Ucrânia. UE prepara sanções em larga escala contra Moscovo em caso de ataque

por RTP
Os responsáveis diplomáticos de EUA, Reino Unido, França e Alemanha estiveram reunidos em Berlim esta semana para concertar posições em relação à crise na Ucrânia. Kay Nietfeld - Reuters

O jornal espanhol El País avança este sábado que a União Europeia negociou um amplo conjunto de sanções contra a Rússia de Vladimir Putin caso haja um ataque contra a Ucrânia. Prevê-se, em concertação com Washington, a suspensão da cooperação económica entre o bloco europeu e Moscovo e uma redução nas relações económicas, incluindo a importação de gás e petróleo russos.

Entre as principais medidas delineadas estão também o encerramento dos mercados de capitais europeus para empresas e instituições financeiras russas e ainda a imposição de restrições às exportações de materiais ou serviços essenciais para setores-chave da economia em Moscovo, nomeadamente a energia ou a indústria pesada.

A eventual imposição de sanções financeiras e económicas poderá deixar a Rússia isolada nos mercados mundiais, mas deverá também perturbar a economia europeia, que de acordo com o jornal El País já está a preparar planos de contingência para lidar com a situação, tendo em conta sobretudo a grande dependência energética da UE.

Este corte de relações traria danos para Bruxelas e Moscovo, mas seria mais devastador para a economia russa: a União Europeia é o maior parceiro comercial da Rússia e recebe uma fatia de 38 por cento das exportações do país. Por outro lado, o mercado russo representa apenas 4,1 por cento das exportações europeias.
Andrea Neves, correspondente da Antena 1 em Bruxelas

“Esta relação comercial é importante para nós, mas é muito mais importante para a Rússia”, alertou na última quinta-feira a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O plano de sanções a aplicar será abordado na próxima segunda-feira durante um almoço, à porta-fechada, entre os ministros europeus dos Negócios Estrangeiros e o alto representante europeu para a Política Externa, Joseph Borrell.

De acordo com um diplomata europeu ouvido pelo diário El País, o objetivo da reunião de segunda-feira “não é adotar sanções específicas, mas estabelecer cenários e as reações" a adotar.

Bruxelas recusa-se a tornar públicas que consequências seriam possíveis em caso de invasão da Ucrânia pela Rússia, mas alerta que um ataque “levaria a uma resposta à altura do maior desafio de segurança que a Europa enfrenta desde a II Guerra Mundial”, refere outro diplomata europeu.
Concordar em voltar a falar. E pouco mais

Esta semana, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, esteve reunido com o homólogo russo, Sergei Lavrov, para discutir a tensão vivida no leste europeu, junto à fronteira com a Ucrânia. Antes disso, o responsável pela diplomacia dos EUA fez um périplo pela Europa durante a semana, tendo isso ao encontro do Presidente ucraniano, em Kiev, e de responsáveis britânicos, franceses e alemães, em Berlim.

A Rússia procura alcançar um novo acordo de segurança com o Ocidente, nomeadamente a promessa de que a NATO se manterá afastada de Kiev, enquanto os Estados Unidos e aliados exigem a retirada de tropas russas situadas junto à fronteira com a Ucrânia.

Mas após uma semana de mais um esforço diplomático, pouco ou nada mudou no braço de ferro. Após a reunião de sexta-feira, russos e norte-americanos concordaram em voltar aos encontros diplomáticos entre os dois países “na próxima semana” após “negociações francas e substanciais”, segundo Blinken. Por seu lado, Lavrov destacou a importância de prosseguir com um “diálogo razoável” para conseguir “reduzir as emoções”.

Quase 100 mil soldados russos continuam destacados junto à fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, o que leva Washington, Bruxelas e Kiev a temerem uma invasão do leste do país, oito anos depois da anexação da Crimeia.

O Kremlin, por sua vez, nega a existência de qualquer plano de invasão e justifica as movimentações junto à fronteira como meros treinos militares em resposta ao comportamento agressivo da Aliança Atlântica e da Ucrânia.

Vladimir Putin tem intensificado o apoio aos separatistas na região de Donbass, na zona leste da Ucrânia, e anunciou esta semana a realização de exercícios militares em conjunto com a Bielorrússia junto à fronteira com a Ucrânia, o que dá a Moscovo mais uma via para uma eventual invasão.

Em dezembro, a Rússia apresentou um amplo conjunto de exigências ao Ocidente, que apresenta como “preocupações legítimas”. Em concreto, mencionam o perigo de expansão da NATO no leste da Europa e exigem o fim da atividade da Aliança Atlântica em países da Europa Central e Oriental que aderiram à NATO após 1997. Ambas são categoricamente negadas pelos responsáveis diplomáticos da aliança, União Europeia e dos Estados Unidos.
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