Ucrânia. Grupo Wagner tenta recrutar voluntários na Sérvia e gera indignação

por RTP
Em 2014, vários voluntários sérvios lutaram com as forças russas na região ucraniana do Donbass. Marko Djurica - Reuters

O grupo de mercenários Wagner está a tentar recrutar voluntários na Sérvia, causando indignação nesse país dos Balcãs. Em causa está um vídeo divulgado por um canal russo no qual se veem voluntários sérvios a treinar com as tropas de Moscovo na Ucrânia, encorajando novos voluntários a candidatarem-se.

O vídeo, onde os participantes falam em idioma sérvio, já foi criticado pelo presidente desse país, Aleksandar Vucic. “Por que é que vocês, do grupo Wagner, chamam pessoas da Sérvia quando sabem que isso vai contra as nossas regras?”, questionou, referindo-se ao facto de Belgrado proibir que a população participe em conflitos estrangeiros.

Em 2014, vários voluntários sérvios lutaram com as forças russas na região ucraniana do Donbass. Mais de 20 pessoas foram entretanto condenadas por tribunais sérvios por terem “lutado em frentes de batalha estrangeiras”.

Agora, a alegada tentativa russa de recrutar mais mercenários sérvios levou a que um advogado de Belgrado e vários grupos antiguerra submetessem queixas formais contra o embaixador russo na Sérvia, assim como contra o chefe da Agência de Segurança e Informação desse país, por alegadamente recrutarem voluntários para o grupo Wagner.

Segundo o presidente sérvio, a posição do país em relação à guerra na Ucrânia é “neutra”. Vucic disse ainda não falar com o homólogo russo, Vladimir Putin, “há vários meses”.

Desde o início da guerra, a Sérvia votou diversas vezes em favor de resoluções da ONU a condenar a agressão russa. Esta semana, em Belgrado, o presidente Aleksandar Vucic deixou clara a sua posição: “Para nós, a Crimeia é Ucrânia, o Donbass é Ucrânia, e vão permanecer assim”.

Vucic negou ainda que o grupo Wagner, liderado por Evgeny Prigozhin, aliado de Vladimir Putin, esteja presente na Sérvia, onde organizações pró-Kremlin e ultranacionalistas apoiaram a invasão da Ucrânia.
"Consequências legais"
A posição do presidente veio surpreender alguns críticos segundo os quais a Sérvia tem posto em primeiro lugar a sua longa relação de amizade com a Rússia, deixando para trás a ambição de juntar-se à União Europeia.

Belgrado tem, aliás, recusado repetidamente impor sanções a Moscovo. Por duas vezes, países membros do Parlamento Europeu passaram resoluções pedindo a suspensão das negociações de entrada da Sérvia até que esta concorde em impor sanções à Rússia.

Apesar de ser candidata à UE e de Bruxelas ser a sua principal investidora e parceira comercial, a Sérvia mantém com a Rússia uma forte cooperação militar e também comercial.

Na terça-feira, a agência russa de notícias RIA transmitiu na televisão imagens de dois homens mascarados a identificarem-se como voluntários sérvios. Ambos participavam num treino com armamento em zonas controladas por Moscovo na região ucraniana de Zaporizhia.

O ministro sérvio da Defesa veio, entretanto, avisar a população que não deve lutar pelo lado russo na guerra da Ucrânia. “Tal resultará em consequências legais assim que esses indivíduos possam ser responsabilizados perante os órgãos estatais”, alertou Milos Vucevic na Radio Free Europe.
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