Ucrânia. Rússia acusa Europa de querer que a guerra continue, ao contrário de Trump
O Kremlin acusa a Europa de querer continuar com a guerra na Ucrânia, ao contrário dos Estados Unidos, e mostra-se, mais uma vez, disponível para encontrar uma solução para o conflito através de negociações com Washington. O presidente ucraniano alertou, por sua vez, para qualquer acordo negociado à pressa com a Rússia.
"Esta convicção dos europeus contrasta completamente com o desejo de encontrar um acordo sobre a Ucrânia, o que estamos atualmente a fazer com os americanos", acrescentou Peskov.Moscovo continua, assim, a excluir a Europa para as conversações de paz na Ucrânia, o que tem sido duramente criticado pelos líderes europeus nas últimas semanas.
Esta segunda-feira, dia em que se assinala o terceiro aniversário da guerra na Ucrânia, dezenas de líderes europeus, incluindo os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, deslocaram-se a Kiev para uma cimeira de apoio à Ucrânia.
Nas suas declarações, os líderes fizeram questão de sublinhar que mantêm o apoio firme à Ucrânia e todos defendem que Volodymyr Zelensky deve participar nas negociações de paz e que o futuro do país é também importante para a Europa.
"Estamos hoje em Kiev porque a Ucrânia é a Europa. Nesta luta pela sobrevivência, não é apenas o destino da Ucrânia que está em causa. É o destino da Europa", afirmou a presidente da Comissão Europeia numa publicação na rede social X, acompanha de um vídeo do momento da chegada de Von der Leyen a Kiev, ao lado de António Costa.
“Não haverá negociações credíveis e bem sucedidas nem paz duradoura sem a Ucrânia e sem a União Europeia”, salientou António Costa durante a cimeira, sublinhando que “apenas a Ucrânia pode decidir quando existem condições para se iniciar uma negociação para a paz”.
Os líderes europeus e a própria Ucrânia têm reiterado o apelo para a participação nas negociações para um eventual acordo de paz, depois de Washington e Moscovo terem avançado com reuniões preliminares para esboçar um cessar-fogo e um acordo de paz, que foi amplamente criticado pela União Europeia e pela Ucrânia, por excluir o país invadido e os países daquele continente.
"Putin não nos dará paz”
Na cimeira desta segunda-feira, o presidente ucraniano também alertou para qualquer acordo negociado à pressa com a Rússia, observando que “a paz não pode ser simplesmente declarada numa hora".
"Putin não nos dará paz, nem a dará em troca de algo", disse Zelensky. "Temos que conquistar a paz através da força, da sabedoria e da união, por meio da nossa cooperação com vocês", disse o líder ucraniano, dirigindo-se aos líderes europeus presentes nesta cimeira.
Zelensky voltou a defender que uma paz duradoura só funcionará se a Ucrânia receber "garantias de segurança" firmes. Mas como ponto de partida para o início das negociações de paz, Zelensky apelou a uma troca de todos os prisioneiros de guerra com a Rússia.
"Este ano deve ser o ano do início de uma paz real e duradoura”, apelou Zelensky.
Europa entrou em "nova era" com Trump
Este terceiro aniversário da invasão russa acontece na fase mais incerta e preocupante para a Ucrânia, com uma mudança radical de posição da parte dos EUA após a tomada de posse de Donald Trump, que apresenta uma postura destoante em relação ao seu antecessor, Joe Biden.
Com Donald Trump na Casa Branca, a ajuda crucial dos EUA à Ucrânia está em risco, ao mesmo tempo que os EUA se aproximam cada vez mais de Moscovo, o que tem feito soar os alarmes dos aliados europeus.
As autoridades europeias ficaram desprevenidas com as decisões de Trump de manter negociações com a Rússia para pôr fim à guerra na Ucrânia, desprezando Kiev e a Europa, e com o aviso do seu Governo de que os Estados Unidos já não estavam focados principalmente na segurança da Europa.
"É evidente que as declarações vindas dos Estados Unidos nos deixam preocupados", disse a responsável pela política externa da UE, Kaja Kallas, após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia em Bruxelas.
No entanto, Kallas acrescentou que a Europa e os Estados Unidos já tinham resolvido as suas diferenças antes "e esperamos fazer o mesmo desta vez".
"É claro que [a relação transatlântica] vai mudar. Isso é muito claro, mas não devemos deitar por terra algo que tem funcionado bem até agora”, salientou.
A União Europeia anunciou, esta segunda-feira, um novo pacote de ajuda à Ucrânia no valor de 3,5 mil milhões de euros e prometeu a entrega imediata de mais armas e munições. Para além disso, a UE impôs também uma 16ª ronda de sanções contra a Rússia, que inclui uma proibição das importações primárias de alumínio e das vendas de consolas de jogos, bem como uma lista de proprietários e operadores de 74 petroleiros “fantasma”, utilizados pela Rússia para contornar as sanções já existentes.
c/ agências