As dúvidas em torno das motivações íntimas para os alvos dos bombardeamentos sobre o norte do Iraque estão a lançar o Governo turco numa nova linha de combate: a diplomacia mediática.
As mensagens surgem não apenas dos gabinetes governamentais como pela mão do próprio primeiro-ministro turco, que explanou as razões do seu Governo num extenso artigo de opinião publicado no jornal norte-americano The Washington Post.
Ahmet Davutoglu puxa dos galões de historiador e diplomata para justificar a justeza da estratégia de Ancara no sul do seu território contra os separatistas do PKK - que não deixa de recordar ser considerado um grupo terrorista pela comunidade internacional e pelos Estados Unidos, que acabam de deslocar para solo turco um contingente que deverá assumir a chefia do ataque aos núcleos do Estado Estado Islâmico: Washington enviou caças F-16 e três centenas de militares para Incirlik.
"Viver numa região tão volátil com é a nossa, obriga-nos a perceber que nem todos os problemas podem ser resolvidos através da diplomacia. Assim com há o bem, há também o mal. E, quando necessário, este deve ser confrontado".
Num primeiro passo, o governante lança-se contra o regime de Bashar al-Assad, acusando o Presidente sírio de atacar o seu próprio povo - inclusive com meios não convencionais que são as armas químicas -, para logo apontar o dedo ao PKK, que diz estar a aproveitar-se do caos regional para reavivar as suas células mais violentas.
Na segunda-feira, foram várias as acções protagonizadas por grupos infiltrados na Turquia: disparos contra o consulado dos Estados Unidos em Istambul, uma explosão junto a uma esquadra na mesma cidade e um ataque à bomba na província de Sirnak, sobre a linha de fronteira com o Iraque e a Síria: a explosão de uma bomba numa estrada de Silopi, no sudeste da Turquia, matou quatro polícias.
Este atentado teve lugar poucas horas após outros dois ataques em Istambul, com um saldo de pelo menos quatro mortos.
Fátima Marques Faria, Miguel Cervan - RTP (10 de agosto)
Ainda na província de Sirnak, em Beytussebap, foi disparado um rocket contra um helicóptero de transporte de tropas matou um soldado turco.
Num ataque direto aos interesses norte-americanos em Istambul, duas mulheres armadas abriram fogo contra o consulado dos Estados Unidos. O ataque seria contudo reivindicado pela Frente/ Exército Revolucionário de Libertação do Povo, uma organização turca de extrema-esquerda que encara os Estados Unidos como "um inimigo dos povos do Médio Oriente".
Pouco antes, em Sultanbeyli, na margem asiática do Bósforo, um bombista suicida fizera explodir uma viatura armadilhada diante uma esquadra da polícia. Ficaram feridas dez pessoas, entre as quais três agentes.
"Caos e anarquia"
"Em resumo - avisou o primeiro-ministro turco - parece que uma era de caos e anarquia está a nascer a Sul. Mas como sabemos da História, há sempre escuridão antes do amanhecer. E nós não temos opções para pôr termo a esta ameaça à ordem".
Davutoglu dá, no entanto, a ideia de procurar legitimar as ditas opções de Ancara na mesa do xadrez diplomático: "Construída em cima de centenas de anos da arte de governar, a Turquia sempre colocou a diplomacia no centro das suas relações internacionais. Foi esta experiência que permitiu à jovem república turca transformar velhos inimigos em novas amizades e alianças".
As linhas de Davutoglu surgem numa altura em que o PKK sofre sucessivos bombardeamentos nas suas posições no norte do Iraque, ataques lançados pela aviação turca, quando se esperava que a Força Aérea de Ancara se ocupasse das posições do Estado Islâmico.
De acordo com contagens que surgem na imprensa, em dezenas de raids da aviação turca, só três visaram posições dos extremistas islâmicos.
Neste ponto, Davutoglu assegura que, como membro da NATO, a Turquia cumpre escrupulosamente os protocolos da Aliança Atlântica. E invoca aqui o acordo com os Estados Unidos para o seu plano de confronto ao extremismo e construção de um cenário de estabilidade.
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