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Ucrânia anuncia captura de dois combatentes chineses ao serviço da Rússia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Volodymyr Zelensky em Kiev, 1 de abril de 2025 Alina Smutko - Reuters

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou esta terça-feira a captura de dois cidadãos chineses que combatiam integrados nas fileiras do exército russo na região de Donetsk, Ucrânia, e pediu aos países ocidentais que "respondam" ao "envolvimento" da China.

Na mensagem publicada nas redes sociais, em que relatou a captura, Zelensky revelou que "temos informações que sugerem que há muitos mais cidadãos chineses nas unidades do ocupante".

O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) tem a custódia dos dois soldados chineses e está a trabalhar com o Exército ucraniano, em conjunto com outras estruturas de serviços secretos, para obter mais pormenores sobre a participação destes chineses na guerra, de acordo com Zelensky.

Estes foram os primeiros cidadãos chineses capturados na Ucrânia desde o início da invasão russa, há três anos.

A captura foi relatada por Zelensky em conferência de imprensa, enquanto pôs a circular nas redes sociais um pequeno vídeo a mostrar alegadamente um desses presumíveis soldados chineses. "Temos os documentos destes prisioneiros, cartões bancários, dados pessoais", alegou o presidente ucraniano.

Nas imagens, um jovem de uniforme militar, com feições asiáticas e mãos atadas, tenta descrever ao seu interlocutor, fora do ecrã, o que parece ser uma luta em que participou. Ouve-se a dizer a palavra "comandante" em inglês.

Os dois soldados foram capturados em Donetsk, durante confrontos nos quais participaram seis militares chineses, junto à aldeia de Bilogorivka.
Explicações e resposta
O encarregado de negócios chinês em Kiev foi já convocado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Andriy Sybiga, que lhe vai "exigir explicações".

A captura destes soldados chineses "põe em causa a posição declarada da China a favor da paz e prejudica a credibilidade de Pequim como membro permanente responsável do Conselho de Segurança das Nações Unidas", afirmou Sybiga na rede X.

Volodymyr Zelensky assumiu estas orientações, revelando ter dado "instruções ao Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano para contactar imediatamente Pequim e esclarecer como é que a China tenciona reagir a esta situação". "Seja direto ou indireto, o envolvimento da China, juntamente com outros países, nesta guerra na Europa, é um sinal claro de que o presidente russo, Vladimir Putin, está disposto a fazer tudo menos a pôr fim à guerra", afirmou Zelensky, acusando o homólogo russo de "procurar formas de continuar a combater".

O presidente ucraniano apelou entretanto a uma resposta dos Estados Unidos, da Europa e do resto da comunidade internacional "que quer a paz".

"Este é um novo país que está a apoiar militarmente a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao lado da Rússia, depois do Irão e do exército norte-coreano", acusou Zelensky, colocando em dúvida a apregoada posição neutral de Pequim perante o conflito.

A China afirmou-se potencial mediadora no conflito ucraniano, sem nunca ter condenado Moscovo. Permanece um importante aliado político e económico da Rússia, ao ponto de o Ocidente a ter descrito como uma "facilitadora decisiva" da invasão russa.
China, Irão e Coreia do Norte
A cooperação diplomática e económica entre Pequim e Moscovo intensificou-se desde a enorme ofensiva russa lançada contra a Ucrânia em Fevereiro de 2022 e as sanções ocidentais impostas, em retaliação, à Rússia.

A China é notavelmente acusada de ajudar o país a contornar os castigos, permitindo-lhe adquirir os componentes tecnológicos necessários para a produção de armas.

Tanto o exército russo como o ucraniano têm cidadãos estrangeiros a combater nas suas fileiras.
Os russos têm informado sobre a captura de colombianos, britânicos, americanos e australianos, voluntários nos contingentes ucranianos.

Ucrânia, Coreia do Sul e países ocidentais acusam a Coreia do Norte de ter enviado milhares dos seus soldados para reforçar as fileiras russas. Em dezembro, Kiev anunciou a captura de alguns destes soldados norte-coreanos na região russa de Kursk, parcialmente ocupada pela Ucrânia em agosto de 2024 e da qual tem vindo a ser lentamente expulsa.

O governo ucraniano afirma ainda que Pyongyang está a fornecer munições e mísseis à Rússia para a ajudar neste conflito.

Kiev tem acusado também o Irão de fornecer drones explosivos Shahed e mísseis de curto alcance ao exército russo, para a guerra na Ucrânia, o que Teerão nega.
Movimentações

Num sinal de aproximação entre Rússia, Irão e China, representantes destes três Estados vão reunir-se em Moscovo na terça-feira sobre a questão nuclear iraniana, numa altura em que o presidente norte-americano, Donald Trump, procura iniciar conversações diretas com Teerão.

A Administração Trump tem procurado mediar diretamente a paz na Ucrânia e conseguiu no passado mês de março que Kiev e Moscovo aceitassem um plano de tréguas. O Kremlin exigiu depois várias condições para calar as armas, levando Zelensky a pressionar os EUA a reagir.

Esta terça-feira, a embaixadora interina dos EUA nas Nações Unidas, Dorothy Shea, garantiu ao Conselho de Segurança que os Estados Unidos "não terão paciência para negociações de má-fé ou violação de compromissos" enquanto procuram pôr fim à guerra na Ucrânia.

"No fim do dia, julgaremos o compromisso do presidente (Vladimir) Putin com um cessar-fogo pelas ações da Rússia", disse Shea ao conselho de 15 membros.

com agências
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