O presidente da Ucrânia respondeu esta sexta-feira a perguntas dos jornalistas no dia em que se completa um ano da invasão das forças russas na Ucrânia. Zelensky disse acreditar que a vitória da Ucrânia na guerra é "inevitável" e saudou o esforço de Pequim para mediar o conflito com a Rússia. Sobre os últimos 365 dias, o presidente ucraniano disse que o dia mais assustador foi aquele em que visitou Bucha, onde percebeu "que o diabo estava na nossa terra".
Volodymyr Zelensky pediu um minuto de silêncio pelos jornalistas que perderam a vida em território ucraniano enquanto realizavam a reportagem para vários países do mundo. O presidente ucraniano agradeceu o trabalho da comunicação social em levar conhecimento ao resto do mundo.
“Todos são representantes dos nossos amigos ocidentais. Quero agradecer aos colegas que já não estão connosco, que perderam a vida na Ucrânia, a honrar a vossa profissão”.
Um ano depois do início da guerra na Ucrânia, Zelensky explicou aos jornalistas uma das maiores certezas que tem: que a vitória ucraniana será “inevitável” e que quer que aconteça ainda neste ano de 2023.
“Se cada um de nós fizer o trabalho de casa, a vitória será inevitável. Quero muito que aconteça este ano, temos certeza, temos amigos, temos a diplomacia e temos voz contra esta invasão. A verdade está do nosso lado”.
O presidente ucraniano agradeceu o apoio de mais de 140 países na ONU numa resolução que pede uma fórmula de paz para o futuro da Ucrânia e da Rússia. Zelensky explicou também que quer realizar uma cimeira com vários países aliados e muitos outros que não apoiaram a resolução para poder transmitir-lhes “conhecimento” sobre o que é a perda de vidas na Ucrânia e a perda de integridade territorial.
Plano de paz proposto por Pequim
Com uma posição ambígua desde o início da invasão, a China fez esta sexta-feira uma proposta de paz para o fim dconflito na Ucrânia. Apesar de tentar perceber o contexto das palavras do executivo de Pequim, o presidente da Ucrânia disse que as palavras chinesas são “um primeiro passo” e que espera que no futuro exista maior convergência para iniciar conversações.
“A China começou a falar sobre a Ucrânia o que já não é mau. Mas o que está por trás dessas palavras?", questionou.
Zelensky vê pontos de acordo com o regime de Xi Jinping, especialmente no que toca à integridade territorial e ao direito internacional. O presidente da Ucrânia afirma que esse é um primeiro passo para se trabalhar com a China.
Justiça é complexa e Zelensky quer responsabilizar Rússia
Volodymyr Zelensky foi questionado sobre a questão da justiça e de como a Rússia pode ser responsabilizada pelos atos russos em território ucraniano.
O líder ucraniano fala de uma “questão complexa” e difícil de resolver. “Está presente na nossa fórmula de paz e queremos fazer [justiça] no futuro. A unidade política é necessária e criámos um tribunal especial para condenar os crimes da Rússia, vincou.
Zelensky também quer que no fim da guerra, a Federação Russa consiga ressarcir financeiramente a Ucrânia pelos estragos feitos em território da Ucrânia. “Todos estamos a trabalhar para isso, para tornar o mecanismo [de justiça] funcional”.
O presidente da Ucrânia lembrou o trabalho que está a ser desenvolvido com os Países Baixos e com Rishi Sunak no que respeita a tentar implementar justiça.
“É difícil porque as instituições foram criadas há muito tempo e não foram submetidas a este tipo de teste, como esta agressão, e o sistema é burocrático e não dá resposta. Acho que esta guerra mostra os pontos fracos dentro das instituições, União Europeia, Europa em geral”.
Zelensky não esqueceu também o papel de António Guterres no papel mediador que teve durante a crise alimentar e quando foi possível retirar cereais para fora do território ucraniano em navios.
“Saiam do nosso território”
Mantendo a convicção de que a vitória ucraniana será uma vitória dos valores, Volodymyr Zelensky disse perceber a razão pela qual mais de 20 países da NATO aumentaram os seus orçamentos de Defesa após o início da invasão.
“Saiam do nosso território. Parem de matar civis, parem de destruir infraestruturas, cidades, aldeias, de queimar florestas. Tudo isto deve ser parado e depois veremos qual será o formato da solução diplomática”, afirmou Zelensky.
Instado a realizar um sumário do primeiro ano de guerra, o presidente da Ucrânia foi questionado sobre que mais o desiludiu, qual o maior erro que cometeu e o dia mais assustador desde que começou a invasão russa.
Zelensky foi assertivo: “desiludiram-me os que abandoram Kiev e saíram das cidades quando deviam liderar o país e a sua segurança. Erro principal? Foram vários. Todos os dias, de manhã à noite, faço escolhas. Sou um ser humano, cometo erros mas o que importa é que não cometa erros fatais”.
Por último, sobre o dia mais difícil e assustador que viveu, Volodymyr Zelensky falou de Bucha.