O jornal turco Sabah divulgou esta quarta-feira fotografias de 15 homens sauditas que, alegadamente, foram contratados para capturar Jamal Khashoggi, o jornalista de 59 anos que a 2 de outubro desapareceu em Istanbul, na Turquia. De acordo com fontes turcas, Khashoggi terá sido assassinado e desmembrado.
Vídeos já divulgados mostram o jornalista saudita a entrar no consulado da Arábia Saudita em Istanbul, onde se deslocou para obter os documentos necessários para o seu casamento. As autoridades sauditas garantiram que Khashoggi saiu do edifício com vida pouco tempo depois, mas a noiva, que o esperava no carro, não voltou a vê-lo deste então e não existem imagens que provem a sua saída.
Khashoggi já tinha ido ao consulado alguns dias antes, mas foi lá informado de que teria de regressar na terça-feira seguinte, às 13h30 (hora local), para recolher o documento que tinha solicitado.
De acordo com o jornal Sabah, as forças de segurança turcas revelaram que 15 homens sauditas chegaram ao aeroporto de Istanbul a 2 de outubro, dia em que o jornalista desapareceu, tendo ido nessa tarde ao consulado. Partiram do país no mesmo dia, todos em horários diferentes.
O jornal revela ainda que todos os homens tinham alojamento reservado nos hotéis Wyndham e Movenpick, que se situam na mesma área que o consulado da Arábia Saudita. Ambos os hotéis recusaram prestar declarações sobre o assunto.
Nove desses homens terão comprado malas de viagem ao chegar a Istambul, mas não as levaram de volta ao sair do país.
O Presidente da Turquia, Recep Erdogan, já exigiu que o consulado da Arábia Saudita em Istambul forneça provas concretas de que o jornalista efetivamente saiu do edifício. Erdogan contou que as autoridades estão a examinar filmagens do local e registos do aeroporto como parte da investigação.
O jornalista era um forte crítico do Governo saudita e, para evitar ser detido, partiu em 2017 para o exílio nos Estados Unidos, tornando-se colunista do diário norte-americano The Washington Post.
Operação complexa
De acordo com o diário norte-americano The New York Times, altos funcionários das forças de segurança turcas chegaram à conclusão de que Khashoggi foi assassinado dentro do consulado e que a ordem foi dada por membros da realeza saudita.
Os funcionários revelaram que a vítima foi morta no espaço de duas horas, numa operação rápida e complexa executada por uma equipa de agentes sauditas que, alegadamente, desmembraram o corpo com uma serra elétrica.Na Turquia prosseguem as manifestações para descobrir o paradeiro de Khashoggi.
Apesar de não terem revelado como chegaram a estas conclusões de modo a protegerem as suas fontes, os funcionários adiantaram também que foram identificadas as identidades e cargos dos 15 sauditas suspeitos. Um deles, dizem, é perito em autópsias e deverá ter ajudado a desmembrar o corpo.
As autoridades sauditas já negaram as acusações e insistiram que o jornalista saiu do consulado pouco tempo depois de lá ter chegado.
O príncipe Khalid bin Salman, embaixador do país nos Estados Unidos, disse considerar o jornalista um amigo e definiu como “absolutamente falsas” as suspeitas de homicídio por parte de entidades sauditas. Khashoggi era opositor das políticas da realeza, tendo chegado a criticar o apoio do príncipe Mohamed bin Salman a Donald Trump.
Num artigo de opinião
de Yasin Aktay, o escritor turco considera que se deve esperar pelos resultados da
investigação e por declarações oficiais para que se possa ter a certeza do que aconteceu ao jornalista. "Quanto mais soubermos, menos especulamos", refere.
Estados Unidos sabiam?De acordo com o Washington Post, os serviços de inteligência dos Estados Unidos sabiam do plano de captura do jornalista. Alegadamente estes serviços intercetaram comunicações de entidades sauditas enquanto estas discutiam uma estratégia para trazer Khashoggi de volta ao país.
O diário norte-americano avança ainda que as conversas ouvidas não deixam claro se os sauditas pretendiam apenas interrogar Khashoggi ou se a intenção era assassiná-lo. Também não se sabe se as forças de inteligência dos EUA alertaram o jornalista para o perigo que poderia correr.
O ministro turco dos Negócios Estrangeiros permitiu, na terça-feira, que as autoridades sauditas façam uma inspeção ao consulado. Serão dois os procuradores a levar a cabo os “procedimentos legais” no edifício.
“Devastador” para relações económicas
O vice-presidente norte-americano, Mike Pence, anunciou esta quarta-feira que os Estados Unidos estão dispostos a ajudar, de qualquer forma possível, na investigação do desaparecimento de Khashoggi. Admitiu ainda a hipótese de enviar técnicos do FBI ao consulado saudita na Turquia.
Na terça-feira, Donald Trump disse estar preocupado com o caso e partilhou a sua intenção de contactar as autoridades sauditas para discutir o assunto. Hatice Cengiz, noiva do jornalista, pediu no mesmo dia a Trump que ajude a esclarecer o que aconteceu.
O senador do Estado norte-americano da Carolina do Sul, Lindsey Graham, expressa a mesma opinião que o Presidente, considerando “imperativo” que a Arábia Saudita dê respostas claras sobre o sucedido.
We agree if there was any truth to the allegations of wrongdoing by the Saudi government it would be devastating to the US-Saudi relationship and there will be a heavy price to be paid — economically and otherwise.
— Lindsey Graham (@LindseyGrahamSC) 8 de outubro de 2018
“Se houver alguma verdade nas alegadas ações do Governo Saudita, isso será devastador para as relações entre o país e os Estados Unidos e haverá um elevado preço a pagar – económico e não só”, declarou Graham através do Twitter.
“Os valores do nosso país devem e precisam de ser um pilar das nossas políticas externas com aliados”, acrescentou.