Turquia injeta seis mil milhões de dólares para travar queda da lira

por Raquel Ramalho Lopes - RTP
O Governo turco anunciou um conjunto de medidas para tentar estancar a crise económica Murad Sezer - Reuters

O Banco Central da Turquia vai injetar seis mil milhões de dólares no sistema financeiro do país para travar a queda da lira turca e garantir a liquidez dos bancos. A Turquia enfrenta uma crise por causa da queda acentuada da moeda nacional nos mercados internacionais. Para o Presidente Erdogan, este é uma “conspiração política” contra a Turquia.

A Turquia está a registar fortes perdas face ao dólar nos mercados internacionais desde sexta-feira, na sequência do anúncio do Presidente dos Estados Unidos da duplicação das taxas aduaneiras do alumínio e do aço turcos.

O Presidente os Estados Unidos anunciou na rede social que a importação de alumínio da Turquia será taxada ao 20 por cento, enquanto o aço será a 50 por cento. Os aumentos entram em vigor a partir desta segunda-feira. Donald Trump termina a mensagem dizendo que as relações dos Estados Unidos com a Turquia “não estão bem neste momento”.


Na sequência do anúncio, a lira caiu 16 por cento ainda na sexta-feira. Na manhã desta segunda-feira, a lira turca chegou a recuar 13,5 por cento face ao dólar.

O euro não escapou a esta onda e, a meio da manhã, atingiu o nível mais baixo do último ano, 1.432 dólares. O nervosismo dos mercados explica-se pelo facto de haver bancos na Europa expostos aos bancos turcos, embora os analistas afastem um cenário de crise. 

A bolsa de Tóquio fechou em queda de 1,98 por cento, depois de ter estado a lira turca a negociar-se abaixo dos 6,65 por dólar. A lira turca perdeu este ano mais de 40 por cento do valor face ao dólar.
“Conspiração política”
Em resposta ao tweet de Trump, o Presidente turco escreveu um artigo no jornal The New York Times em que enumera as situações em que, nos últimos 60 anos, Turquia e Estados Unidos estiveram lado a lado em desafios comuns: Guerra Fria, Coreia, crise dos mísseis de Cuba e a missão da NATO no Afeganistão.

Erdogan lamentou ainda o apoio às milícias curdas na Síria, braço armado do Partido da União Democrata, e que o Presidente turco diz serem o ramo sírio do PKK a quem atribui responsabilidade pela morte de dezenas de milhares de turcos desde 1984.

Os Estados Unidos têm em Inçirlik, no Sul da Turquia, uma importante base militar que é utilizada como centro operacional o grupo terrorista Estado Islâmico.

Em causa está também a colocação em regime de prisão domiciliária do pastor norte-americano Andrew Brunson, julgado por “terrorismo” e “espionagem”, depois de um ano e meio de detenção na Turquia.

Os Estados Unidos exigem a libertação imediata do pastor, enquanto a Turquia apela à extradição do pregador Fethullah Gulen, a viver há 20 anos nos Estados Unidos, e suspeito em Ancara de ter organizado o golpe que visava destituir Recep Tayyip Erdogan a 20 de julho de 2016. No golpe morreram 251 pessoas, incluindo o coordenador das campanhas eleitorais de Erdogan e o seu filho.

Após enumerar as situações que deixaram Ancara desgostosa com os Estados Unidos, o Presidente turco argumenta que “Washington deve desistir da noção errada de que a nossa relação pode ser assimétrica e aceitar o facto de que a Turquia tem alternativas”.

Uma mensagem que Erdogan repetiu domingo, ao anunciar a intenção de procurar “novos mercados, novos parceiros e novos e aliados”. Num encontro partidário em Trabzon, junto ao Mar Negro, no Nordeste do país, não hesitou em dizer que o objetivo da operação (aumento das tarifas do aço e alumínio) é obter a rendição da Turquia em todos os domínios, desde as finanças à política. Estamos diante de uma conspiração política. Com a ajuda de Deus vamos superar isso”.

“Se eles têm o dólar, nós temos Alá”, havia dito Erdogan que pediu calma aos turcos, por causa da queda de lira. Erdogan classificou o comportamento americano de “vergonhoso. Trocam o vosso parceiro na NATO por um padre”, referiu.

"Só podemos dizer adeus a quem decida sacrificar um parceiro estratégico e uma aliança de meio século com um país de 81 milhões de pessoas para salvaguardar as relações com grupos terroristas", concluiu.

Esta segunda-feira, o ministro turco dos Negócios Estrangeiros garantiu que Ancara fez “o suficiente para reparar os laços com os Estados Unidos”. Segundo Mevlut Cavusoglu, foram os EUA quem violou a aliança em relação a questões fundamentais de segurança.
Seis mil milhões de dólares para combater a crise
O Governo turco anunciou um conjunto de medidas para tentar estancar a crise económica. O porta-voz do presidente turco escreve no Twitter que a economia turca é forte e ninguém “deveria prestar atenção a notícias e movimentos especulativos”.


O Ministério das Finanças, o Banco Central, a procuradoria da República, a comissão dos mercados mobiliários entre outras entidades estão a tomar iniciativas para alcançar a estabilidade financeira.

O Ministério Público anunciou ter aberto uma investigação a suspeitos de estarem envolvidos em ações que ameaçaram a segurança económica do país, avança a CNN Turquia. O procurador disse que qualquer notícia publicada ou emitida em órgãos de comunicação social, bem como nas redes sociais que tenha contribuído para o “ataque económico” à Turquia será alvo de medidas legais.

De acordo com o ministro do Interior, foram detetadas publicações em 346 contas nas redes sociais sobre o enfraquecimento da lira “de uma forma provocatória” desde 7 de agosto e confirmou o início de um processo legal.

O Ministério do Interior admitiu também que estão a ser tomadas medidas nas redes sociais relativos às publicações financeiras que criem uma “perceção negativa” na economia.

O banco central garante que vai fornecer toda a liquidez necessária aos bancos, reduzindo para isso os limites de reservas obrigatórias.

"Com esta medida vão injetar-se no sistema financeiro aproximadamente 10 mil milhões de liras (seis mil milhões de dólares norte-americanos) e três mil milhões de dólares em liquidez", assinalou a entidade no comunicado difundido através da página oficial na Internet.

O mecanismo de opção de reserva, criado em 2011, determina que a percentagem de reservas financeiras de um banco turco pode fixar-se em divisas estrangeiras ou em ouro e que a restante parte deve estar em liras.

O Banco Central espera que a liquidez dos bancos aumente 3.800 milhões de liras (564 milhões de dólares) ao conseguirem maior flexibilidade na gestão de garantias bancárias nas transações da divisa turca.

Os limites dos depósitos de garantias para as transações turcas aumentaram de 8.200 para 22 mil milhões de dólares.

Já a Agência de Regulação e Supervisão Bancária vai limitar as transações dos bancos turcos aos investidores estrangeiros (50 por cento do capital) e que a taxa câmbio vai passar a ser calculada diariamente.
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