Ucrânia estende a mão à América em véspera de aniversário da invasão russa

por Carlos Santos Neves - RTP
Soldados ucranianos manobram um veículo de defesa anti-aérea alemão Gepard em Odessa, no sul da Ucrânia Igor Tkachenko - EPA

Com a marca dos dois anos desde a invasão russa da Ucrânia à vista no calendário, o campo republicano na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos mantém bloqueado um envelope suplementar destinado à assistência militar a Kiev. O presidente ucraniano ensaiou, na última noite, novo apelo a Washington, via Fox News: o seu país, estimou, pode sobreviver sem o apoio do Capitólio, mas sem evitar mais mortes.

Em causa está um pacote de 60 mil milhões de dólares. Esta assistência tem já o carimbo de aprovação do Senado, onde impera uma maioria democrata. Na Câmara dos Representantes, o domínio é, todavia, republicano. Flanco que tem ido ao encontro das pretensões de Donald Trump, candidato à nomeação do partido para a eleição presidencial de novembro.

“Será que a Ucrânia vai sobreviver sem o apoio do Congresso? Certamente. Mas não todos nós”, advertiu Volodymyr Zelensky, em declarações emitidas na quinta-feira pela estação norte-americana Fox News.A Ucrânia completa, no sábado, dois anos desde a invasão da Rússia de Vladimir Putin. O presidente norte-americano, Joe Biden, tem vindo a exortar os congressistas republicanos a evitarem “dar uma prenda a Putin”.

Diante da erosão acelerada das capacidades de defesa, o presidente ucraniano volta também a martelar a ideia de que o custo do reforço da cooperação militar com o seu país é inferior ao potencial preço de uma conflagração posterior com o Kremlin, em países terceiros.

Na véspera do segundo aniversário da guerra – e à falta de fumo branco no Congresso -, a Administração Biden anuncia mais um conjunto de sanções contra a Rússia. Os alvos são mais de meio milhar de entidades associadas à “máquina de guerra” russa, segundo um porta-voz do Departamento norte-americano do Tesouro citado pela France Presse.

Este anúncio norte-americano segue-se ao consenso, na União Europeia, para o 13.º pacote de sanções contra entidades da Rússia, a somar a medidas adotadas pelo Reino Unido contra mais de 50 figuras e empresas do país de Putin.

Por sua vez, o Fundo Monetário Internacional deverá injetar, a breve trecho, 800 milhões de dólares na Ucrânia – a terceira parcela de um programa de assistência de 15,6 milhões adotado em março do ano passado. Falta a aprovação do conselho de administração.
“Extremamente difícil”
Enquanto se adensa o xadrez político-partidário no seio do principal aliado de Kiev, acentuam-se os bombardeamentos russos, com recurso a mísseis e drones, sobre território ucraniano. Já esta sexta-feira, morreram pelo menos três pessoas em Odessa, no sul da Ucrânia.

Na região de Dnipropetrovsk, no centro-leste do país, o governador local, Sergiy Lysak, descreveu na plataforma Telegram uma “noite de horror”: os socorristas procuravam, de madrugada, vítimas “entre os escombros” de um edifício de apartamentos “gravemente danificado”.O Estado-maior ucraniano adianta que terão sido abatidos, durante a noite, pelo menos 23 drones das forças russas. No sul, em Kherson, as tropas ucranianas terão “abatido ou ferido com gravidade” 60 soldados russos.

Depois de esta semana ter perdido para os russos o bastião de Avdiivka, no oblast de Donetsk, a leste, o exército ucraniano enfrenta, nas palavras de Zelensky, uma situação “extremamente difícil” na frente da guerra.

Em visita ao Brasil, para uma reunião do G20, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, manteve, por seu turno, o discurso de responsabilização do Ocidente, acusando os adversários de Moscovo na arena internacional de brandir “acusações infundadas” e “ucranizar a ordem do dia”.

c/ agências
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