado de Direito, bem como "a democracia, os direitos fundamentais de liberdade de expressão, o direito de reunião pacífica e a liberdade de imprensa", destacando em simultâneo a "relação forte e importante" com Ancara.
"Esperamos respeito pelos compromissos internacionais que partilhamos e pelo Estado de Direito, incluindo processos judiciais rápidos e transparentes", disse um porta-voz do executivo de Londres à AFP.
Também o Presidente francês, Emmanuel Macron, lamentou hoje o que definiu como ataques e agressões contra a oposição ao executivo de Ancara.
"A natureza sistemática dos processos contra figuras da oposição e da sociedade civil, os ataques à liberdade de informação e de reunião e a detenção do presidente da Câmara de Istambul constituem claramente ataques e agressões que só podemos lamentar", comentou.
Ao mesmo tempo, as autoridades da Turquia impuseram hoje sanções e multas a quatro canais de televisão do país pela cobertura em direto dos protestos antigovernamentais.
O Conselho Supremo de Rádio e Televisão da Turquia (RTUK), órgão que supervisiona as emissões audiovisuais, aplicou multas às estações Tele1, Halk TV, Sözcü TV e NOW TV, informou Ilhan Tasçi, membro deste órgão oficial, na sua conta na rede X.
Entre as violações de que estas redes são acusadas está a transmissão em direto de um discurso do dirigente da oposição Özgür Özel, líder do Partido Republicano do Povo (CHP), no qual apelou para o boicote de várias grandes marcas porque serem detidas por interesses empresariais próximos do Governo.
O pedido de boicote de Özel afetou negativamente o valor das marcas mencionadas, e transmiti-lo em direto é contrário à "responsabilidade das emissoras de evitar discursos polarizados e divisivos", justificou o RTUK.
O órgão sublinhou que as transmissões em direto incluíram também insultos ao Presidente turco e comentários ofensivos sobre juízes, procuradores e funcionários públicos.
Outro motivo para a sanção, por alegadamente minar a confiança no poder judicial, foi a opinião expressa num programa de que os tribunais "estão a tentar fabricar um crime", em referência às acusações contra Imamoglu, que se declara inocente de um processo que diz ter motivações políticas para o afastar das presidenciais de 2028.
A RTUK impôs uma suspensão de 10 dias à Sözcü TV, parte da mesma empresa do jornal Sözcü, o maior jornal da oposição, com uma tiragem de 175.000 exemplares.
A cadeia de TV Halk, próxima da CHP, foi condenada a suspender a transmissão de um programa de notícias cinco vezes consecutivas e a pagar uma multa administrativa por outro conteúdo. A mesma medida foi imposta à Tele1, também crítica do governo.
A Now TV, anteriormente conhecida como Fox e propriedade da Walt Disney Company, também foi multada.
Segundo as autoridades turcas, mas de 1.800 pessoas foram detidas no seguimento dos protestos contra a prisão de Imamoglu, que, apesar de preso, foi escolhido pelo seu partido para concorrer às próximas presidenciais, previstas para 2028.